Giordanna Galvan: Coluna – História do Carnaval

Olá, queridos leitores.

Vou contar um pouco da história do Carnaval.

Primeira coisa a dizer: grande parte dos brasileiros adora carnaval. É uma das nossas festas mais populares porque somos um povo alegre, lúdico, muito social, que ama música, dança e expressões culturais.

Existem várias festas que podem ter inspirado o que seria o Carnaval hoje, como no antigo Egito em suas oferendas aos deuses.

Na Grécia antiga, por volta de 600 a.C., tinham festas pagãs associadas às culturas e celebravam a fertilidade.

Na Roma antiga havia festas com muito álcool e comida que duravam, em geral, uma semana. Enquanto Jesus meditava e jejuava no deserto, Herodes dava uma festa de aniversário para sua sobrinha, que pedia a cabeça de João Batista, primo de Jesus. Então a igreja associou a festa com a morte de João Batista.

Na idade média, a igreja vendo a popularidade da festa pagã, coloca a mesma no calendário, terminando 40 dias antes da Páscoa. A Quaresma, período de jejum e meditação, onde não se podia comer carne e nem beber álcool.

Carnaval Medieval na obra de Pieter Brueghel 1559

O nome do carnaval vem do latim clássico “carnem levare” ou “carnis levale”, que significa na tradução literal “abstenção da carne”.

No século XVI foi trazido ao Brasil pelos europeus, os Entrudos, influenciados pelos festivais carnavalescos da Europa e principalmente de Portugal. Saíam às ruas, jogavam água perfumada, os famosos limões de cheiro, farinha de trigo e até lama uns nos outros. A serpentina e o confete estão relacionados com essa época.

Cena de entrudo em 1880, em desenho de Angelo Agostini

Os escravos pintavam seus rostos de branco, e como não tinham perfumes e flor de trigo, jogavam lixo ou água suja uns nos outros. A prática de jogar algo uns nos outros se tornou um pouco violento e caótico e por isso o Entrudo foi banido no Brasil na segunda metade do século XIX.

Entrudos e Guerra de Limões-de-Cheiro na obra de Jean Baptiste Debret

Com isso a classe alta da sociedade fazia seus carnavais nos palácios, clubes e salões tocando polca e vários ritmos europeus.

Já no final século XIX, os foliões voltaram às ruas com os chamados cordões e ranchos, grupos de pessoas vestindo fantasias e que carregavam faixas decoradas.

E em 1899, uma grande mulher, regente musical e compositora brasileira, chamada Chiquinha Gonzaga, criou a primeira marchinha, estilo musical que lembra uma marcha de soldado, e era tocada em grande parte das festas e desfiles populares nos carnavais. A primeira marchinha chama-se “Ô Abre Alas”.

No século XX, com as chegadas dos automóveis, começaram os chamados Corsos, desfiles onde a

Rancho carnavalesco Créditos Site Rio de Janeiro aqui

As pessoas decoravam seus carros e dirigiam pela cidade. Esta foi uma das origens dos carros alegóricos, que mais tarde se tornariam parte dos desfiles. Outra teoria é que os primeiros carros alegóricos foram feitos para celebrar alguns momentos importantes, como o nascimento de um príncipe ou casamentos. Os carros também eram decorados com mensagens críticas da sociedade.

Corsos Créditos O Rio de Antigamente

E então nasceu o samba no início do século XX, ritmo musical que mescla a percussão afrodescendente com diversos ritmos europeus como polca, valsa, mazurca, maxixe, minueto, entre outros.

Na casa da Tia Ciata, baiana, que abria sua moradia para a música, foi criado o primeiro samba, “Pelo telefone”, em 1916, do músico Donga.

Na década de 1920, a comunidade afrodescendente, de forma artística e musical, ganha voz e cria as primeiras agremiações. Era uma forma de ensinar essa nova arte, nova expressão, música nova.

