Lilian: Livre, leve e solta

Pensei muito antes de contar uma experiência que vivi recentemente, afinal, não costumo expor minha vida pessoal.

Após 4 longos anos eu e meu marido planejamos uma viagem para rever a família que mora na Itália, finalmente iríamos reencontrar os cunhados, os sobrinhos e batizar a sobrinha neta que ainda não conhecíamos pessoalmente.

Imaginem a empolgação, preparei a mala com muito cuidado e carinho, escolhendo cada peça, cada sapato, antevendo cada passeio, a programação de cada dia, tudo muito organizado.

Tudo pronto! Partimos felizes, num voo tranquilo, com conexão em Londres e destino final Nápoles.

Chegamos bem, mas eis que de repente, fui acometida pelo terror de todo viajante, olhar a esteira parar e constatar que a minha mala se extraviou num dos aeroportos mais movimentados do mundo… impossível saber seu paradeiro.

Nessa hora, respirei fundo e decidi que nada iria estragar a beleza do lugar e a emoção de abraçar a família após tantos anos.

Todos os dias ligávamos para o aeroporto para saber se haviam localizado a mala, nenhuma notícia…assim fui aprendendo a me virar com pouco, a ficar sem maquilagem, a praticar o desapego, a pegar roupa emprestada das cunhadas e aproveitar cada momento sem stress e feliz da vida.

Sou uma otimista por natureza, por isso, não perco as esperanças, então, na véspera de retornar ao Brasil a minha mala reapareceu!

No Facebook recebi uma solicitação de amizade de uma jovem mulher americana, com fotos de Capri e um post com a minha mala e a pergunta: alguém conhece Lilian Schiavo?

Por incrível que pareça, estávamos pertinho uma da outra, ela contando a saga da mala que sumiu.

Após vários dias a companhia aérea enviou a minha mala para o seu hotel, mas como a sorte está do meu lado, ela se deu ao trabalho de tentar me encontrar e despachar a mala de volta ao aeroporto de origem.

Dizem que tudo está bem se termina bem, então, como constante aprendiz da vida, percebi como às vezes damos importância excessiva para o supérfluo, ficamos em casa sem ir a uma festa porque achamos que não temos a roupa e o sapato adequados e assim perdemos a chance de nos divertir, de conhecer gente nova, de explorar novos lugares.

Foi uma experiência inusitada para nós duas, esta foi a primeira viagem internacional dela com as amigas do colégio, ela contou que durante muitos anos as amigas a convidavam para viajar para o exterior e ela sempre arrumava uma desculpa para não ir,  mas em outubro a mãe faleceu repentinamente e ela se deu conta que sua mãe tinha elaborado uma lista de lugares que queria conhecer, mas não teve tempo…

Isso a impulsionou a parar de inventar desculpas e reservar um tempo para si mesma e para aproveitar a vida, resolveu então atravessar um oceano inteiro, conhecer a Itália e comemorar o aniversário da amiga.

E foi assim como eu, que ela postou fotos sorridentes com um guarda roupa improvisado, algumas peças emprestadas e nenhuma preocupação com o julgamento dos outros.

Quer saber como foi nossa viagem? Vestimos sorrisos no rosto, aproveitamos cada segundo com entusiasmo juvenil, ela comemorou o aniversário da amiga, eu comemorei o batizado da minha sobrinha neta, passeamos, experimentamos os sabores do Mediterrâneo, com leveza, sem bagagem, sem lenço, mas com documento, as duas livres, leves e soltas!

Fica a grande lição que o importante mesmo não é o que você veste, é quem você tem e como você vive, bom mesmo é ter amigos, família e transbordar amor, é saber encarar a vida com bom humor, com paz no coração e alegria na alma.

“As coisas mais simples da vida são as mais extraordinárias, e só os sábios conseguem vê-las.” Paulo Coelho.

**O conteúdo e informação publicados são de responsabilidade exclusiva do colunista e não expressam necessariamente a opinião deste site.

Uma resposta

  1. Em bom baianês, Porreta! Primeiro me permita dizer que seja bem vinda ao clube. Afinal grassa uma pega universal chamada “extravio de mais em aeroportos”. Faço, ou fiz, parte deste clube.
    Com este preâmbulo quero deixar clara a importância do seu depoimento porque você nos proporcionou uma magnífica aula de como reagir numa situação dessas, leveza, bom humor, tolerância, urbanidade. Meus parabéns, amiga!

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