Márcia Sakumoto: Coronavirus no Japão

O coronavírus no Japão vem até em um ritmo considerado lento comparando com países mais distantes da “nossa vizinha China”, pelo menos é o que dizem as notícias e autoridades no país até a última noite de sexta-feira (13 de março), eram 771 casos confirmados e 21 mortes comparada a uma proporção bem abaixo da Córeia do Sul que vem atrás da China, Itália e Irã. Esses fatos nos mostram a estratégia de cada povo, de cada líder lidar com o mesmo desafio. A diferença de atitude me fez refletir no despertar da consciência coletiva, e o medo é o gatilho que paralisa e desconecta tudo.

O plano de ação japonês foi mudando conforme a evolução da situação. No início, o pensamento era   a contenção, a segunda foi prevenção seguida de tratamento até aportar navio carregado de vírus e desembarque de pessoas forçando o cuidado e seguindo para a próxima estratégia de evitar a propagação da infecção, através de rastreamento, foram formados grupos monitorados por especialistas em nove regiões diferente no país, definindo assim que  sintomas de pneumonia são encaminhados como casos graves para hospitais, casos com sintomas leves são recomendados recuperação em casa, evitando transformar os hospitais em possíveis criadouros do vírus.

O primeiro ministro do Japão Shinzo Abe após ouvir especialistas dizerem ser praticamente impossível impedir a disseminação do coronavírus, decretou imediatamente a paralização das aulas, antecipando e aumentando o tempo de férias nas escolas. O ano letivo japonês é finalizado em março, os alunos normalmente saem em férias por volta do dia 20 de março e retornam no início do mês de abril. Também foi sugerido o cancelamento ou adiamento de eventos públicos. O primeiro ministro também aprovou a liberação de emergência do fundo de reservas no valor U$2,5 bilhões para conter e amenizar o impacto na economia. Fechamento de fronteiras desde dez de março também não permitiram a entrada de estrangeiros que haviam viajado no período de 14 dias para as regiões com surto. (Córeia do Sul, China, Irã, Itália e San Marino). 

Ao contrário do que foi divulgado nas redes sociais o Japão não decretou Estado de Emergência, ainda, a declaração do primeiro ministro se referia a uma revisão na lei de 2012 criada justamente  para evitar a propagação de novos tipos de gripes, se a lei for acionada tem como decreto exigir que moradores permaneçam em suas casas. Embora não tenha sido acionada, muitas dessas diretrizes estão acontecendo, com o fechamento das escolas muitos pais estão em casa com seus filhos, museus, parques temáticos como Disney e Universal Studios, festival das Cerejeiras, Tokyo Fashion Week e Anime Japan estão paralisados, colocando em dúvida até a realização do evento olímpico em Tóquio. Assim todos estes fatos e medidas, além de boatos espalhados nas redes sociais mudaram a rotina da população que tem a mente focada em prevenção, o que também não é ruim se usada com coerência, um povo sofrido com histórico de guerras, desastres naturais e alguns costumes, a população tem por hábito estocar materiais e alimentos ao pequeno alerta de casos assim. Nesses últimos dias papel higiênico, máscaras, macarrão instantâneo, enlatados, álcool gel e lenços umedecidos estão sumindo das prateleiras. inclusive por conta do boato que desencadeou a caça ao papel higiênico, devido um post na rede social referindo -se a principal matéria prima do papel higiênico que vem China paralisou a produção por causa do coronavírus, o que afetaria com a falta do mesmo todo o Japão. Em uma semana não havia mais papel para vender em lugar nenhum do Japão, apesar de ter sido divulgado que um funcionário de uma cooperativa ligado a área da saúde havia feito o post e autoridades desmentiram o funcionário declarando que o Japão produz o próprio papel e não precisava a população se preocupar, a população está apreensiva, a reposição está sendo feita, porém prateleiras continuam esvaziando em um único dia, muitos lugares passaram a limitar a compra por pessoa. Enquanto japoneses se preocupam com o estoque de produtos, imigrantes que trabalham com contratos temporários, remunerados por hora sem nenhuma estabilidade ou garantia se sentem ameaçados, a paralização dessas empresas podem gerar proporções muito maiores, pois a economia é movimentada no país pelas montadoras que já diminuíram suas produções por falta de peças que vêm da China. Apesar de tudo ninguém quer falar em crise, seguindo otimista.

E como algo tão pequeno pode causar um estrago tão grande? Sabe o que é mais curioso, pequenas atitudes contribuem para a prevenção, o aumento sua imunidade através da alimentação também contribui, assim como lavar as mãos e pulsos, usar álcool em gel e máscaras, evitar lugares fechados e com aglomerações de pessoas, proteger e se cuidar ao tossir ou espirrar. Quantas vezes ouvimos e até dizemos: quem ama cuida! Mas não é somente para o amor da sua vida, é por amor a vida e não esse salve -se quem puder! Percebe como complicamos tudo, a vida pode ser mais simples. Estamos desconectando uns dos outros, desconectando do nosso eu? Talvez agora você desperte, porque é um fato, não podemos nos tocar, não podemos transitar e dependemos uns dos outros mesmo distantes, sem perceber e aceitar que somos todos um, estamos ligados. E o quanto é importante cuidarmos de nós e cuidamos do próximo como a si mesmo. 

Qual ensinamentos você acha que esse desafio tem para nós, o coletivo?

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