Uma jornada entre Frades Franciscanos em Assis

Bom dia meus queridos amigos,

Eu estou escrevendo do ônibus enquanto deixamos Assis e partimos em direção de Florença onde pegarei o meu avião para Lyon. Nestes últimos três dias estive em um convento de frades franciscanos. E talvez você me pergunte: “Fábio, como você chegou a fazer contato com estes frades se tal convento não é um lugar aberto ao público?”

Pois bem, a resposta tem a ver com o fato de conhecer uma pastora luterana finlandesa que faz parte do grupo de acompanhadores espirituais da Europa no qual eu também faço parte. Esta garota viveu muitos anos em Assis e fez dezenas de projetos entre os luteranos e franciscanos. Foi assim que cheguei até este grupo. Um grupo de onze frades que vivem em comunidade e fraternidade no centro da linda e mágica cidade medieval de Assis.

Uma alegria cozinhar com o meu amigo frade Emanuele e servir aos irmãos Franciscanos.

Pouca gente que eu conheço olha a história a partir da premissa básica e óbvia do tempo e espaço. De modo que para entender a espiritualidade de Francisco de Assis o pressuposto parte do princípio que ele é um sujeito que viveu entre os séculos XII e XIII dentro de um contexto europeu extremamente delicado devido às guerras internas entre Perugia e Assis, e desenvolveu a sua espiritualidade em meio as cruzadas horrorosas entre cristãos e muçulmanos. E mais ainda, ele viveu dentro de uma arquitetura social onde existia uma ignorância absoluta da população do ponto de vista do nível gigantesco de analfabetismo tanto quanto do acesso às Escrituras Sagradas.

Isto posto, eu e você não podemos nos esquecer que Francisco era filho de uma era que ainda estava sendo pautada pela não existência da prensa móvel que é um advento do século XV com Gutenberg na Alemanha e sem a presença de milhares de traduções Bíblicas que hoje existem bastando fazer um clique no Iphone.

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E certamente sem Lutero, sem Calvino, sem Tyndale, sem João Wycliffe e tampouco sem contar com a versão King James. Nada disto!

E mais ainda, Francisco tentava refletir e viver o seu voto de pobreza e humildade em meio aos milhares de cardinais que exibiam uma vida cheia de regalias, bispos que tinham uma lista infinita de privilégios e bem diante dos seus olhos observava uma corrupção inegável da igreja institucionalizada tanto quanto do poder político e hierárquico acachapante que faziam deste contexto social, político, econômico e religioso um quadro extremamente complexo.

Ora, sem me estender muito, eu sei que você já conseguiu se situar no tempo e espaço com este conhecimento mínimo e básico que constroem um pano de fundo histórico.

Muitos de vocês sabem que eu sou cristão e venho de uma linha protestante. Portanto, você pode me perguntar, “Fábio o que você pode aprender com uma viagem e experiência desta natureza?”

Convento Franciscano e a mágica cidade medieval de Assis

Em primeiro lugar, eu acho fascinante ver a capacidade que Francisco tinha de conversar com líderes muçulmanos em pleno fervor das cruzadas. O que mais me chamou a atenção na basílica não foram as relíquias das suas supostas vestes e nem mesmo os extraordinários afrescos de Giotto. Mas, foi exatamente o presente que ele recebera do sultão do Egito enquanto estabelecera um diálogo inter-religioso e de mútuo respeito durante o fervor das guerras e cruzadas entre cristãos e muçulmanos.

Em segundo lugar, eu gosto de ler que apesar de Francisco ter entendido que o seu chamado a princípio era para reconstruir a Igreja de Cristo e imediatamente começa reconstruindo igrejas prédios, igrejas de madeira, igrejas de cimentos e tijolos. Ele percebeu ao longo da sua jornada, que o seu chamado estava pra além de pau, madeira, cimento, tijolos e pedra. O seu chamado tinha a ver com gente e com uma espiritualidade que deveria estar para além das paredes institucionais.

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Segundo a tradição o crucifixo, um ícone Bizantino, do século XII falou a Francisco através de uma experiência mística: “Francisco, vai e repara a minha casa, que, como vês, está toda em ruínas”.

Isto posto, o que você pode aprender com isto dentro do teu contexto e horizonte imediato?

Eu acho que sinceramente vivendo no mundo de hoje tão dramaticamente polarizado, eu e você podemos aprender a praticar a tolerância. Eu e você temos infinitas possibilidades de existir e praticar o respeito mútuo apesar das nossas enormes diferenças com gente que encontramos no trabalho, com gente que encontramos na rua, com gente que encontramos dentro de um shopping, dentro da farmácia, dentro de casa ou na fila do banco. Eu digo isto a partir de mim mesmo e do grande laboratório que os nossos projetos em Lyon se tornaram, pois, eu e a Johnna recebemos dezenas de muçulmanos, agnósticos, ateus, cristãos de tradições as mais diversas e variadas tanto quanto gente de direita, gente de esquerda, gente que tem a política voltada para o centro, todos eles passam pelos nossos eventos e atividades.

Assis, localizada na região da Úmbria, está situada a uma altitude de mais de 400 metros acima do nível do mar.

E mais ainda, a partir da minha própria experiência nestes últimos dias com os frades sendo eu um protestante, eu escolhi com toda a minha consciência e respeito conversar sobre tudo aquilo que nos une ao invés de escolher tudo aquilo que poderia nos separar.

Afinal de contas, em última análise eu aprendo todos os dias que devo chamar de irmão a quem Deus chama de filho. Pois bem, eu fico por aqui e desejo a cada um de vocês uma ótima semana!

Até a próxima.

Assis

 

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Imagens: Arquivo pessoal do colunista

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