Como falado na semana passada, falaremos sobre as dúvidas, pegadinhas e surpresas que a Pontuação da Língua Portuguesa nos apresenta, a começar pela vírgula.
Como a vírgula muitas vezes (mas nem sempre) indica uma pausa, supõe-se que a toda pausa corresponda uma vírgula. Mas a verdade não é esta. Quando o sujeito é longo, por exemplo, é normal que, na leitura, haja uma pausa entre ele e o verbo, o que não significa que se deva colocar uma vírgula entre estes dois integrantes da oração. Assim:
– Sujeito e predicado nunca se separam por vírgula, assim como também os verbos e seus complementos são inseparáveis:
A estrutura da frase na Língua Portuguesa é formada por pares indissociáveis: sujeito + predicado e verbo + complemento. Quando estes termos da oração estão dispostos em ordem direta, não há motivo para o uso da virgula.
Ex.: O presidente do Chile visitou a França.
– O presidente = sujeito (indica de quem ou do que se fala; é o termo sobre o qual se faz uma afirmação)
– visitou a França = predicado verbal (termo que contém o verbo e informa algo sobre o sujeito.)
– visitou = verbo
– a França = complemento do verbo “visitou” (objeto direto)
– Quando algo se insere nessa estrutura, a vírgula será usada:
Ex.: O presidente do Chile, durante sua última viagem internacional, visitou, rapidamente, a França.
– O presidente do Chile = sujeito
– durante sua última viagem internacional = adjunto adverbial de tempo
– visitou = verbo
– rapidamente = adjunto adverbial de modo
– a França = complemento do verbo “visitou”, objeto direto.
Mas não se deixe enganar pelo tamanho do sujeito:
Ex.: Todos os países recentemente convocados para o simpósio internacional de ciências são responsáveis por seus projetos.
– Todos os países recentemente convocados para o simpósio internacional de ciências = sujeito
– são responsáveis por apresentarem seus projetos = predicado nominal
Assim, não se coloca a vírgula entre “ciências” e “são”, mesmo que se faça uma pequena pausa na leitura para respirar, já que a oração é muito longa.
Nas orações seguintes, no entanto, que são exemplos de construções com “sujeitos oracionais” (http://sualingua.com.br/2009/05/07/sujeito-oracional/ ) o uso da vírgula entre os dois verbos é opcional:
“Quem viver verá” (quem viver = sujeito oracional)
“Quem ama, educa” (quem ama = sujeito oracional)
“Quem tudo quer tudo perde” (quem tudo quer = sujeito oracional)
“Quem não faz, leva” (quem não faz = sujeito oracional)
“Quem sabe faz a hora”(quem sabe = sujeito oracional)
Isto porque certos gramáticos, baseados em bons autores, defendem o uso facultativo da vírgula entre dois verbos dispostos lado a lado e que pertençam a orações diferentes. Assim, apesar de não ser obrigatório, o uso da vírgula nestes casos é bastante difundido como fator de melhor clareza do sentido que se quer passar.
Na semana que vem, voltamos com mais dúvidas sobre a vírgula e outras pontuações.
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BIBLIOGRAFIA:
CIPRO NETO, Pasquale. Como Usar a Vírgula e Outros Sinais de Pontuação. Barueri, SP: Gold Editora, 2009.
CIPRO NETO, Pasquale. Coleção Professor Pasquale Explica: Pontuação, a Vírgula e Outros Sinais. . Barueri, SP: Gold Editora, 2011.
DE NICOLA, José; TERRA, Ernani. 1001 Dúvidas de Português. – 2. ed. Rev. São Paulo: Saraiva, 2009.
BANNWART VIEIRA, Andréa. O Guia Definitivo para o Uso da Vírgula. Disponível em < https://novaescola.org.br/conteudo/6895/lingua-portuguesa-quando-usar-virgula> . Acesso em 07 set 2018.
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA, O Globo. Regras Essenciais para Usar a Vírgula sem Errar. Disponível em < https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/guiaenem/regras-essenciais-para-usar-virgula-sem-errar-20834161 > Acesso em 7 set 2018.
PINHEIRO, Paula. Guia Completo de Como Usar a Vírgula. Disponível em < https://comunidade.rockcontent.com/guia-de-como-usar-virgula/ >. Acesso em 7 set 2018.
RODRIGUES, Sérgio. Sobre Palavras: Quem estuda, separa sujeito de predicado com vírgula? Disponível em https://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/quem-estuda-separa-sujeito-de-predicado-com-virgula/ > . Acesso em 7 set 2018.