Fernanda Bedran estreia coluna Nossa Língua

Já parou para pensar que o modo como você fala e escreve é o seu “cartão de visitas”?

A linguagem que utilizamos no nosso dia a dia diz muito sobre quem somos, nossas origens, onde habitamos e o quanto e como estudamos (incluindo o vocabulário técnico de cada profissão). Os sotaques desvendam nossa localização geográfica, ou apontam as regiões por onde já vivemos. Já as gírias, por sua vez, muitas vezes entregam nossa faixa etária, infelizmente, ou explicitam a tribo da qual fazemos parte.

Mas já que a forma como falamos e escrevemos é um verdadeiro espelho de quem somos, cujo reflexo, atualmente, está ainda mais manifesto com a proliferação de torpedos, mensagens de whatsapp, tweets, posts, artigos online, blogs, etc., onde diariamente despejamos incontáveis palavras, por que estamos perdendo cada vez mais o cuidado com a nossa língua?

Para onde estão indo as vírgulas e os acentos? A pressa ao digitar atropela muitos deles, mas nem sempre este é o caso. Estaríamos ficando preguiçosos? Logo hoje, quando a internet e a informática nos presenteiam abundantemente com sites de pesquisa, dicionários de sinônimos e antônimos, gramáticas on-line e a indispensável, já quase automática, correção ortográfica?

Vejam bem, não quero ser classificada de “purista”, “presa ao passado”, intransigente, ou radical. Concordo que a língua é um ser vivo: “palavras nascem, palavras se modificam (tanto no que querem dizer como na forma da escrita), e palavras morrem. A palavra datilografar, por exemplo, foi substituída por digitar. Se não morreu de todo, está moribunda.” AMARAL, Heloísa, ESCREVENDO O FUTURO, disponível em < https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/biblioteca/nossas-publicacoes/revista/artigos/artigo/1372/a-lingua-e-viva > . Acesso em 12 de abril de 2018.>

A língua acompanha as relações humanas em suas atividades do dia-a-dia. Assim, quando uma destas atividades deixa de existir, consequentemente, todo o seu vocabulário também tende a se extinguir.

“Viva, a língua está sempre se modificando ao longo do tempo e do espaço geográfico. Ela absorve novas palavras, assume gírias e, de tanto ser usada, pode até contrair expressões. Isso acontece a todo o momento, mesmo que de forma imperceptível.” GLOBO CIÊNCIA, Língua é um Sistema Vivo e Dinâmico. Ricardo Lima, Departamento de Estudos da Linguagem da Uerj Disponível em < http://redeglobo.globo.com/globociencia/noticia/2011/09/lingua-e-um-sistema-vivo-e-dinamico.html >, Acesso em 12 de abril de 2018.

Nós resumimos, simplificamos, adaptamos e abreviamos: “vossa mercê”, virou “vosmecê” , depois passando para “você”; e no mundo internético do teclar, aparece descomplicadamente como “vc”.

Não só criamos novas palavras, como atribuímos novos significados a vocábulos já existentes. Alguns, já foram incorporados aos dicionários da atualidade:

Ficar: COLOQ trocar carinhos por período curto, mas sem compromisso de namoro. Permanecer por pouco tempo com alguém, geralmente apenas algumas horas, para fins amorosos, sem que haja comprometimento ou fidelidade: Ele fica com várias meninas nas festas da faculdade. Ela fala que não quer namorar, só ficar.

Periguete / Piriguete: COLOQ diz-se de ou mulher muito sedutora, geralmente de vida desregrada. Quem busca um par, dá em cima de vários, sem namorar ninguém.

Pintar: COLOQ Dar-se algum fato; acontecer, ocorrer, suceder. Com esse tipo de gente deseducada, sempre pinta problema.

Ralar: COLOQ trabalhar com afinco. Trabalhar exaustivamente e sem descanso; dar duro: Ralou muito antes de ficar rico.

Fontes: http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2011/10/dicionarios-registram-palavras-que-foram-incorporadas-nossa-lingua.html e http://michaelis.uol.com.br/

Isto sem contar os empréstimos linguísticos, adotados das línguas indígenas, africanas, francesa, italiana e árabe, entre outras, e hoje, sobretudo, adaptados da língua inglesa, como os vocábulos deletar, escanear, mouse, show, entre muitos. (Assunto deveras rico, para o qual retornaremos em colunas futuras).

Não podemos nos esquecer das gírias e regionalismos, que por si só, já quase que representam palavras de um dialeto à parte, não desmerecendo sua rica identidade cultural, étnica e histórica.

Portanto, com todas estas mudanças, incorporações e adaptações, precisamos estar preparados para recebermos novas palavras e novos modos de dizer, adequando-nos às novas áreas de atuação humana.

Mas e a gramática normativa? Deverá ser deixada de lado, sobrepujada pela nossa criatividade e inovação na escrita e na fala? Não, pois o resultado seria o caos. Se cada indivíduo escrevesse a seu modo, sem base em um referencial padrão, seria praticamente impossível ou desgastante a comunicação, pois ninguém se entenderia. Esta é a verdadeira função da gramática normativa: estabelecer regras que ditam como a nossa língua dever ser escrita (não particularmente falada), facilitando a interlocução entre os indivíduos.

Mas também deve ser aliada às especificidades dos diferentes gêneros discursivos, acompanhando as mudanças sociais, atividades humanas e seus reflexos. A língua não pode ser engessada. Não está escrita em pedra.

Proponho nesta coluna, abrir um espaço para apresentarmos curiosidades sobre a nossa língua, aprendermos um pouco sobre a história dos vocábulos, provérbios e expressões, apontarmos erros gramaticais fáceis de serem evitados, apreciarmos neologismos, regionalismos e estrangeirismos, discutirmos sobre as constantes mudanças na nossa linguagem, e nos apaixonarmos por falarmos nosso querido Português.

2 respostas

  1. Fernanda querida,
    Que ideia maravilhosa! Continue, não desista, precisamos de uma Fernanda em cada metro quadrado desse nosso Brasil. Nosso idioma está em coma.
    Se for possível, quero que me envie todas as suas colunas.
    Parabéns pela iniciativa. Bjs, Maria Inês.

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