Lilian Schiavo: O poder da Geração 50+

Vou abrir meu coração e confessar uma verdade para vocês, tenho 59 anos e nunca imaginei que um dia iria me expor como estou fazendo aqui através desta coluna, me surpreendo falando da minha vida, família e lugares que estive.

Então, já que está virando um hábito, vou contar que esta semana estive num evento de moda voltado para um público com mais de 50 anos e me impressionei quando vi as pessoas que imagino transformadas em nomes, cores e formas. Foi incrível!

Quem me acompanha sabe que falo sobre pivotar, sobre pessoas que amadurecem e resolvem mudar, se reinventar… era uma teoria que se materializou na minha frente.

Começo explicando que conheço há muitos anos a organizadora do evento e a criadora do projeto que me convidou para palestrar, vi quando a semente destes projetos brotou nos corações delas e estive presente desde o primeiro passo.  Então, imaginem a emoção que senti ao ver o resultado de todo o trabalho, dedicação e persistência que elas tiveram e pude sentir a concretização de sonhos.

Indescritível a sensação de orgulho!  

Resolvi começar minha palestra contando sobre a herança que a presidente fundadora da OBME, Adelina Silveira Alcântara Machado, deixou para mim. São as suas amigas, um grupo de mulheres corajosas, destemidas e talentosas. A grande maioria tem mais de 50 anos e conviver com elas é  uma lição de vida para mim.

Elas possuem uma força e uma capacidade de trabalho inimagináveis, são donas de uma alegria contagiante e de uma elegância natural. São bailarinas, cantoras, possuem uma criatividade absurda e uma esperança inabalável. Elas tem sonhos e capacidade de realizá-los, são grandes empreendedoras.

Empreender não significa somente a ação prática de criar um novo negócio, é também uma atitude de inovação, é se dedicar integralmente a transformar ideias em realidade.

Uma pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) , apontou que 30% dos empreendedores em estágio inicial tem entre 45 e 64 anos, mas se registrarmos empreendimentos já estabelecidos este índice sobe para 59%.

A explicação está na dificuldade que uma pessoa com mais idade enfrenta ao ser demitido do emprego, apesar de toda a experiência e sabedoria adquirida ao longo dos anos, uma recolocação no mercado de trabalho parece mais difícil.

O avanço da medicina aumentou a expectativa de vida,  e se antes a pessoa se sentia idosa aos 50 anos, hoje ela se sente pronta para encarar novos desafios e se reinventar.

Vejo muitas pessoas atingirem a maturidade e após ter os filhos criados e encaminhados descobrem que viveram uma vida diferente daquela com que sonharam e resolvem se dar uma chance de mudar tudo. Pode ser que a aposentadoria chegou, mas a vontade de assumir riscos é maior que a vontade de vestir um pijama ou fazer crochê. Pode ser que você perceba que vive com quem não queria e decida se divorciar e buscar um novo amor ou talvez tenha vontade de iniciar uma outra faculdade, outra profissão.

A verdade é que a sociedade precisa se conscientizar que uma geração platinada está surgindo e vai definir novos nichos de mercado. São pessoas ativas, dotadas de muita energia e dispostas a encarar desafios, é fácil encontrá-las abrindo franquias, praticando esportes radicais, pulando de para-quedas e planejando viagens a lugares exóticos.

Ultrapassar a barreira dos 50 anos é ter liberdade de vestir o que gosta, afinal, a esta altura você já conhece seu corpo e tem um estilo, e na medida que a idade avança fica mais evidente a busca pelo conforto, você não vai mais ser uma vítima da moda, é livre e vive a sua verdade.

Hoje está cada vez mais difícil acertar a idade de uma pessoa e devo confessar que quando me perguntam quantos anos você acha que tenho a minha vontade é sair correndo.

Mirian Goldenberg, autora do lvro “A Bela Velhice” diz que há muitos homens e mulheres cuja idade não é possível classificar. Não são velhas, mas não são jovens, são ‘ageless‘ (sem idade, em inglês).

