Opinião

E o Oscar vai para…  –  Quais filmes têm mais chance de vencer algumas das principais categorias do Oscar 2023?

A 95ª edição da premiação mais aguardada do mundo do cinema está chegando. No próximo domingo (12), será transmitida a cerimônia do Oscar 2023, que conta com uma lista de dez filmes disputando à categoria principal: a de Melhor Filme. Mas para além dos longas que concorrerão ao grande prêmio dessa noite, uma lista fortíssima de filmes também integra a disputa pelas outras categorias, como de Melhor Fotografia, Trilha Sonora, Animação, Filme Internacional etc.; por tudo isso, a coluna dessa semana terá uma abordagem diferente do seu usual.

Hoje, vou apresentar meus palpites, como crítica cinematográfica, acerca dos filmes que poderão vencer as principais categorias do Oscar 2023, com embasamento teórico e analítico, tomando por base a própria a estrutura desses filmes e os últimos acontecimentos do mundo do cinema. Sendo assim, fique agora com uma lista comentada sobre os possíveis premiados dessa edição:

Pantera Negra: Wakanda para Sempre (Melhor Figurino)

 Apesar de ser um blockbuster, ou seja, um filme pensado para atingir grande popularidade e alcance, é inegável que a premissa da até então duologia do super-herói Pantera Negra subverteu o padrão das adaptações de revistas em quadrinhos para filmes. Explorando ricamente as nuances de um povo africano para construir Wakanda, cidade afrofuturista fictícia do universo Marvel, a equipe de construção desse filme, majoritariamente composta por pessoas pretas, trouxe grande representatividade com seu enredo.

E essa representatividade não seria tão facilmente identificável na obra se não trouxesse elementos da própria cultura de alguns povos africanos na composição. Nesse sentido, o trabalho da figurinista Ruth E. Carter, responsável pelos figurinos dos dois filmes da franquia é impecável. Vencedora do Oscar na mesma categoria pelo primeiro filme, Ruth fez uma extensa pesquisa sobre vestimentas e adereços típicos de alguns povos tradicionais do continente africano e dos Maias para criar os figurinos do povo de Wakanda e Talocan.

O resultado dessa pesquisa se torna nítido através da verossimilhança assustadora das vestimentas com a realidade. Com fontes de inspiração em trajes e símbolos mesoamericanos, como as plumas e as serpentes, bem como de províncias africanas como zulu e banta. Ainda que não vença a categoria, o trabalho da figurinista é absolutamente extraordinário e merecedor do prêmio dessa categoria.

Nada de Novo no Front (Melhor Fotografia e Melhor Filme Internacional)

O segundo filme mais indicado da noite, disputando nove categorias é um impressionante longa metragem de guerra alemão que narra, através da perspectiva de um jovem de apenas dezessete anos, os horrores da Primeira Guerra Mundial. Dentre as muitas nuances na qual essa produção se destaca, está a fotografia de autoria de James Friend, que consegue captar esses horrores com maestria, além de brincar com os contrastes entre a vida e a morte.

É um trabalho magnífico que traduz, com perfeição, a essência do filme e de uma guerra.

Indicado também na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, certamente sua genialidade o levará a vencer esse segundo prêmio, uma vez que o filme não só foi sucesso imediato de público como também de crítica.

Babilônia (Melhor Trilha Sonora Original)

Composta por Justin Horwitz, responsável por grandes trilhas sonoras já conhecidas no mundo cinematográfico, como a dos filmes La Land (2016) e Whiplash (2014), a trilha sonora do filme Babilônia acompanha, com excelência, a premissa do enredo. A história se passa durante a Era de Ouro do cinema hollywoodiano, mas não possui o olhar glamourizado que normalmente as obras cinematográficas que se versam sobre o tema adotam.

Uma vez que a premissa se versa, despudoradamente, sobre a hipocrisia, excessos e depravação da elite hollywoodiana daquela época, a trilha sonora precisa ser, necessariamente, muito frenética. E sem a menor sombra de dúvida, Horwitz alcança esse frenesi através de suas composições com uma perfeição estonteante, merecendo muito o título de vencedor dessa categoria.

Naatu Naatu (Melhor Canção Original)

Interpretada por Rahul Sipligung e Kaala Bhairava, a canção do filme RRR (Revolta, Rebelião, Revolução) pode levar um Oscar para a Índia esse ano, com seu ritmo extremamente alegre e dançante, que lhe rendeu inclusive o Globo de Ouro na mesma categoria. A composição de MM Keeravaani e Chandrabose será apresentada durante a cerimônia do Oscar nesse domingo e tem grandes chances de fazer história ganhando o prêmio.

