Desde o uso da palavra “contenção”, as coisas no futebol estão cada vez mais estranhas. Antes o atleta, o de jogador futebol exercia sua arte no meio da semana e finais de semana incluindo participar de todos os torneios propostos pelo clube, nos Campeonatos Regionais e nos Torneios pelo país.
Com uma tabela, previamente agendada e determinada pelas Federações e pela CBF.
Eventualmente uma Taça em torneio estrangeiro, até uma Copa do Mundo.
Os Clubes defendendo suas cores e tradições, suas grandes marcas e feitos históricos disputavam com pompa e circunstância entre si pela Glória. E os atletas pelo seu nome em destaque, a valorização do passe, a melhor projeção, o melhor salário e o reconhecimento.

De tempos para cá, ouço com frequência a palavra “contenção”, as vezes até uma expressão composta de “contenção de carga”, o que na verdade, nada mais é que descansar um atleta, poupar um atleta, revezar física e mentalmente o jogador de um excesso de atividades por determinado tempo.
Não sei se temos mais jogos e tabelas mal formuladas, se temos atletas não preparados para essa incansável maratona, se os Clubes são mal administrados ou não suportam tamanha pressão, por consequência casos de corrupção, desvios de verbas e manchetes nos “jornais” policiais.
O que é fato, os clubes apresentam projetos fabulosos que no papel são encantadores e que fazem brilhar os olhos, mas descobriu-se que técnicos são descartáveis em 4 jogos ou menos, e os projetos estão associados à vencer….vencer e levantar taça, custe o que custar.
Esse é o caso do Vasco, que tenta uma rota segura e não tão atribulada, se é técnico, que seja técnico. Não um quebra galho, de Diretor Administrativo. Como cobrar, do Diretor uma função que desconhece?


Do Flamengo, que tem jogadores super galáticos, a preço de ouro, mas estão em fase de baixa?
Do Corinthians, que tem técnico novo, embora não seja novo no mercado, mas não tem tempo para treinar?
Como entender o Palmeiras que venceu? Mas não venceu de forma elástica, nem foi em tudo que se propôs…
O São Paulo, que não queria o Zubeldia, rebelde, mas que percebeu no técnico mais que ousadia!
Mama Mia! Esse futebol brasileiro, sem técnico!
Não sei quando foi que meu pai Dulcidio Wanderley Boschilia, apareceu na televisão da primeira vez, mas eu certamente estava lá de olhos grudados na TV colorida de preto e branco, um par de antenas e uma palha de aço, na ponta. Bem raiz!


No rádio foram muitas vezes que minha mãe pedia silêncio para todos nós ouvirmos….O juiz da partida Dulcidio Wanderley Boschilia….auxiliado por seus bandeirinhas….
Mas lembro bem, que eu entrava no vestiário e nem me dava conta que meu pai não estava sozinho, era pura emoção.
Meu pai nos finais de semana, nos feriados, nas viagens exaustivas pelo interior de São Paulo, nas chegadas e saídas de voos pelo Brasil do Oiapoque ao Chuí.
Conheço algumas pessoas que lembram dele, como o “Alemão” bravo, o juiz autoritário, o juiz que não levava desaforo para casa….cada um deve ter uma lembrança, assistida ou contada, ou até muitas das lendas que já contei por aqui.
Todos têm alguma forma de se lembrar do Dulcidio.
Mas eu sou um pouco privilegiada, ou até muito privilegiada, por que conheci o autoritário, por que um pai que ama, precisa indicar o caminho e ser incisivo.
Conheci o durão, que defendia suas ideias com veemência, mas também o pai generoso e repleto de amor, que se emocionava com pequenos gestos de saudade.
Conheci um homem apaixonado por futebol, desde pequeno, cujo sonho era ser um grande “guarda metas”
Conheci aquele que me ensinou a ler e escrever e hoje eu conto para todos vocês. …


Conheci o juiz que não levava desaforo para casa, até por que nossa casa era pequena para essas discussões, que ele deixava no campo…
Conheci o advogado, o jornalista, o policial, o pintor, o cantor de rock, o bailarino de Elvis, o “menino grande” que adorava ensinar as crianças na escola.
O generoso homem que gostava de verdade sem se importar com as opiniões alheias.
Conheci o homem que morreu lutando, contra um mal horrível e raro, e não fraquejou…Mas não quer dizer que não sofrido e muito….Muito mesmo.
Conheci um homem gigante e amoroso a quem devo a vida, os tantos médicos que fomos, os tantos tratamentos que nos aproximou muito.
Obrigada Dulcidio Wanderley Boschilia, para onde estiver….Em qual céu, se esconde?
Sou grata! Eternamente grata!