De início tiveram que contar a história do Brasil em suas tramas, em suas letras musicais e nos desfiles. A Deixa Falar foi a primeira, em 1928, hoje Estácio de Sá, com a maioria dos músicos negros, tinha esse novo ritmo para ensinar, por isso chamada Escola de Samba ou Acadêmicos.

A ideia cresceu tanto que, em 1930, no Rio de Janeiro já tinham cinco escolas de samba. Hoje é um grande show, uma grande competição, que envolve doze agremiações só no Grupo Especial do Rio de Janeiro, não citando todas as agremiações espalhadas por todo o Brasil.

E os primeiros desfiles foram feitos nas ruas perto da casa da Tia Ciata, no centro do Rio de Janeiro, depois na maior avenida do centro da cidade, a Presidente Vargas, onde montavam estruturas de arquibancadas todos os anos para as pessoas assistirem os desfiles.

Carnaval na Avenida Presidente Vargas Créditos Acervo O Globo

Em 1984, foi inaugurado o Sambódromo do Rio de Janeiro, projeto de Oscar Niemayer, sendo palco permanente dos desfiles oficiais.

Todos os anos, cada escola de samba escolhe um tema, faz uma pesquisa profunda, compositores desenvolvem o samba-enredo e o carnavalesco, um profissional muito criativo, desenha os carros alegóricos e figurinos, que são feitos um por um, grande parte manualmente, por profissionais em grandes barracões.

Carnaval 2019 – foto aerea da Portela no sambodromo no Rio de Janeiro – Foto: Cezar loureiro/Riotur

A Cidade do Samba é como se fosse uma fábrica, onde os carros alegóricos são construídos e feitos os figurinos. Ela fica a 5 km do Sambódromo. Pensem no trabalho que é levar os carros alegóricos até lá.

Uma escola de samba tem, em média, 3.000 pessoas desfilando. A maioria faz parte da agremiação, desfilam voluntariamente, moram na área onde cada Escola de Samba tem sua sede, geralmente bairros de classe de baixa renda.

Muitas Escolas de Samba proporcionam trabalho e oferecem projetos sociais, trabalhos feitos com muito amor ao samba e ao carnaval.

Quem não pertence à associação e quer desfilar, geralmente compra os figurinos para poder desfilar, fantasias que podem custar até R$ 50 mil.

As Escolas de Samba trabalham oito meses do ano para preparar o desfile. Elas têm patrocinadores e ganham dinheiro para se manterem, com a venda de ingressos, fantasias, direitos de TV, e ensaios nas suas quadras. O custo para a montagem de um desfile pode chegar a R$ 10 milhões.

Trabalhos manuais Créditos Hermes de Paula

Há desfiles em várias cidades do Brasil, mas os mais conhecidos são do Rio e de São Paulo.

Outra forma que celebramos essa festa é o carnaval de rua, onde bandas e percussionistas tocam em um determinado lugar ou em caminhões e a multidão os segue cantando e dançando.

Só para se ter uma ideia, o último carnaval do Rio, em 2019, teve aproximadamente quinhentos desfiles de rua que se apresentaram nos cinco dias de carnaval, começando sexta-feira e terminando quarta-feira de manhã.

Rio de Janeiro RJ 01 03 2020-Pós Carnaval Monobloco – Foto: Fernando Maia | Riotur

Há também festas em locais privados, clubes e blocos para famílias e crianças.

Cada região do Brasil tem seu carnaval, com diversos ritmos musicais e diversos formatos, mas com certeza é um momento de folia onde você se torna uma criança novamente e pode ser o que sonhar.

O carnaval, além de ser uma tradição cultural brasileira, tornou-se um negócio lucrativo na indústria turística e do entretenimento. Milhões de turistas chegam ao Brasil na época do festival, e bilhões de reais são movimentados na produção e consumo dessa mercadoria cultural.

O Carnaval é cheio de cores, ritmos, beleza, mas o que faz tudo isso grande é a energia, alegria, amor e o trabalho de criatividade que dá o título de “maior show da Terra”.

Giordanna Galvan

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem de capa: Alegro

Uma resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens