Por Fabíola Calixto e Rodrigo L.P de Queiroz Telles
Não é à toa que esse tema da transformação digital é apaixonante para mim, pois explora muitas áreas do conhecimento. Uma delas envolve a Educação, seja ela à distância, seja presencial.
Desde meados dos anos 2000 estou envolvida na área da educação com projetos de inclusão digital para crianças e jovens, seja através de projetos sociais de inclusão digital ou pesquisando sobre novas tecnologias para o tema, que culminou com uma premiação nacional pela fundação Getúlio Vargas (FGV) com um Trabalho de Conclusão de Curso com o tema “Educação a Distância Acessível, Colaborativo e Sustentável” em 2017. Com estas experiências, pude perceber o quanto a educação transforma e faz diferença na vida das pessoas, pois amplia horizontes, oportunidades, derruba muros e constrói pontes.
A partir dessa premiação, nasceu o desejo de empreender na área de educação online e explorar os recursos tecnológicos na educação, isso me levou a implantar o departamento de Conteúdos para EaD da Universidade São Francisco, e após essa experiência, pude crescer em 2020 criando a 1a. Plataforma com recursos de acessibilidade digital para EaD, com a Todos EaD .
Sem querer, acabei tendo o timming perfeito, pois considerando que as instituições de ensino fecharam com o início da pandemia, foi uma grande vantagem frente a outras empresas ter tido o aprendizado e me aprofundado sobre o impacto da transformação digital na educação, pois vejo o quanto as instituições, mesmo após um ano de lockdown na educação, ainda estão engatinhando nesse quesito…
A transformação digital não está relacionada apenas à área de tecnologia da informação, os seus impactos estão em todas as esferas, seja no setor público ou privado, a educação está presente em ambas, e não pode ser ignorada ou aguardar, pois a perda no processo de desenvolvimento, principalmente das crianças, é inestimável.
E foi pensando na união da tecnologia com a educação que criei este artigo para mostrar para você os impactos da tecnologia na educação e o que será tendência daqui para frente.
O que é transformação digital e qual o impacto na educação?
A transformação digital pode ser compreendida como um processo de melhoria de uma determinada atividade por meio de recursos tecnológicos.
Esse movimento já é amplamente discutido no mercado corporativo, mas seus reflexos vão além. Hoje, a sociedade como um todo já passa por profundas mudanças causadas por essa nova era da tecnologia, o Hibridismo é uma tendência que já vinha sendo estudada, por exemplo, e principalmente nesta fase que o distanciamento social é obrigatório, a educação, como qualquer outra atividade, está sendo fortemente impactada pelas facilidades que o digital oferece.
No entanto, ainda existe muita resistência a esse modelo de educação quando comparado com o modelo de ensino tradicional, mas seja qual for o ambiente, presencial, híbrido ou puramente online, é importante colocar a tecnologia para trabalhar ao nosso favor.
Quais são os impactos da tecnologia na educação?
Com a grande influência do mundo digital, surgiu a necessidade de adotar processos educacionais em níveis cada vez mais personalizados.
Sendo assim, um dos maiores benefícios do uso da tecnologia é proporcionar essa adequação tão importante.
Estamos vivenciando a educação 4.0, os estudantes precisam estar preparados para o mundo quando terminarem seus estudos.
Como será a realidade desse mundo? As profissões que hoje existem ainda serão as mesmas? As habilidades que hoje desenvolvemos talvez não irão suprir as necessidades do futuro. Então se não adaptarmos o ensino à nova realidade de acesso à informação interconectividade e mudanças mais ágeis, não estaremos cumprindo o papel de educar corretamente para essa nova realidade e a do futuro.
Darei exemplos de alguns conceitos e pesquisas que estão em uso ou sendo discutidas hoje dentro da Educação 4.0, mas antes, te pergunto: você sabe o que significa educação 4.0?
O que significa Educação 4.0?
Na 4ª. revolução industrial, as tecnologias são somadas no intuito de dinamizar os processos em todos os segmentos da educação, utilizando tecnologias como: a Inteligência Artificial, a Internet das Coisas, os robôs, chatbot, etc.
Nesse conceito, cada estudante é capaz de trilhar o próprio caminho com uma autonomia cada vez maior, pois a utilização de Big data Analitics determina o que é mais relevante em áreas específicas de conhecimento para o desenvolvimento das suas habilidades. Isso faz com que o aluno reforce os estudos onde encontra mais dificuldades, e esse processo contínuo por toda sua jornada escolar consequentemente o deixará mais preparado para o mercado de trabalho.
Diversas iniciativas nessa área hoje já recebem apoio de instituições como Harvard, MIT, Facebook, Google etc, e visam também o fortalecimento das microcertificações — Pois através delas os estudantes se especializam em áreas do conhecimento específicas através de pequenos módulos de aprendizagem que podem ser acessados pela rede, sem a necessidade de mediação de outra instituição de ensino. Isso já é uma prática no mercado corporativo.
No entanto, os benefícios vão além. No ambiente escolar, por exemplo, é possível trabalhar com o que os especialistas chamam de shadow school.
Estamos falando de processos e vivências que muitas vezes passam despercebidos pela direção e pelos professores. Com esse conhecimento em mãos, é possível construir um ambiente mais agradável e atrativo para os alunos.
