Lordello: Vigilante na calçada de condomínio inibe assalto?

No intervalo de uma palestra, um síndico profissional me procurou e fez a seguinte pergunta:

“Lordello, em um dos prédios que administro, na Zona Sul de São Paulo, uma moradora tem cobrado providências no tocante à segurança na calçada. Ela disse que no bairro vizinho um motorista ao embicar na garagem do edifício em que reside foi assaltado. Perdeu relógio, celular e carteira. Um outro condômino também tem reclamado que a região está mais violenta e que ficou sabendo de vários roubos a transeuntes nas proximidades de prédios. O que você me orienta?”

Inicialmente, é importante salientar que alguns moradores desejam que o síndico providencie segurança em frente ao condomínio, ou seja, na calçada.  

No entanto, a responsabilidade do administrador é “intra murus”, ou seja, na área interna do condomínio. Do lado de fora é por conta da segurança pública, conforme preceitua norma legal vigente.

Diante de minha colocação o síndico fez outra ponderação:

“Entendo o que você está dizendo Lordello, mas eles estão pleiteando que eu contrate vigilante armado 24h para fazer ronda na calçada do edifício. Acham que isso vai inibir assaltos aos moradores quando entrarem ou sairem a pé ou com veículos. O que você acha da ideia?”

De imediato alertei que legislação atual proíbe a permanência de vigilante armado na frente de prédio, portando não é uma ideia factível.

O administrador retrucou:

“Mas observo alguns prédios em São Paulo com vigilantes ao lado de ombrelones (cobertura que parece grande guarda-sol) na calçada. Eles não estão armados?”

Expliquei que estão uniformizados apenas e não portam armas de fogo. O único equipamento que carregam, normalmente, é aparelho comunicador para manter contato com o porteiro na guarita.

O síndico ficou um tanto pensativo e insistiu no tema:

“Mesmo  desarmado, o vigilante não pode provocar o efeito “espantalho” e assim diminuir riscos de aproximação criminosa?”

Aparentemente sim, mas esse tipo de estratégia não tem o condão de inibir bandidos armados que praticam “assaltos de oportunidade”, ou seja, crimes que duram poucos segundos e que, normalmente, são praticados por jovens usuários de drogas totalmente desorientados.

Imediatamente, abri meu smartphone e mostrei dois vídeos recentes com imagens de câmeras de segurança de condomínios em São Paulo que registraram no ano passado assaltos em suas calçadas, apesar de contarem com vigilantes; veja o relato dos roubos:

1) Vigilante estava postado na calçada ao lado do ombrelone, próximo da entrada de autos, quando dois idosos saem do condomínio e ficam conversando sobre onde tomar um cafezinho. Ficaram por cerca de 2 minutos batendo papo quando surgiram dois bandidos, sendo que um deles aparentava empunhar arma de fogo. Em apenas 13 segundos subtraíram os celulares e carteiras das vítimas. O vigilante deu dois passos para trás e permaneceu o tempo todo observando o crime. Somente se aproximou das vítimas depois que os marginais fugiram correndo. O presente crime ocorreu no bairro de Higienópolis/SP.

2) Moradora chega de carro por volta das 20h45 e embica o carro em frente da entrada da garagem do edifício em que mora e aguarda o portão automático levantar completamente. O vigilante encontra-se na calçada, próximo da portaria, fazendo a triagem de um entregador de pizza. Um jovem que andava naquele local se deparou com a moradora e vendo que ela estava com o vidro do carro aberto enfiou a mão dentro do automóvel e subtraiu o celular que estava apoiado no painel. Este delito aconteceu no bairro de Perdizes/SP e durou menos que 4 segundos.

Restou demonstrado nesses dois casos e em tantos outros que tomei ciência, que a figura do vigilante desarmado na frente de condomínios não apresenta os resultados esperados quanto ao tema segurança.

É importante o leitor compreender o princípio número 1 da segurança privada:

“O profissional de segurança para proteger, tem que trabalhar protegido”.

Alguns moradores sentem-se mais seguros ao ver vigilante uniformizado na frente do prédio.

Chamo a isso de “sensação de segurança”.

Mas somente a “sensação” não adianta, o que devemos ter é “segurança efetiva”.

Curiosamente, vários dos prédios que mantém vigilante desarmado na calçada possuem falhas incríveis no controle de entrada de pessoas, veículos e mercadorias, além de fragilidades no acesso perimetral através de murou e gradis.

Devemos ter em mente que o projeto de segurança condominial deve começar de dentro para fora e não de fora para dentro.

CONCLUSÃO

Síndicos e moradores devem, prioritariamente, garantir bom nível de segurança nas áreas comuns dos condomínios em relação a equipamentos físicos e eletrônicos, na atualização de normas e procedimentos de segurança e na capacitação e treinamento dos colaboradores, principalmente os de portaria, sem esquecer da conscientização em segurança para moradores e empregados domésticos.

 

                   

 

                                                                        Se essa lição de casa for bem feita e mesmo assim a maioria dos moradores decidir contratar vigilância 24h desarmada para a frente do local de moradia, tudo bem. Mas o inverso não tem a mínima lógica e bom senso.

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