Priscilla Ávila: mais um jantar

Meu pai se chamava Fé e ele partiu antes de eu virar um zigoto. Minha mãe se chamava Epifania, mas ela morreu no meu parto. Cresci com outros órfãos na rua do Ascetismo. Minha escola se chamava ‘Libertação do Corpo e da Alma’ e lá tive dificuldades de aprendizagem. Ainda estou na alfabetização mesmo com 30 anos.

Abençoados os seres que se realizam com o pão e o suor de cada dia, mas eu não como glúten e o ar condicionado  está sempre no máximo. Nossa, são 18 horas! Posso ir embora. Derramo no relógio uma gota do meu frasco de gozo que coletei durante toda a minha vida de privações.

‘Você vai compartilhar a corrida com Ilusão’, fui alertada pelo aplicativo. Conheci Ilusão num dia de semana,  cansada e com fome. Compartilhamos o carro e nossas vidas, então perguntei se poderíamos sair para jantar, pois   estava quase em estado de inanição com minha nova dieta de jejum de 24 horas. Ilusão ligou para seu namorado para avisar e vi em seu rosto um sofrimento que apenas comedores de coxinha vegana, como eu, costumam experimentar.

No restaurante, Ilusão enchia o prato da mesa com lágrimas ao me contar como seu relacionamento era triste e sofrido. Ele se chamava Desejo e a todo tempo fazia ela querer mais e mais prazeres, fazia ela sonhar com mais e mais coisas. “Isso não é bom? ” indaguei. Ilusão não respondeu, abrumou seu cenho, colocou um bolo de dinheiro na mesa e partiu do restaurante sem se despedir.

Dei minha última garfada de comida, imaginando o que poderia fazer com todo aquele dinheiro que estava na mesa. Lembrei onde cresci e nada mais me vinha a mente. Levantei e deixei para trás aquela noite junto à sopa de pranto com croutons de notas de 100 reais. De sobremesa eu apenas levei a lembrança da minha amiga, Crença. Ela costumava me ensinar (encher o saco) que eu tinha tudo que preciso e saberia onde encontrar a paz e a felicidade.

‘Quantos lugares você precisa?’ perguntava o aplicativo. Desliguei o gps e o celular. Fui a pé, buscando o caminho para encontrar eu mesma.

I Don’t feel what you’re bearing now

I don’t reach you when you going down

I just care about my frozen hell

Making blank sheets for you untell

Maybe that wasn’t enough for you

You keeping drinking my sour Bordeaux

And you’re wishing a different taste

But I’ll never buy your birthday cake

My problem is not hating you

Cuz I’ll never gonna love you too

Let your fingers rest on another note

This keyboard is not having another road

This is not a poem that I made to rhyme

It’s just a music with no good lines

For inspire you when I’ll walk away

Cuz you inspired me plenty many days

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