Tecendo redes

Arquiteta por formação, vivo desconstruindo preconceitos, derrubando muros e paredes, abrindo portas e janelas de oportunidades, erguendo pontes entre as mulheres, empresas, organizações e países, e vivendo desse jeito, me especializei em conectar pessoas.

Cresci ouvindo histórias reais de mulheres guerreiras, me inspirando em mulheres poderosas que mudaram a história do mundo.

Vivia numa espécie de bolha, enxergava o mundo com lentes distorcidas e imaginava que as oportunidades eram iguais para todos, que as mulheres podiam ser o que quisessem.

Desta forma, como protagonista da minha vida, pude decidir o que fazer, e no meio de tantas escolhas, pude acertar e errar sozinha e assim, aprendi a ser responsável por mim mesma.

Ao ingressar em organizações femininas, passei a ouvir relatos indignados de mulheres que não tinham voz, que se sentiam invisíveis, mulheres que tiveram que superar seus próprios medos e inseguranças, que lutam contra a baixa autoestima, que sofrem ou sofreram assédio ou violência, que são desrespeitadas.

No Brasil, as mulheres representam 51,1% da população, somos 108,7 milhões, responsáveis por 66% do consumo do país.

Até agora, nenhum país atingiu a paridade de gênero, sendo que a Islândia lidera o ranking global com 90,8%, seguido pela Finlândia, Noruega e Suécia. O Brasil ocupa o 94º lugar entre os 146 países avaliados.

Ingressei na faculdade de arquitetura em 1977 e minha filha ingressou na mesma universidade, no mesmo curso em 2011, uma diferença de 34 anos e poucas mudanças, as barreiras e preconceitos continuam quase do mesmo tamanho.

Algumas pessoas perguntam se as mulheres são mesmo capazes de realizar cálculos integrais e entender a resistência dos materiais e mecânica dos solos, se iremos de salto alto visitar uma obra, se vamos desistir de fazer medições num galpão com ratos, baratas e morcegos.

Na verdade, as dúvidas não são sobre as arquitetas, mas sobre as mulheres que decidem fazer algo diferente, ocupar espaços de poder, desafiar as convenções, inventar, reiniciar a vida, as dúvidas recaem sobre as mulheres corajosas, valentes, fortes, resilientes e guerreiras.

Para ocupar os lugares de poder, tivemos que superar obstáculos, quebrar correntes e tetos de vidros, enfrentar os medos, os puxões de tapetes, os pisos escorregadios e a famosa síndrome da impostora.

Deve ser por isso que as mulheres gostam de viver em grupos como numa alcatéia de lobos.

Pesquisei no Google as características da loba e encontrei: “a loba tem sido um animal estigmatizado e muitas vezes menosprezado. Seu lado selvagem não é simplesmente pura ferocidade. Ela sabe como ser matriarca da sua matilha, sabe como guiar os seus. Ela é capaz de se tornar líder dos outros, sem medos ou complexos.

É, pelo visto, somos como lobas. Quando nos reunimos, compartilhamos histórias de mulheres que sofreram todos os tipos de violência, inclusive a violência política, que envolvem comportamentos para humilhar, constranger, ameaçar ou prejudicar uma candidata em razão de sua condição feminina.

É por tudo isso e mais um pouco que as mulheres se unem em redes, se apoiam, se dão as mãos, falam sem parar até serem ouvidas, até serem respeitadas.

Nós estamos juntas para transformar o mundo num lugar mais ético, justo e sustentável, e nossas maiores armas são a coragem, a fé e a esperança.

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

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