Um poquinho de mim e meu Ikigai

Costumo dizer que sou uma arquiteta que gosta de escrever e desenhar, conciliadora por natureza, internacionalista na prática e por vocação.

Gosto de gente e de ouvir suas histórias, costumo marcar cafés com prosa que duram horas… também tenho mania de abraçar e por isso ganhei o apelido de urso panda.

Nas nossas redes de mulheres, digo que somos todas sócias e proprietárias de duas fábricas, uma que transforma ideias em realidade e outra que transforma pequenas ideias em grandes negócios.

O empreendedorismo corre nas minhas veias, no meu DNA, a primeira vez que ouvi a palavra empresário foi quando se referiram a meus pais que eram médicos, na época tinha 7 anos e pensei que eles tinham me confundido com outra pessoa, minha avó também era uma empresária numa época em que as mulheres nem tinham conta bancária, ela ficou viúva muito cedo e sem pestanejar assumiu a direção da empresa do marido para sustentar a família.

Meu pai teve tuberculose na época em que a penicilina ainda não tinha sido descoberta, sobreviveu, mas saiu do sanatório em Campos do Jordão com metade do pulmão necrosado então, quando nasci ele imaginou que talvez não conseguisse me ver crescer e como estratégia mergulhei no mundo empresarial desde muito cedo, obtive meu primeiro CNPJ aos 17 anos.

Minha mãe era uma médica, uma mulher pioneira e revolucionária, à frente do tempo, um exemplo para mim, foi ela quem me presenteava com livros da Simone de Beauvoir e dizia que as mulheres deviam ser independentes financeiramente para serem livres, para serem donas da própria vida, salientava a importância da educação e da cultura.

Assim, ao longo dos anos, fundei algumas empresas, fui diretora em sindicato patronal  e juíza classista na justiça do trabalho, ambientes predominantemente masculinos que me provocaram um olhar crítico quanto às funções e protagonismo da mulher no mundo corporativo.

Ao invés de histórias de princesas que precisavam de um príncipe para serem salvas, meus pais preferiam me contar histórias reais de mulheres inspiradoras e guerreiras, mulheres poderosas que mudaram a história do mundo, que ganharam prêmio Nobel. Desta forma, cresci usando óculos com lentes distorcidas, numa espécie de bolha onde imaginava que as oportunidades eram iguais para todos e que as mulheres podiam ser o que quisessem.

Desta maneira, como protagonista da minha vida, pude decidir o que fazer, e no meio de tantas opções, pude escolher, acertar e errar, aprender sozinha a ser responsável por mim mesma.

Até o dia em que entrei numa rede de mulheres e comecei a escutar relatos indignados de mulheres que não tinham voz, que se sentiam invisíveis, que tiveram que superar seus próprios medos e inseguranças, que lutam contra a baixa auto-estima, que sofrem assédio ou violência, que não são respeitadas.

Assim, comecei a integrar projetos para as mulheres e me envolvi de corpo, coração e alma. Acabei assumindo que me possibilitam estender ações para fora das fronteiras nacionais, participar de iniciativas de organizações supranacionais como a ONU Mulheres e a OIT, o Programa Mulheres e Negócio Internacionais da ApexBrasil e ser membro da EEN Brasil Enterprise Europe Network.

Viajo frequentemente como congressista para discursar sobre a importância da equidade de gênero e da internacionalização de empresas de um ponto de vista econômico e sustentável.

Às vezes me perguntam como foi que cheguei até aqui e a resposta é que nunca imaginei que ocuparia estes lugares, apenas segui trabalhando, passo a passo, dando o meu melhor, tentando ser excelente no que fazia, com foco no propósito, acreditando que podemos ser agentes de mudanças, mobilizadoras, inovadoras.

Ikigai é a palavra japonesa que significa propósito de vida, é o que te motiva a levantar todas as manhãs. Falando assim, parece filosófico, difícil, metafórico… distante do nosso cotidiano, mas na verdade é bem simples.

Provavelmente você já deve ter escutado um milhão de vezes que precisa encontrar o seu propósito para ser feliz e realizada, então é isso, olhar para o seu interior e encontrar a resposta no seu coração, na sua essência, na sua verdade.

