Fábio Muniz: Um texto em memória do meu amigo: Renato

O meu querido amigo Renato partiu.

Ele transcendeu. Ele foi abraçado pelo Eterno.

Ele foi um guerreiro. Foram mais ou menos 18 meses de hospitalização devido ao Covid-19. Ele entrou no hospital, e nunca mais voltou para a sua casinha.

Dos 18 meses, 9 meses foram de coma profundo.

Durante este período de coma, eu gravei uma mensagem de quase 30 minutos onde pertinho do seu ouvido ele ouvia: eram preces, eram conversas com ele, eram leituras dos salmos…

Até que ele acordou. Acordou sem poder falar. Acordou sem poder andar.

No entanto, eu me lembro como se fosse hoje, a agradável surpresa de ter recebido um texto no WhatsApp mais ou menos assim: “xcdfr”

Era o sinal da vida. Era um recomeço.

Devido o fuso horário, eu freqüentemente driblava a minha agenda, e ligava para ele.

Eu ligava, ele não falava. Eu falava, e ele me ouvia.

Eu lia um salmo, ele balançava a cabeça.

Eu orava com ele, e as lágrimas nos visitavam.

Foram assim por uns dois meses.

Até que ele voltou a me escrever. Até que ele voltou a falar.

No entanto, ele jamais voltou a andar.

Ele não deixava de ler as minhas colunas. Todas as segundas-feiras ele estava lá!

No mínimo uma vez por semana, trocávamos mensagens no WhatsApp.

Por algum motivo as minhas últimas duas colunas não estavam sendo visualizadas no Japão. Ele me escreveu. Ele me perguntou porque não conseguia lê-las.

Depois que ele faleceu, a sua filhinha querida de Londres me disse que ele leu tudo, pois ela mesma fez alguns “screen shots” da Inglaterra e enviou os meus dois últimos textos para o seu WhatsApp.

A nossa última conversa por vídeo foi 3 dias antes dele falecer. Ele me cumprimentou pelo meu aniversário. Ele me abençoou com todo carinho que tinha por mim. No entanto, assim que cheguei em Chicago, recebi a notícia que ele tinha partido.

Nos conhecemos em Fujisawa há 7 anos aproximadamente.

No Starbucks de Shonandai, no Japão, eu e o Renato nos encontramos pela primeira vez.

Enquanto eu fazia da Starbucks, em Shonandai, o meu escritório todas as manhãs, o Renato antes de ir trabalhar, sentava na mesa onde eu estava, e começávamos a conversar…

Conversávamos sobre a política internacional, sobre a política brasileira, sobre o nosso queridíssimo Palestra Itália. Conversávamos sobre as nossas famílias e conexões com a cultura italiana. Falávamos de espiritualidade, dos evangelhos de Jesus. Falávamos sobre as diversas religiões, mas sobretudo, do amor ao próximo, da generosidade, e da simplicidade de viver uma vida com devoção, paixão e arte.

Eu me lembro que muitas vezes ele me dizia: “Já estou ficando atrasado, tenho que ir trabalhar…”

Ele era bom de papo. Quem me conhece, sabe também que eu gosto de um bom papo também. Falávamos, falávamos, e falávamos…

E jamais tinha fim os nossos papos. Sempre ficava para terminar o assunto, na manhã seguinte: no mesmo lugar, no mesmo horário.

Foi ele quem me ensinou a tomar um espresso macchiato. Desde então, não há uma manhã que eu não tome um bom e forte espresso macchiato: eu posso estar na França, nos Estados Unidos, na Islândia, na Inglaterra, no Brasil, na Grécia, ou em qualquer outra parte do mundo, o meu carinho e lembrança se remetem ao Renato assim que digo ao barista: “Um espresso macchiato, por favor!”

Ora, a vida e a morte são realidades irremediáveis e inegáveis. Não podemos fugir deste momento onde todos nós transcenderemos. Uns mais jovens, outros nem tanto. É o ciclo da existência. É um ciclo imutável.

A pergunta que sempre faço é: Como eu e você estamos vivendo esta existência? Quais são as escolhas que eu e você temos feito entre o céu e a terra? Quais são as motivações que nos levam a viver do berço à sepultura?

Dito isto, eu te pergunto: As nossas escolhas tem a ver com o amor ou a ganância? As nossas escolhas tem a ver com a generosidade ou o egoísmo? As nossas escolhas tem a ver com o fato de amealharmos um patrimônio intangível e eterno? ou um patrimônio temporário, momentâneo, passageiro onde a traça e a ferrugem corroem.

Já não terei mais as mensagens do meu querido amigo às segundas-feiras. Já não tomaremos mais os nossos espressos macchiatos. Já não conversaremos mais do nosso querido Palestra Itália. Mas, eu sei que ele amealhou um tesouro eterno repleto de amor e bondade. Ele viveu crescendo como ser humano todos os dias da sua jornada no chão desta terra. Ele viveu sendo pai, avô, companheiro, esposo, amigo. Ele viveu cheio de luz, bondade e generosidade.

Eu deixo aqui o meu carinho e gratidão por tê-lo conhecido.

Eu deixo aqui a minha homenagem ao meu querido amigo.

23/07/1956 – 05/06/2022

Eu deixo aqui os meus sentimentos aos familiares, e sobretudo, a sua querida filha que se encontra no Reino Unido, tanto quanto ficam as minhas condolências a sua companheira fiel de jornada que se encontra no Japão. Eu sei que ela perseverou, e lutou com o meu querido amigo, lado a lado, até o último dia da sua existência…

Eu deixo aqui o meu silêncio e a minha prece.

Fábio Muniz

Chicago

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Imagem 01: JurisBrasil

Imagem 02 e 03: Arquivo pessoal do Colunista

5 respostas

  1. Poxa, sinto muito Fabio! Ficam as boas lembrancas desse seu querido amigo! Para se pensar mesmo, “Como estamos vivendo” quais tem sido nossos anseios! Obrigada pelo texto. Deus console os coracoes!

  2. Um HERÓI..combati um bom combate…completei a carreira ,guardei a fé. A coroa da justiça divina está guardada para tds nós q combater crendo q Deus existe.
    Meus sentimentos a família.

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