Atualmente, classificar alguém como terceira ou melhor idade é um descalabro pois falamos de pessoas ativas, que  trabalham, viajam e se divertem. Não são frágeis ou incapazes, muito pelo contrário, segundo o IBGE o país conta com 20,6 milhões de pessoas acima de 60 anos, que representam 10,8% da população. A expectativa é que em 2060 serão 58,4 milhões de idosos, aproximadamente 1/4 da população brasileira.

A empresa de consultoria Escopo apontou em uma pesquisa realizada em 2013 que o consumo entre as pessoas com mais de 50 anos foi de quase 1 trilhão de reais, sendo que desse montante 135 bilhões de reais foram gastos com alimentos e bebidas, 64 bilhões em carros, 49 bilhões em artigos de vestuário, 24 bilhões em produtos de higiene e beleza, totalizando 34% do consumo total da população. A estimativa é de um crescimento para 44% neste ano.

Portanto, se você quer empreender, preste atenção nos hábitos de consumo deste público-alvo que vai muito além de empresas farmacêuticas e de planos de saúde. Eles investem no mercado financeiro pois não querem depender de outras pessoas quando envelhecerem.

Você pode investir numa academia com equipamentos e pessoal treinado especificamente para este público, inovar com uma geladeira que não tenha gavetas baixas para evitar que a pessoa se abaixe para pegar os legumes e frutas, criar roupas e sapatos que sejam fáceis de vestir e calçar, construir um resort nos Jardins com atividades de lazer e cultura e um discreto apoio médico no local, organizar viagens e  oferecer kits com refeições para dietas específicas.

Agora, se o seu caso é ter mais de 50 anos e busca colocação no mercado de trabalho, existem empresas que mesclam seniores e jovens da geração Y na mesma equipe . A experiência e maturidade atuam como ponto de equilíbrio e segurança, servindo de exemplo em situações de instabilidade emocional dos jovens.

A percepção do tempo também é diferente e a união de gerações agrega valor ao negócio, demonstra uma atitude de inclusão e diversidade na política da empresa e consequentemente atrai novos talentos para a empresa.

Um exemplo de negócio inovador são as startups sociais que investem na recolocação de profissionais com mais de 50 anos no mercado de trabalho. De acordo com a Yunus Negócios Sociais, os recursos disponíveis para empresas que trabalham em setores de impacto social aumentaram no país.

Cito o caso de uma empresa de home care para pacientes com média de 80 anos que contrata funcionários acima de 50 anos, a empatia e afinidade entre eles aumenta o índice de satisfação dos clientes.

Enfim, graças a programas de inclusão e diversidade existem inúmeras vagas no mercado de trabalho, mas o importante é que você também tem a oportunidade de se tornar um empreendedor, colocar em prática uma ideia, ousar, ser dono do próprio negócio. Neste caso, você vai trabalhar mais do que trabalhou durante a sua vida, mas vai valer a pena, é a realização de um sonho, a conquista de mais uma vitória.

Finalizo com uma frase de Lya Luft:

“A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade, querer com mais doçura.”

3 respostas

  1. Muito obrigada Lilian, por este lindo artigo! Realmente, como sempre Ana comenta, Adelina não poderia ter escolhido melhor sucessora. E nós todas não somos somente amigas, mulheres corajosas, destemidas e talentosas como você sabiamente disse,.mas também mulheres que vibram na frequência do amor fraternal e divino, realizadoras do bem comum.
    E temos muito mais ainda a realizar em nossa sociedade agora, sempre de forma primorosa, nesta nossa fase platinada! Um abraço carinhoso e muito obrigada por dividir conosco a sua Luz.

  2. Parabéns pelo maravilhoso artigo Lilian. Muito bem estruturado, com dados muito sérios e atuais e uma bela homenagem para a nova maturidade! Fantastico!

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