Fe Bedran: O adereço no desenvolver do tema

Com origem no latim thema, a palavra tema significa “o assunto de que se trata ou que se quer desenvolver (numa obra ou num discurso, por exemplo); o conteúdo ou a proposição de uma certa mensagem, publicação ou evento” (https://conceito.de/tema). E quanto melhor se desenvolve o tema, melhor se passa a mensagem desejada, seja para o leitor (de um texto) ou para o telespectador de uma obra de televisão. O adereço, como já começamos a ver na semana passada, é ferramenta importantíssima neste desenvolvimento.

Observem, por exemplo, o slide de capa desta coluna que mostra o cortejo do “Gran Circo Brasilis” pela pequena cidade de Ventura, na novela “Chocolate com Pimenta”, de 2004. Com a verdadeira alma de um palhaço, Jorge Fernando, o próprio diretor da novela, encabeçava o desfile, anunciando a chegada do circo com um megafone antigo de lata, do alto de uma carroça enfeitada, levada por dois cavalos brancos.

Foram ao todo 90 participantes, dentre eles 60 figurantes e 30 artistas circenses verdadeiros, todos caracterizados para a novela. As cores amarela e vermelha predominavam, compondo o figurino e também os adereços circenses como malabares, monociclos, aros, plumas, flores, tecidos, fitas e bandeiras. Uma bandinha animada entoava a marcha que atraía a cidade curiosa. Um verdadeiro espetáculo!

E como é prazerosa a Produção de Arte de um Circo! Alguns anos mais tarde, na novela “Araguaia”, 2011, o circo teve papel fundamental no folhetim. O “Gran Circo Tenório” era modestamente formado principalmente por Terê Tenório (Thaís Garayp), seu filho querido Neca (Emílio Orciollo Netto) e o foragido da justiça disfarçado de palhaço, o Pimpinela (Nando Cunha).

A trupe viajava pelo interior do Brasil em uma carreata de lindos carros de época, devidamente paramentados (vide comboio completo na coluna “O Design Gráfico nos Veículos de Cena” do dia 13 de julho de 2017, http://portaldoandreoli.com.br/fe-bedran-design-grafico-e-veiculos-de-cena/)

Apesar de ser uma novela atual, a decisão de imprimir um ar retrô ao modesto Gran Circo Tenório, ajudava a traduzir a nostalgia do tempo em que o “grande espetáculo de picadeiro” viveu seus tempos áureos. Não só os carros, mas todos os adereços circenses foram desenvolvidos sob este ângulo vintage. Um charme!

No primeiro slide, vê-se um dos carros do comboio circense devidamente caracterizado. O letreiro, inspirado na “Caravana Rolidei” do filme “Bye Bye Brasil”, 1980, foi feito em recorte de MDF e pintado à mão, com a caricatura dos atores como em camafeus. Lonas e painéis foram plotados em impressoras específicas e depois pintados e retocados à mão para atribuir uma aparência mais artesanal. O megafone de metal foi produzido exclusivamente para a novela, tendo o gramofone como modelo.

 

E o mesmo artista também escolheu o metal como matéria-prima para esculpir este lindo globo terrestre para o cenário da “Ong Terra Nova” de Miguel (Domingos Montagner) na novela “Sete Vidas”, 2015. O metal reciclado conotava a necessidade de nos tornarmos um mundo cada vez mais consciente ecologicamente, evitando assim, um futuro “oco”, com o esgotamento de nossas reservas naturais.

E viajando para o outro lado do mundo, existe melhor tema do que o de novelas sobre culturas internacionais diferentes da nossa? Estas são um “prato cheio” e delicioso para a Produção de Arte.

Na novela “Salve Jorge”, 2013, um dos cenários mais desafiadores para a Cenografia e Produção de Arte foi a reprodução do “Grand Bazaar” de Istambul, na Cidade Cenográfica de mesmo nome, nos Estúdios Globo. Para não extrapolarem o orçamento de decoração da cidade, as equipes misturaram adereçoscópias com objetos turcos originais importados da Turquia. O resultado ficou esplendoroso. No segundo slide, por exemplo, observem a comparação entre o cenário com a venda de cerâmicas, onde a grande maioria são peças cenográficas, e os pratos reais na foto do detalhe à direita: um verdadeiro jogo dos “Sete Erros”! Para este resultado, a equipe de Cenografia utilizou uma impressão digital feita diretamente nos pratos, que ao contrário dos originais, eram de plástico, ou seja, muitos mais leves e resistentes.
Nas ruas do exterior do Grande Bazar, carrocinhas típicas de iguarias turcas foram produzidas exclusivamente para o folhetim. No primeiro slide, vendiam-se milho, rosquinhas simitçi (uma espécie de bagel gigante) e o famoso sorvete turco (dondurma). No segundo slide, a criativa venda de bilhetes de loteria que girava, chamando a atenção dos passantes (primeira foto). Na segunda, uma goma doce chamada Macunu. De “penetra”, vê-se a carrocinha de pipoca de “Tempo de Amar”, a linda novela das 18h, que está no ar no momento.
E não poderíamos deixar de mostrar as lindas carrocinhas de vendas feitas para as Cidades Cenográficas da Aldeia e Vila da Capadócia, também na novela “Salve Jorge”, 2013. Cada uma foi lindamente pintada e envelhecida à mão por incríveis artistas e aderecistas.

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