Como descendente de japoneses, escuto esta palavra desde pequena e me parecia fácil de entender, os japoneses apreciam o efêmero da vida, valorizam uma visão extraordinária que dure poucos minutos, como um nascer do sol, o florescer das cerejeiras, a passagem de um cometa.

Aprendemos a nos alegrar com os pequenos começos, lembra daquele momento em que desenhou a primeira letra num caderno novinho em folha? Aposto que você se esforçou, queria que fosse perfeita, a mais linda para você, sem necessitar de reconhecimento dos outros, sem receber aplausos, você se sente feliz pois fez o seu melhor, e é isso que importa. Você se esforça e aprecia o resultado.

Propósito tem a ver com amor, com amar o que se faz, já percebeu que pessoas com ikigai se dedicam com afinco, tudo parece leve e fácil, mesmo que para obter o resultado você precise tentar milhares de vezes.

Tenho 65 anos de idade e confesso que fiquei perita em cair e levantar, celebrei grandes conquistas assim como amarguei derrotas e tombos homéricos, e a cada queda aprendi a me reerguer, me reinventar, a começar de novo quantas vezes forem necessárias, aprendi a ser humilde e resiliente, a ter empatia e compaixão, a conviver com as diferenças, a respeitar opiniões divergentes, aprendi a liberar perdão, entendi que a vida é feita de altos e baixos e está tudo bem.

Neste mundo de aparências, onde há uma busca incessante pelo sucesso, temos a impressão que somos os únicos a ter dores, frustrações e perdas, parece que todos são vencedores, inspiradores, que conseguiram seu primeiro milhão de dólares antes dos 30 anos… isso provoca na maioria de nós uma sensação de impotência, desânimo e stress. Será que existe lugar no mundo para os perdedores, os normais? Será que a felicidade é determinada pelo sucesso?

Quem tem ikigai conhece a resposta, precisamos nos libertar das opiniões alheias e buscar o que nos dá prazes. Pode ser que eu queira ser a melhor mãe do mundo, cozinhar o prato mais delicioso, bordar uma toalha linda ou ser a presidente de uma nação, o importante é fazer os seus olhos brilharem e o coração bater mais forte.

Busque a felicidade dentro de você mesma, sem olhar se a grama do vizinho parece mais verde, ela pode ser sintética ao passo que o seu jardim foi construído por você, tenha orgulho de sua vida e do seu esforço, e se ainda não alcançou seu objetivo, não desista, continue, seja persistente.

Um dos meus temas recorrentes é a questão da igualdade de gênero, a ONU criou o movimento He for She e num dos grupos que presido, o Global Networking G100 contamos com os Denim Partner, homens líderes que apoiam e defendem a igualdade de gênero, denim porque os homens podem ser de Marte e as mulheres de Vênus, mas o jeans é usado por todos nós, mostrando que juntos podemos cocriar um mundo mais justo e com mais diversidade.

É preciso entender que as mulheres e os homens são diferentes e há muita beleza nisso, a questão não deve ser homens ou mulheres, mas sim homens e mulheres juntos, um apoiando o outro.

Afinal, a desigualdade de gênero afeta a todas as pessoas, não só as mulheres, por isso deve ser tema constante de debates, precisamos incentivar o empoderamento feminino para que as mulheres busquem os seus direitos, para que possam ser o que quiserem e onde quiserem.

Uma mulher puxa a outra e nenhuma é deixada para trás, já não é apenas uma frase, se converteu em uma realidade, palavras como empatia, cooperação, resiliência e sororidade passaram a fazer parte das qualidades das líderes.

Somos intensas, valentes e resistentes, dizem que somos imparáveis, sonhadoras, mulheres que apoiam a outras mulheres, que ensinam como ganhar dinheiro para serem independentes e livres para voar, mesmo sabendo que a humanidade sempre teve medo de mulheres que voam. Sejam elas bruxas, sejam elas livres. Sendo elas quem quiserem ser.

Acredito firmemente que as mulheres podem mover a economia e mover o mundo.

Finalizo com uma frase da escritora e filósofa Ayn Rand:

A questão não é quem vai me permitir, é quem vai me impedir.”

 

 

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