Lilian Schiavo: Princesas

As histórias de princesas enclausuradas, adormecidas por tantos anos que transformaram os jardins em florestas cerradas e  escuras não me atraíam, preferia as histórias que meus pais contavam sobre mulheres reais como a Madame Curie, Amelia Earhart, Eleanor Roosevelt, Maria Quitéria, Chica da Silva, Anita Garibaldi entre tantas outras. 

Sou filha de um casal de médicos e quando nasci meu pai beirava os 40 anos, tinha sido tuberculoso na época em que a penicilina ainda não tinha sido descoberta, ele ficou internado durante 7 anos em um sanatório em Campos do Jordão e saiu de lá com metade do pulmão necrosado. Por causa disso, eu e minha irmã fomos criadas  para nos tornarmos independentes o mais rápido possível, crescemos ouvindo que não existiam limites para nossos sonhos, que poderíamos ser quem quiséssemos, que a inteligência e a capacidade de realização independia de gênero. 

Por causa dessa sensação de perenidade, cresci com a certeza que sou  a única responsável por minhas escolhas, e no final Deus me presenteou dando vida longa aos meus pais que puderam ver os resultados de todo esforço para nos educar.

Voltando para as princesas, minha irmã se formou em medicina na USP e passou na residência de cirurgia geral, trabalhou como médica durante alguns anos e quando engravidou da primeira filha resolveu abandonar a profissão e ser mãe.

Consigo ver sua expressão de espanto ao ler esse último parágrafo, como é possível alguém largar uma brilhante carreira profissional para ser mãe?

Como não somos princesas reais que precisam seguir protocolos de comportamento, nem obedecer o ditado que diz “Noblesse oblige”, podemos decidir ser quem quisermos, independente do que os outros pensam. 

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Ainda bem que atualmente até os desenhos animados estão mudando e criaram personagens de princesas inspiradoras que lutam por seus ideais e vão atrás dos seus objetivos, sem medo e com muita coragem para enfrentar  inimigos.

Numa sociedade competitiva onde a aparência é muito importante, onde o sucesso profissional é exaltado, onde parece que só há vencedores onde cabem as pessoas cujas escolhas são cuidar dos filhos e da casa?

Tenho amigas que deixaram o mercado de trabalho porque foram afastadas, ficaram “velhas e caras” e foram substituídas, outras foram aposentadas e buscam se reinventar, encontrar uma nova atividade que traga rendimentos financeiros e realização pessoal.

 Algumas delas quando perguntadas sobre o que fazem atualmente  se transformam em avestruzes e enfiam as cabeças num buraco para não ter que responder.

A reflexão de hoje é sobre as avaliações precipitadas, sobre a mania de palpitar sobre a vida alheia, afinal,  podemos ser princesas guerreiras, profissionais liberais, astronautas, ativistas, donas de casa, mães em tempo integral, educadoras, dirigentes de empresas e motoristas de tapetes voadores.

O que importa é que a decisão seja sua!

“A vida é a soma das suas escolhas.” Albert Camus
” O jeito é curtir nossas escolhas e abandoná-las quando for preciso, mexer e remexer na nossa trajetória, alegrar-se e sofrer, acreditar e descrer, que lá adiante tudo se justificará, tudo dará certo.” Martha Medeiros

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