Fábio Muniz: O que você tem amealhado nesta existência?

Bom dia a todos vocês!

Enquanto eu penso na quantidade de lembranças e memórias que vieram na minha mente esta semana enquanto eu dirigia pelas avenidas largas de Tampa,  cruzava extraordinárias pontes que conectavam Saint Petersburg com outras cidades, me hospedava com familiares e queridos amigos em Lutz, e visitava cafés e praias que foram parte de um capítulo na minha existência que se chama Flórida…

Eu pensava naquilo que tem mais valor nesta peregrinação que toma lugar debaixo do sol.

Certamente há muito mais entre o céu e a terra nesta existência…

Certamente há muito mais entre o berço e a sepultura.

Ora, eu te pergunto o que você tem amealhado nesta existência?

Isto posto, eu te convido a pensar na quantidade de pessoas que você conhece. Qual foi a última vez que você ligou para o teu pai que já está idoso? Qual foi a última vez que você brincou com a tua filha? Quando foi que você jogou bola com o teu filho? Quando foi a última vez que você fez um pique-nique no parque? Antes do COVID, você se lembra a última vez que você foi no cinema com a tua esposa?

E mais ainda: quando você pensou, refletiu e falou de coisas da vida, e valores eternos…

Eu toda hora vejo gente perdendo centenas de oportunidades de amealhar na existência o maior patrimônio que alguém pode ter: a relação sincera e fraternal com o outro, a relação carinhosa e afetuosa com aqueles que tem a ver com a minha história, a relação honesta e desinteressada de dois amigos ou amigas que se encontram pelo prazer de estar juntos, tomar um café e curtir uma boa sobremesa no final da tarde.

Eu dizia no início do meu texto que passei a semana inteira na Flórida. Na realidade, percebi que no final do meu 5º dia eu tinha falado 5 vezes! Eu percebi que no final do meu 5º dia, algumas destas palestras e conversas tinham durado de 3 até 5 horas! Eu percebi que conquanto eu estivesse produzindo, palestrando, respondendo perguntas, eu deveria ter um tempo para mim mesmo e um tempo com aqueles que eu quero bem e estão mais próximos de mim.

Aliás, você já se deu conta que a Internet, Facebook, e-mails e WhatsApp entraram na nossa vida para nos ajudar, economizar tempo, facilitar o contato com gente querida que está longe, e sobretudo, trazer o mundo para bem pertinho de nós independentemente se estou em São Paulo, New York, Barcelona ou Paris…

De modo que toda esta descrição acima é correta. No entanto, o mesmo bisturi que ajuda o médico no procedimento cirúrgico, pode ser usado como arma para matar…

Dito isto, aquilo que deveria ser uma ferramenta para conectar-nos uns com os outros, tem se tornado um intruso que nos interrompe constantemente e trabalha contra o seu principal propósito, pois frequentemente ela nos isola e ao invés de lançar-nos para a esfera da comunidade, ela frequentemente nos tira a paz, o silêncio, a meditação…

O que é mais importante do que gente? O que é mais importante do que sentir o abraço humano? O que é mais importante do que estender a mão para ajudar o próximo ou ser ajudado por alguém? O que é mais importante do que fazer uma viagem para dentro do ser e uma auto-análise para se tornar um melhor pai, uma melhor amiga, um filho mais dedicado, um homem de negócios mais bondoso e justo.

A minha alma se encheu de silêncio e serenidade quando vi o condomínio que a minha esposa e eu morávamos na Flórida antes de deixarmos os nossos trabalhos e abraçarmos os projetos sociais nos quais temos nos dedicado servindo como pontes culturais para uma ONG.

Aliás, eu ainda me lembro quando um amigo veio me visitar e viu a quadra de tênis, a piscina do condomínio, a sala de ginástica, o jacuzzi e as centenas de parques ao nosso redor tanto quanto uma natureza cheia de pássaros, tartarugas e gaivotas que nos cercavam diariamente, e me perguntava, “Você vai deixar tudo isto para viver uma vida que não te dará jamais a garantia que um dia você terá tudo isto de volta?”