Avatar: o Caminho da Água (Melhores Efeitos Visuais)

Vencedor moral dessa categoria, o trabalho na parte de efeitos visuais de Avatar tem sido impressionante desde o primeiro filme da franquia. Se engana quem pensa que as surpresas no que tange à criação de métodos inovadores na produção desses efeitos para criar a atmosfera do planeta fictício de Pandora acabaram no primeiro filme. De maneira impressionantemente audaz, o diretor James Cameron optou por gravar o segundo filme, em que grande parte das cenas se passam debaixo da água, sem o uso de computação gráfica para não perder o realismo nos movimentos dos atores.

Ou seja, o elenco gravou a maior parte do filme mergulhando e nadando em um tanque gigantesco; com o uso de uma câmera especial criada pela própria equipe para produção desse longa metragem e a tecnologia de captação de movimento já utilizada no longa anterior, o resultado traz à tona uma Pandora vívida, colorida e pulsante, que inflige quase que compulsivamente o mais absoluto encanto no espectador. Nesse cenário praticamente inacreditável, torna-se muito fácil afirmar que essa experiência cinematográfica entregue por Cameron e sua equipe é um verdadeiro espetáculo visual.

 

Cate Blanchett por Tár (Melhor Atriz)

Pode-se dizer que Blanchett já se consagra como uma das maiores intérpretes da atualidade, tendo protagonizado filmes de notoriedade inquestionável, como O Curioso Caso de Benjamin Button (2008), Carol (2015) e, mais recentemente Não Olhe Para Cima (2021). Já seu último papel, que lhe rendeu a indicação à categoria de Melhor Atriz esse ano e sétima de sua carreira, é praticamente um furacão, que só poderia ser interpretado por uma grande atriz como Blanchett.

Provando mais uma vez seu talento, ela interpreta Lídia Tár, a primeira mulher a liderar a Orquestra Sinfônica de Berlim. Uma mulher de sangue quente, teimosa, abusiva, de personalidade extremamente difícil e obcecada por seus objetivos. Blanchett encarna toda a raiva de sua protagonista com afinco visível em cada um dos seus trejeitos, até mesmo em sua forma intensa de comandar a Orquestra – a atriz teve que conduzir uma orquestra de verdade para o papel, o que demanda muito treinamento e não é nada fácil.

Toda vez que surge em cena, com seus modos compulsivos, compenetrados e raivosos, a estrela externa a mais absoluta excelência, entregando uma atuação visceral, merecedora do prêmio dessa categoria.

Cá para nós, a direção de Darren Aronofsky em A Baleia é absolutamente grotesca. Na maioria das cenas, só o que o diretor consegue inspirar no público com seu polêmico protagonista, um homem em obesidade mórbida que pesa 278kg e está morrendo, é a mais completa abjeção. Se o filme consegue emocionar, é graças à atuação impecável de Brendan Fraser, que com sua entrega nítida ao personagem, evidencia seus sentimentos, desejos e vontades com uma sensibilidade ímpar.

Mas para além disso, Fraser deu uma aula do que se conhece no campo cinematográfico como “o método”, uma técnica em que atores e atrizes, literalmente, passam a viver seu personagem. Tendo ganhado peso especificamente para o papel e utilizado próteses para aumentar a impressão de seu tamanho físico, o ator se entregou ao personagem de tal forma que o resultado foi o único possível: uma atuação memorável e digna de reconhecimento.

 

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Melhor filme)

É bem verdade que a categoria de Melhor Filme está repleta de nomes muito fortes, mas um deles se destaca. Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo é um filme dirigido por Daniel Kwan, Daniel Scheinert e Jonathan Wang produzido pelo estúdio A24, que começou voltado para filmes independentes e hoje é um dos mais populares do cinema norte-americano.

Ele conta a história de Evelyn Wang (Michelle Yeoh), uma imigrante chinesa de meia-idade que vive nos Estados Unidos e está sempre irritada com as contas que precisa pagar, a extrema docilidade de seu marido e a homossexualidade de sua filha. Mas de uma hora para outra, sua rotina maçante é interrompida com uma descoberta surpreendente – Evelyn foi, na verdade, escolhida no multiverso como a mulher que vai salvá-lo de uma ameaça de iminente destruição.

Tudo que Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) sonhou em ser, esse filme explora um multiverso denso, completo e muito fechado. Combina humor, ação, aventura e emoção de forma muito bem dosada pela direção e encanta pela estética vibrante e colorida que se apoia em elementos como olhos esbugalhados e confetes para dar um ar de frenesi intrínseco.

Trazendo uma reflexão belíssima sobre o amor intrafamiliar, a história consegue despertar todo tipo de emoção em seu próprio intervalo de tempo, guiando o espectador do riso ao choro em questão de minutos. Ainda que sua originalidade seja questionável, essa é a produção mais equilibrada da categoria, digna de um cinema que consegue alcançar a todos sem perder a essência.

Divertido, frenético e emocionante, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo conquistou a grande maioria do público, vencendo o Critic’s Choice Awards de Melhor Filme desse ano e, provavelmente, vai alcançar o prêmio maior da noite no próximo domingo.

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

Imagem: Foto divulgação

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