Toda mudança desse nível traz alguns riscos. A principal desvantagem hoje é a necessidade de dar início a esse processo com agilidade e efetividade. A tecnologia já é uma realidade em nossas vidas, mas ainda tem sido ignorada ou “proibida” em algumas escolas, o que só tem afastado o interesse dos alunos, pois cria um ambiente que não condiz com a realidade do dia a dia deles.
Desde o início do desenvolvimento de nossa espécie, há 200 mil anos, que os processos de aprendizagem são inerentes ao ser humano. O Homo Sapiens prevaleceu às outras duas espécies, o Homo Erectus e o Homo neandertal. Somente por que seus meios de aprendizagem foram diferentes, adaptados às novas realidades, modificados com o tempo. Portanto, se trouxermos essa visão ao presente, veremos que, seja na escola, seja fora dela, os estudantes terão contato com a tecnologia e desenvolverão sua relação com o mundo digital e por meio dele. É preciso integrar essa realidade ao ambiente escolar e adequar as instituições de ensino às necessidades da vida em sociedade, para que os seus alunos sejam os “Homo Tec-Sapiens” ao invés de “Homo Tec-Neandertalens”
E existem bons exemplos da transformação digital na educação, posso citar um processo feito em Londres, com um mini computador chamado BBC micro:bit.
O dispositivo, que passa a ser de posse do estudante, tem o objetivo de permitir que ele desenvolva projetos com a tecnologia da Internet das Coisas (IoT). Ele pode, por exemplo, programar um jogo ou acessar programas, como um app que simula a planta de uma casa e que permite fazer verificações (se há ou não água e energia elétrica, por exemplo).
O estudante trabalha em conjunto na escola, mas as invenções são dele e isso é levado para casa, integrando as famílias ao processo de aprendizagem. Mas mais importante que isso, é o fato de que o ensino é estendido à aplicação prática. O resultado desse processo é a sedimentação da inovação na escola, que demonstra na prática aos pais que seus filhos estão sendo capacitados em relação ao uso da tecnologia desde o início, dentro da realidade atual de todas as crianças que já nasceram na era dos computadores pessoais e celulares Smart.
Outro exemplo já utilizado é o sistema de Indoor Position System (IPS), que é uma espécie de GPS interno da escola. Inserido em uma pulseira dada a cada aluno, ele permite localizar os alunos nas dependências do colégio. Ela também é utilizada para o controle de acesso, elimina a necessidade de chamadas nas salas, e o sistema também é responsável pelo pagamento do consumo na cantina, a retirada de livros na biblioteca etc. Já existem colégios utilizando esse sistema no Brasil, como o Grupo Oficina do estudante, de campinas, SP, e você pode conhecer um exemplo prático disso no link.
Como último exemplo, vale citar o trabalho do Grupo Positivo nesse contexto. Pioneiros, há mais de 20 anos, a empresa trabalha com o professor web, que fica online na internet à disposição dos alunos via chat. Hoje, as dúvidas podem ser reunidas em um grupo de discussão e acessadas por todos os alunos.
Como começar esse projeto educacional?
Existem diferentes processos e isso vai variar de acordo com a instituição, sua capacidade de investimento, etc, mas em linhas gerais podemos dizer que o primeiro passo é eleger o que podemos chamar de Embaixadores da inovação na escola — professores, coordenadores etc. — e capacitá-los. É necessário não só que eles aprendam sobre as tecnologias, mas que entendam a interação pedagógica e social dos estudantes com os dispositivos tecnológicos.
Um erro bastante comum é a implementação do processo de tecnologia no sistema top-down, em que as decisões são simplesmente tomadas pela direção sem integrar os educadores na discussão. Geralmente o resultado é a substituição de uma ferramenta por outra, e não raro por diversas vezes, sem trazer inovações reais ao ensino. Trocar cadernos por tablets, por exemplo, não é mais que uma substituição do meio em que será escrito. Uma verdadeira inovação tecnológica é agregar ao tablet realidade aumentada, funções de interação em grupos online para trabalhos, entre outros exemplos.
O segundo passo deve ser a pesquisa por parceiros que sejam a referência para o projeto como um todo. Utilizar um consultor eficiente nesse processo ajuda, pois ter um agente neutro que se preocupa com a efetividade da solução e que faz sentido para a escola, poupa muito tempo em reuniões e testes com empresas que querem simplesmente vender seus produtos.
O projeto deve levar em conta o impacto e a relevância para a vida dos estudantes, ou seja, a escola precisa estudar a comunidade na qual está inserida, pensando de forma mais ampla. O impacto social e econômico tende a ser grande — e bastante positivo, no estudante e em sua família —, por isso é crucial planejar e gerenciar o processo levando em conta as necessidades dos envolvidos.
Via de regra, esses processos tendem a ter uma duração de três a quatro anos. Por conta disso, a parceria deve ser pensada em médio e longo prazo.
Adotando a tecnologia de forma gradativa, em pouco tempo os resultados serão notados e uma cultura de inovação surgirá.
Concluindo, a transformação digital na educação já é mais que uma realidade, uma necessidade. E nos próximos anos, a presença da tecnologia atrelada aos ganhos educacionais será cada vez mais presente nas escolas — Mas é preciso estar preparado para essa mudança!
Fabíola Calixto
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