Dificilmente encontraremos alguém que more em residência e deixe sistematicamente a porta para a rua destrancada. O receio de assalto faz com que os moradores tenham esse cuidado básico para com a segurança familiar.
Realizei testes em 12 prédios de diversos bairros de São Paulo. A estratégia foi bastante simples: subir andar por andar, até o último, verificando se as portas dos apartamentos estavam trancadas ou não. Para não causar preocupação aos moradores, procurei virar as maçanetas de forma silenciosa. Após analisar todas as portas, descia pela escada de incêndio ao andar inferior e realizava novamente o mesmo procedimento até o andar térreo. Em uma prancheta anotava o número de portas destrancadas, ou seja, que permitiam o ingresso de qualquer pessoa na unidade.
O resultado foi surpreendente e deixou os síndicos e zeladores de cabelos em pé!
Em 20 a 37% dos apartamentos dos condomínios analisados, os moradores não tinham a hábito de virar a chave na fechadura para impedir a entrada de pessoas!
Nas palestras de conscientização em segurança para moradores e também nos treinamentos de capacitação para porteiros que ministro em condomínios, costumo exibir imagens de câmeras de segurança de prédios que foram invadidos. As imagens mostram funcionários de portaria permitindo, de forma culposa ou até mesmo dolosa, a entrada de pedestres e carros não autorizados. Em muitos sinistros, os marginais não usam de violência ou grave ameaça para realização de subtração de bens valiosos, apenas se dirigem aos apartamentos que se encontram vazios, ou seja, sem moradores e empregados domésticos.
Mas como esses bandidos ingressam nas unidades?
Observe o modus operandi que levantamos em diversos apartamentos invadidos:
1) Arrombamento de porta, principalmente em prédios com um apartamento por andar, pois dificulta sobremaneira que alguém ouça o momento em que o marginal força a porta visando danificar a fechadura e permitir a abertura;
2) Chave micha: alguns marginais possuem experiência em abertura de fechaduras com pequenos grampos ou até mesmo com equipamento introduzido no miolo da fechadura, chamado no jargão policial de “micha”. Geralmente, essa técnica é facilitada quando a porta contém fechadura frágil, com baixo nível de segurança;
3) Porta destrancada: nesses casos, a “oportunidade acaba fazendo a vítima”, ou seja, os criminosos passam a mexer nas maçanetas dos apartamentos até encontrar uma fechadura destrancada. Pasmem os leitores, mas alguns moradores e empregados domésticos quando deixam a unidade para realizar alguma atividade no condomínio ou saem para realizar compras não trancam a fechadura da porta.
Mas qual estratégia o síndico pode usar para minimizar esses riscos?
a) Realizar periodicamente palestras para moradores e funcionários versando sobre conscientização de segurança
b) Campanhas educativas sempre são bem vindas. Aconselho fixação nos elevadores e áreas comuns de cartazes e banners com dicas de segurança imprescindíveis
c) Envio de e-mail, SMS ou mensagem através do WhatsApp com conteúdo para aprimoramento da segurança do prédio. Toda vez que a administração descobrir nova modalidade de furto ou assalto, deve comunicar imediatamente todas as unidades
d) Panfletos com informações sobre segurança também podem ser elaborados e colocados nos para-brisas de todos os carros na garagem, embaixo das portas dos apartamentos e também distribuídos mão a mão a moradores e demais colaboradores quando da passagem pela portaria
e) Teste de Segurança: o zelador poderá, de vez em quando, verificar pessoalmente se as portas dos apartamentos estão destrancadas. Ao constatar o problema, em comum acordo com o síndico, verificar a melhor forma de conversar com o morador e conscientizá-lo a trancar sempre a fechadura das portas de entrada do apartamento.