Crítica: Pyewacket (2017)

Em 2015, chegava às telas um pequeno e muito eficiente thriller de sobrevivência, que colocava a natureza e seus elementos como ameaça central e como gatilho para discutir outros pontos relacionados à condição humana. O filme era o tenso Backcountry, do então estreante diretor canadense Adam MacDonald, onde um gigantesco urso grizzly transforma o acampamento de um jovem casal em um verdadeiro inferno sangrento. Desta vez, MacDonald deixa a carnificina animal de lado e decide navegar as águas do sobrenatural neste Pyewacket (CAN, 2017), e em seu segundo esforço como diretor de longas, MacDonald abandona também os horrores da natureza para aterrorizar seu público através do desconhecido e do à princípio, inexplicável.

No filme, Leah (Nicole Muñoz, de Desbravadores, 2007), é uma estudante que ainda está de luto pela morte do pai, e que durante o processo, adquiriu um crescente interesse pelo oculto, enquanto que sua mãe (Laurie Holden, mais conhecida como a Andrea da série The Walking Dead), também não consegue superar a morte do marido. Sem conseguir escapar das memórias e da ausência do falecido, ela decide levantar acampamento e se mudar para uma área mais afastada da cidade grande, mesmo à contragosto de Leah, que não quer deixar sua vida e seus amigos para trás. A tensão entre mãe e filha cresce ainda mais quando elas se estabelecem na nova casa situada no meio da mata, e quando as duas entram em uma terrível discussão, Leah, enfurecida, parte em direção à floresta.

Nervosa, confusa e agindo por puro ódio em sua fervilhante cabeça de adolescente, Leah performa um feitiço, invocando uma entidade maligna com o intuito de punir sua própria mãe. Ela se arrepende quase que imediatamente, principalmente após um sincero pedido de desculpas por parte da mãe na manhã seguinte, mas Leah constata que talvez seja muito tarde para desfazer sua ações, quando uma aterrorizante presença começa a atormentar a dupla.

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Assumindo o roteiro e a direção, MacDonald constrói um thriller lento mas profundo, que explora a necessidade e o poder da crença, assim como seus perigos. Assim como em seu filme anterior, onde MacDonald deixava em aberto (pelo menos por um tempo) se a ameaça era de natureza animal ou humana, em Pyewacket ele caminha em uma linha tênue sobre a real origem do perigo. Estaria Leah imaginando as coisas que está vendo e ouvindo? Ou realmente há um espírito insidioso e assassino em busca de sua alma e de sua mãe?

As performances do elenco são eficazes, especialmente Muñoz, que está em cena do início ao fim. Sua transformação de adolescente revoltada para uma filha angustiada e finalmente para uma garota aterrorizada, garante a empatia do público com a personagem, o que adiciona intensidade às cenas de terror e perigo. E algumas destas cenas são realmente aterrorizantes. A tal presença começa a se fazer notar através de sons por toda a casa, antes de eventualmente aparecer como uma figura sombria e blasfema que surge de baixo da cama de Leah. São estes tipos de sustos, os construídos em cima da atmosfera, do tom do filme, e que fazem o público prender a respiração, que fortalecem a segunda metade da produção.

MacDonald também utiliza-se bem do som e dos efeitos-sonoros, e seu roteiro, apesar de sua atmosfera sobrenatural, carrega uma pegada realista que favorece bastante o resultado final da produção, especialmente na maneira com que retrata a difícil e delicada fase da vida em que Leah e seus amigos se encontram. Esta abordagem mais realista da narrativa ajuda a garantir ao filme aquele efeito dúbio, em que o espectador fica na dúvida sobre o que realmente está acontecendo com Leah e por tabela, com sua mãe. Construído em cima de uma premissa simples, uma execução eficiente e um fantástico e horripilante terceiro ato que desfere um golpe bem dado no estômago do espectador, Pyewacket faz valer mais do que nunca a máxima do “cuidado com o que você deseja”.

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Pyewacket não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros e deve chegar ao país diretamente através do sistema de streaming e VOD.

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