Atire a primeira pedra quem já não teve um entrave com a pessoa amada. É difícil não ter, afinal ao longo de séculos o ser humano sempre teve e terá opiniões e versões contrárias em relação a outras pessoas, baseadas em sua própria perspectiva de existência.
A vida não bate em ninguém, somos nós que apanhamos de nós mesmos.
Erramos, acertamos, dizemos muita coisa sem pensar, agimos num impulso instantâneo e depois colhemos as consequências de nossas escolhas e decisões.
Somos ofendidos, ofendemos, somos magoados e magoamos, ferimos e somos feridos e nem sempre pode ser compreendido ou perdoado.
Muitas coisas na vida a dois fazem marcas profundas, que doem apenas por serem lembradas por um segundo, muitas vezes na vida a dois perdemos aquilo que era a coisa mais importante em nossa vida e não poderemos mais recuperar.
O amor acontece, o relacionamento tem início e com ele uma suposta experiência baseada em nosso próprio sentimento que sabemos tudo para fazer desta união um exemplo de felicidade. Nem tudo, ou melhor, quase nada.
Logo vamos tentando impor nosso ritmo de razões e certezas, sem considerar as razões e certezas da outra parte. Somos sempre a prioridade, sem considerar a outra parte e assim a outra parte vai sendo desconsiderada.
Em nome de instantes que nos mantém com a razão em mãos, fazemos sangrar um relacionamento promissor.
Estar certo ou certa num relacionamento talvez seja um dos pontos mais frágeis a dois e o início de um longo final infeliz.
Não se consegue a paz a dois evitando brigas, mas sim se relacionando de coração para coração.
Quando trocamos esperanças num relacionamento, não podemos fazer coisas que tirem esta esperança da outra pessoa, temos de produzir comportamentos que alimentem esta esperança de um amor promissor.
O ego tem sido um grande inimigo do amor ao longo de muito tempo. Ele tem deixado alguns corações cegos, alguns cérebros atordoados e muita gente sozinha com suas mágoas de não ter conseguido amar ou por ter perdido um amor.
A razão é importante, a emoção é importante, porém mais importante que estes dois itens é o equilíbrio entre eles. É isto que temos de buscar, o caminho não é o da direita ou da esquerda, é o do meio, é o caminho do equilíbrio.
Somos os únicos responsáveis por nossos desafetos com a pessoa amada, através da avaliação que fazemos dos fatos e de como reagimos a eles.
A vida nos marca com o ferro, mas somos nós que nos ferimos com o fogo.
Imaginamos coisas lindas quando amamos alguém, imaginamos comportamentos especiais, mas logo nos surpreendemos fazendo tudo ao contrário e o pior, culpamos a outra pessoa. Agimos em desacordo com aquilo que desejamos ter e ser. Quando queremos alguma mudança em nossa vida, temos de agir de acordo com a mudança que esperamos conquistar.
Sofrer não faz parte do amor, sofrer faz parte do egoísmo das pessoas que não sabem amar.
O ímpio de querer fazer valer sua autoridade e sua superioridade num relacionamento não lhe coloca em posição de destaque no coração da outra pessoa. Onde há autoridade não existe amor, onde há superioridade não existe amor, apenas um relacionamento mantido por motivos diversos, nem preciso falar sobre eles, cada pessoa sabe direitinho por que agüenta o que agüenta em seu relacionamento.
Nem sempre a razão de um dos lados torna o equilíbrio uma função nutritiva, melhor que alguém ficar com a razão é encontrar maneiras de ficarem cada vez mais unidos.
Sempre que uma divergência tem início, os casais deveriam perguntar se isto irá uni-los ou afasta-los.
Brigas têm início com pequenos detalhes: uma toalha no chão, um jornal na sala, um xampu aberto, um recado esquecido… mas estes detalhes vão se transformando na visão de uma das partes em falta de atenção, descaso, falta de consideração, até que a gota d’água acontece, ai os dois ganham um visitante indesejado no relacionamento, uma briga.
As brigas começam por quase nada e terminam com quase tudo.
O que era esperança de felicidade se torna sentença de sofrimento; o que era amor se torna ódio; o que era afago se torna ferida; o que era atenção agora é provocação; o que era uma promessa de união se momentos de afastamento.
Ele diz que ela mudou, ela diz que ele mudou, mas a verdade difícil de aceitar é que os dois de alguma maneira deixaram algo importante para trás, que faz muita falta para prosseguirem com seu relacionamento.
Perderam a força de acreditarem um no outro e preferem ser vítimas de interferências externas, mas nem sempre as coisas acontecem fora de nós, mas dentro de nós mesmos.
Um coração sempre quer voltar para casa, fazemos nossa casa no coração do outro, o outro faz sua casa em nosso coração, mas num destes dias à porta encontra-se fechada, é muito difícil entender porque, as conjecturas começam e o que parecia impossível de acontecer, torna-se realidade, começamos a perceber que a pessoa que amamos está ficando cada dia mais longe de nossas mãos.
O incrível das brigas é que elas afastam e separam pessoas que ainda se amam muito e conseguem ser mais fortes que o amor entre elas ou as pessoas preferem acreditar mais em seus momentos de fúria do que em seus momentos de amor.
Brigas são perigosas e traiçoeiras, conduzem as pessoas além de sua razão, despertam nas pessoas um ímpio desconhecido que se coloca à frente de qualquer sentimento e provocam feridas que talvez nunca possam ser cicatrizadas.
Temos uma conduta cerebral que nos lembra mais do pior que do melhor, entre uma briga e outra, muitas coisas são ditas, em todas elas sem que se perceba planta-se uma maldição no relacionamento, a qual virá a tona outras vezes para assombrar os dois corações.
Cada casal sabe muito bem qual os motivos de suas brigas, elas são diversas, mas também são comuns, não há muita diferença num contexto de alguns itens.
Casais brigam por causa de parentes; indiferença conjugal; incompatibilidade de gênios; divergências caseiras; administração financeira; oposição nas escolhas e decisões; quando o amor se torna apenas convivência conveniente; quando sofrem de algum tipo de desvio de personalidade e quando valores e princípios da união são desrespeitados por uma das partes.
Muitas vezes para evitar um mal maior um dos lados cria uma aparente e inofensiva mentirinha, nasce ai uma brecha para grandes mentiras, o que vai tornar o relacionamento algo fútil e insustentável.
A melhor maneira de viver muito é não morrer, a melhor maneira de manter um relacionamento saudável é procurar fazer dos pontos de divergência uma conversa nutritiva.
É difícil, principalmente naqueles instantes onde a emoção aflora e vem à tona nossos mais secretos anseios de manifestar a brados aquilo que pensamos, e difícil, mas é necessário.
O perigo não está em brigar, está em como brigar está no nível de tensão que causamos no relacionamento quando se briga. As pessoas têm seus limites para tudo na vida, inclusive o de ouvir coisas que possam lhe causar um aumento de transtorno e desconforto existencial.
Conheça os limites suportáveis de sua cara metade, quando a briga não puder ser evitada, permaneça dentro dos limites, assim você vai demonstrar mais interesse em solucionar a razão da briga do que desrespeitar e agredir com palavras quem escolheu para amar.
César Romão.
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