O fato é que o maior patrimônio desta existência tem a ver com você e comigo, com a alegria de partir o pão e dormir com singeleza, tem a ver com o encontro e o reencontro de gente que talvez você não via e falava há anos. Tem a ver com a gratidão de saber que a existência é um sopro e o dia que devo viver se chama hoje.

Até porque Jesus nos advertiu deste risco e equívoco latente contando-nos uma parábola que tinha como protagonista um indivíduo egoísta que amealhou, amealhou, guardou e guardou pensando que poderia projetar o seu futuro na segurança das suas muitas casas de aluguel, investimentos nas bolsas de valores, nos dólares e ouro escondidos nos diversos cofres espalhados pela casa, nas moedas eletrônicas que supostamente a ferrugem não poderia corroer….

Guardar, guardar e guardar para o amanhã sem pensar no hoje e sem pensar em gente que está bem do meu lado e freqüentemente debaixo do mesmo teto no qual eu habito e quer um abraço e não dinheiro, quer um afeto e não grandes conquistas de sucesso profissional…

Louco, louco….

Esta noite pedirão a tua alma, e o que farás com tudo isto, se assim partires desta existência. Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Louco, louco! Tudo isto que você amealhou, ficará para quem?!

Ora, você me pergunta? Fábio, o que isto tudo tem a ver comigo?

Pois bem, eu te convido a viver o momento chamado hoje e agora. Eu te convido a amealhar as riquezas que são riquezas eternas e não efêmeras e passageiras. Eu te convido a começar este dia ligando para algum amigo que você não conversa há anos. Eu te convido a fazer uma pausa durante esta semana e brincar com o teu filho que está esperando você e já não te chama mais para brincar porque você sempre diz que está ocupado. Eu te convido a planejar um jantar com a tua esposa e desligar o celular enquanto você pratica o maior e melhor de todos os presentes que alguém pode oferecer: o presente de estar presente!

Não há nada mais rico e valoroso do que se reunir com gente que a gente ama e quer bem. Enquanto a Johnna cuidou da Sophia e Júlia em Lyon, entre uma palestra e reunião, eu fazia de tudo para arrumar um momento para estar com a sua família.

 

Lugares como Indian Rock beach e Saint Petersburg me fazem lembrar do nascimento da minha filha Sophia e muitas horas de conversa, caminhada na praia e sonhos de projetos que se realizaram no Japão e hoje se tornaram uma realidade em Lyon.

 

Muita gente querida. Muita gente que ao longo dos anos temos amealhado o carinho, a confiança, e sobretudo a amizade sincera.

 

Pois bem, com a perda da minha mala, vivi algo único e inusitado: falar numa das igrejas mais tradicionais e “chiques” de Tampa vestindo shorts e camiseta:-)

 

Dirigir ao redor do bairro e condomínio onde moramos por 4 anos em Clearwater me fez lembrar das muitas conversas que tive com a Johnna antes de deixar os nossos trabalhos e embarcar numa viagem de projetos sociais, culturais e de causa humanitária

Um beijo grande a todos vocês.

Até a próxima.

Fábio Muniz

Aeroporto de Bruxelas, Bélgica

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Arquivo pessoal do Colunista

2 respostas

  1. Rever amigos ultimamente tem sido uma coisa difícil de fazer, por isso as oportunidades não podem passar. Temos que agarrá-las. Isso é muito bom, e esperamos em Deus que possamos nos aproximar novamente das pessoas queridas.
    Um grande abraço, um bom retorno, siga escrevendo e nos inspirando….

  2. Fábio ,o que eu amealhei na minha existência foi educação sua e de sua irmã. Principalmente no caminho do SENHOR. Matheus 6:20 mas ajuntai para vós outros tesouros no céu ,onde traça nem ferrugem corrói,E onde ladrões não escavam nem roubam.

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