Renata Figueira de Mello: Elas ainda precisam de proteção

E elas, amigas, somos nós. As mulheres. O sexo não tão frágil como antes, mas infelizmente, ainda vulnerável.

A notícia de que Larry Nassar foi sentenciado no último dia 24 de janeiro pelo tribunal de Lansing, no estado de Michigan, nos Estados Unidos, e recebeu pena de 175 anos de prisão por ter abusado sexualmente de mais de 150 jovens e adolescentes, incluindo várias atletas, me deu um certo alívio… depois de ouvir dezenas de depoimentos de jovens abusadas. E imagino porque elas levaram tantos anos para se manifestar.

Larry detinha o poder. Era médico. Fazia parte do comitê olímpico norte-americano. Tinha boa reputação social. O que seria a palavra dele contra a de uma adolescente por ele assediada? Elas pensavam nisso e se calavam.

A gente fala muito de minorias e das defesas que elas precisam ter, por não terem representatividade. Que tal você não ser minoria (negros, pobres, mulheres…) e ser tratada como se fosse. Como se o seu caso de abuso fosse um caso raro (quando sabemos que 80% das mulheres sofreram, no mínimo, algum desconforto com a aproximação suspeita de homens mais velhos, durante sua vida, até ficarem maduras) e você se envergonhasse de denunciar, pedir socorro, ou punição?

Infelizmente, temos vivido ainda, em pleno século XXI, a política do silêncio. Quem aparenta ser mais respeitável fia-se na impunidade para execitar suas taras e considerar-se além de qualquer suspeita. No caso de Larry, bastou a coragem da primeira denunciante e as outras vieram, às dezenas…

Exatamente como aconteceu com o prestigiado ginecologista Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros e quatro tentativas de abuso contra 39 mulheres, que abusava de suas pacientes e se sentia protegido pela lei do silêncio- da vergonha da vítima, hoje solicitando cumprir pena em liberdade por estar idoso e doente.

Parecem exceções. Parecem minorias. Mas não são. Xuxa surpreendeu a todos quando revelou há anos que tinha sido abusada sexualmente em sua infância. Houve quem achasse que era marketing pessoal, assunto para gerar mídia. Eu duvido. Mulher alguma admitiria tal fato na maturidade sem ter passado por um tremendo trauma. Mas ela só conseguiu vencer a tal lei do silêncio depois de ser famosa e respeitada. Quis lavar essa lembrança que lhe fez tão mal durante muitos anos.

Ou seja. Este assédio… do médico, de um tio, de um professor, do amigo do pai, do cunhado da mãe… não é exceção. As garotas molestadas física ou moralmente não são minoria. E continuam sofrendo em silêncio, às vezes por muitos anos, como mostram as pesquisas e este fatos recentes. Ninguém pode exatamente imaginar o que uma experiência negativa como essa pode causar na lembrança afetiva de uma mulher.

Então vamos estar mais atentas? Nossas filhas, sobrinhas, as filhas do vizinho… Às vezes estão nos dando sinais de que precisam se abrir com alguém. Nada muda se a gente não sabe e denuncia. Nada muda enquanto essas jovens se sentem indefesas e indefensáveis.

Parabéns às atletas (inclusive campeãs olímpicas) que denunciaram com detalhes os assédios do Dr. Larry. 175 anos de pena é uma vida. Ele não sai mais da prisão. Não é extrema a punição se somarmos os anos de traumas causados a tantas jovens e os danos emocionais que causou. Romper o silêncio, pode abreviar a carreira destes poderosos que apostam na sua posição privilegiada para abusar dos mais fracos.

Vamos mudar esta história?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens