Silene Silva – Pet: Um encontro especial

Vez ou outra percebemos que, durante a nossa caminhada na vida, esbarramos em raridades que nos proporcionam imenso acalanto ao coração. Mesmo em situações mais delicadas, inesperadas e difíceis, é possível sentir o cheiro que exala de um encontro especial que adoça a nossa caminhada. Às vezes, Deus nos coloca em um caminho diferente, em rotinas distintas, somente para esses esbarrões com pessoas ou seres especiais acontecerem.

E assim Ele preparou o esbarrão especial entre a jornalista Helena Fernandes e Frederica, carinhosamente chamada de “Frede: a tomba-lata pé vermelho”.

Ano de 2012, em uma jornada de trabalho, Helena participava de uma campanha política, trabalhava e morava no mesmo local, em Londrina, município do Estado do Paraná (PR). O QG (sigla pra quartel general, usada para se referir a um centro, escritório ou um local de encontro para se fazer reuniões) também acolhia a sua chefe. Ambas de São Paulo.

A trabalho, morando em outra cidade, as paulistanas costumavam ir em um salão de beleza próximo ao QG. Havia uma cadelinha que dormia na porta do estabelecimento e vivia de doações dos comerciantes locais. Algumas pessoas diziam que o cão teria sido abandonado por tutores. O animal não era um filhote. Frede aparentava ser uma jovem “senhora”, com cerca de quatro anos de idade.

A amiga de Helena sugeriu que levassem a cachorrinha para o home-office delas. Viram no cão uma companhia, além da segurança que poderiam ter com Frede ao lado. Afinal, Frede é um cachorro de porte médio ao grande e estavam sozinhas numa cidade que pouco conheciam. De acordo na decisão, as jornalistas embarcaram na aventura de ser ter um cão!

Como todo procedimento de uma adoção, o primeiro passo é levar a um médico veterinário e fazer check-up no bicho — ainda mais se tratando de um cão retirado das ruas. Frederica tinha feridas pelo corpo. Logo de cara, a profissional deu um diagnóstico negativo: algo muito sério na pele da cadela necessitaria de um cuidado minucioso. Por orientação da veterinária, iniciaram tratamento com corticoide e banho com shampoo especial, uma vez por semana.

Com o passar dos dias, a bichinha melhorou e muito. Ganhou peso e tornou-se a alegria da casa. Mas não imaginavam que Frederica carregava uma patologia séria no organismo. A campanha política chegou ao fim e, por toda fidelidade e amor que Frederica dispensou às jornalistas, além do fato de estarem apaixonadas pela mascote, decidiram “carregá-la na bagagem” rumo a São Paulo.

Helena morava na região central da capital paulista, em um apartamento espaçoso. E mesmo sendo tutora de um casal de gatos mimados, Capitu e Tristão, resolveu adotar Frederica definitivamente. A cadelinha aos poucos foi conquistando os bichanos, a vizinhança ao arredor do condomínio e demonstrava um comportamento de gratidão para a jornalista. “Frede era muito grata e me retribuía com obediência. Percebeu que cuidaria dela, e me defendia de tudo e de todos”, contou a jornalista.

Helena não pôde imaginar que a luta com Frede estava apenas começando. A cadelinha estava novamente com feridas pelo corpo que, inicialmente, com medicamentos, conseguiu amenizar.  Frederica carregava uma doença rara em pets. O animal começou apresentar um quadro clínico muito sério na pele e, mais uma vez, Helena procurou um especialista. Com os muitos gastos que a jornalista mantinha com os três pets em casa, ela buscou alternativas satisfatórias e econômicas naquele momento. Com a ajuda da amiga e chefe, Helena custeava os gastos com o pet. Foi necessário consultar vários profissionais. Passaram-se anos de exames, medicamentos com corticoide para fechar as diversas feridas que surgiam no bicho, mas nenhum médico veterinário conseguia chegar a um diagnóstico exato. Até por um oculista Frederica teve de passar porque, além da doença na pele, a cadelinha era portadora da síndrome do olho seco, quando não produz lágrimas ou não é capaz de fornecer lubrificação aos olhos.

Nos meses seguintes, Frederica teve um sangramento e passou por cirurgia para a retirada do útero. A cadelinha já havia sido castrada no Paraná. E, com todos os problemas de saúde que Frede apresentava, nenhum veterinário havia conseguido descobrir o que a pet tinha de tão grave que não se curava da enfermidade pelo corpo. A pet teve de ser submetida uma lavagem estomacal durante este período porque algo que comeu bloqueou o intestino — a cadelinha carregava uma fragilidade intensa em sua saúde, e necessitava de cuidados rigorosos. Na busca de encontrar uma solução para as várias enfermidades da pet, Helena buscou ajuda e insistiu com os profissionais. Um dos veterinários pediu novos exames e a biopsia finalmente desvendou o mistério: Frederica era portadora de Lúpus. A doença que é uma inflamação ulcerosa, mais comum em seres humanos, demorou dois longos anos para ser diagnosticada, e afetava a bichinha de forma intensa e cruel. Feridas pelo nariz e orelhas, causavam mal-estar no animal.  

Helena, que tem diabetes tipo 1, há mais de trinta anos, achou inacreditável que sua cachorra tivesse também uma doença autoimune assim como ela. E mesmo com tantas dificuldades, entendeu que Frederica não havia cruzado seu caminho por um acaso. Algo especial havia nesse encontro. E teve a certeza de que um desses esbarrões especiais que Deus promove durante a nossa vida, tinha sido com Frede.

Já em 2014, a mãe cuidadosa e zelosa, até então, com sua guerreira canina, foi surpreendida com uma gravidez que foi descoberta inicialmente por Frederica. A cadelinha já sentia a presença da “irmãzinha” que chegaria meses depois. “Antes que eu desconfiasse da vinda de um novo integrante à família, Frede lambia minha barriga e soltava gemidinhos. Ela sabia que teria uma irmã para dividir a atenção dessa mãe atrapalhada, mas que não abandona os filhos em hipótese alguma”, disse.

Maria Eduarda, atualmente com dois anos, nasceu em 2015 e tem verdadeira paixão pela “Dede”, como chama Frederica. A luta travada pela cadelinha e Helena não foi e não está sendo fácil. Mas com amor e dedicação, a jornalista conseguiu driblar todas as dificuldades e sofrimento que a saúde frágil de Frede causou. “A Frederica me escolheu porque, no fundo, ela sabia que eu nunca desistiria dela”, finalizou Helena.

Atenção redobrada, ração de primeira linha, medicamentos de diversos custos e cuidados especiais. Na vida, só temos um ao outro. O amor é que nos alimenta. Ter a quem cuidar é o maior presente que Deus pode nos dar. E não importa as circunstâncias, os animais provam a cada dia que são pedaços singelos de amor a nos envolver de maneira única, mesmo com as dificuldades que às vezes carregam.  E tem sido assim com Helena e Frederica: um encontro especial!

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