Você já reparou como estamos cada vez mais cercados por dores invisíveis?
Vivemos em um tempo onde o sofrimento psíquico está por toda parte, mas nem sempre conseguimos reconhecê-lo. Ele vem disfarçado. Vem naquele amigo que diz “estou bem” com um sorriso automático. Vem naquela colega que se isola, dizendo que ama estar sozinha, quando na verdade está tentando sobreviver à solidão. Vem no cansaço que sentimos todos os dias, mas que tentamos camuflar com agendas lotadas, reuniões e tarefas sem fim.
Será que estamos mesmo bem ou só aprendemos a parecer que estamos?
Nos acostumamos a não viver o presente. Enquanto tomamos café, já pensamos no próximo compromisso. Durante o exercício físico, calculamos o tempo para “não perder produtividade”. Até momentos que deveriam ser de cuidado, como meditar ou comer bem, acabam se tornando tarefas para melhorar a performance.
Quando foi que o autocuidado virou mais uma exigência e não um acolhimento?
É preciso atenção para que esse sofrimento silencioso não seja interpretado como falha. Porque numa cultura que valoriza eficiência a todo custo, sentir cansaço, tristeza ou confusão pode parecer fraqueza. Mas sentir é parte da vida, não um erro a ser consertado.
Silenciamos nossas dores em nome de uma positividade forçada. Respondemos “tudo certo” mesmo quando está tudo bagunçado por dentro. Evitamos pedir ajuda para não parecer frágeis. Mas será que isso nos fortalece ou nos isola ainda mais?
Quantas vezes você se calou quando queria gritar por socorro?
E essa lógica da performance não se limita à vida pessoal. Está presente também nas empresas, nas lideranças, nas equipes. Em nome de resultados, vamos sufocando o sentir. Lideranças sem consciência podem reforçar esse ciclo: cobrando produtividade sem perceber o que isso custa emocionalmente às pessoas.
Como líderes de equipes ou de nós mesmos, estamos promovendo saúde?
Uma liderança consciente entende que pessoas não são recursos infinitos. Sabe que escutar é tão importante quanto entregar. Cria espaço para pausas, para falas verdadeiras, para escutar o que o cansaço e a ansiedade estão dizendo. A verdadeira liderança não é sobre controle, é sobre presença. Sobre criar ambientes onde o humano seja respeitado, e não moldado para funcionar como máquina.
Estamos escutando o nosso corpo ou só tentando calá-lo?
A automedicação virou atalho. Remédio para dormir, para acordar, para não sentir. Tornamos a dor mais tolerável, mas também mais invisível. E quando o sintoma é silenciado, perdemos a chance de compreender sua origem.
Precisamos cultivar espaços de escuta. Escutar o outro, escutar a nós mesmos. Com tempo, com afeto, com curiosidade. Sustentar o silêncio, a dúvida, a dor. Criar ambientes pessoais e profissionais, onde o sofrimento possa ser dito sem pressa, sem julgamento.
Você tem esse espaço? Você oferece esse espaço para alguém? Como líder, você ouve ou apenas cobra?
Escutar é cuidar. É um gesto de liderança interior. É abrir espaço para reorganizar o que sentimos. É lembrar que não somos máquinas de resultados, somos seres humanos tentando dar conta da complexidade da vida. E sentir, apesar de desconfortável às vezes, é o que nos conecta, nos humaniza, nos transforma.
Uma resposta
Texto didático sobre nossos dias atuais. Precisamos estar atentos às nossas necessidades e olhar com compaixão para as situações que requerem maior debruçar. Não devemos normalizar esse momento de crise humanitária.