Sou filha de um samurai e fui educada acreditando que sentimentos precisam ser escondidos, lembro de meu pai sempre calmo, falando baixo, com um sorriso nos lábios e um semblante enigmático. Era como se nada o atingisse, nenhuma notícia o abalava e ele dizia que deveríamos nos comportar como um rio de águas serenas, sem ondas nem turbulências, mas constante e profundo.
Provavelmente esta deve ser uma das razões porque nós orientais estamos sempre sorrindo, para demonstrar alegria mesmo quando nosso interior está parecendo um vulcão em erupção. Talvez esta também seja a causa de nossas úlceras perfuradas cicatrizadas e da nossa paciência de Jó.
Mas todos esses ensinamentos foram por água abaixo quando me casei com um legítimo napolitano e na nossa primeira discussão ele começou a blasfemar em italiano, ficou vermelho como um pimentão e parecia que ia sair uma fumacinha das orelhas como em desenho animado. O resultado foi que tive um ataque de riso, era a primeira vez que via alguém externar seu descontentamento de forma tão visceral. Achei engraçado…
Com o passar dos anos fui ficando mais leve, aprendi com ele a rir e gargalhar, a chorar sem pudor, a abraçar mais forte, aliás, tenho mania de abraçar as pessoas, fiquei mais italiana e ele ficou mais calmo, mais comedido, perdeu a mania de gesticular quando fala e gosta tanto de sashimis que até parece um japonês.
E assim fui me equilibrando, ficando mais transparente, perdi a vergonha de me mostrar.
O problema é que agora sou emotiva, capaz de chorar assistindo a um filme e de rolar de rir com uma cena engraçada.
Então, numa semana complicada e difícil, chego num evento e na hora de falar meus olhos se enchem de lágrimas e eu despenco, peço desculpas a todos e depois de me recompor sigo a programação normalmente.
No dia seguinte, recebo uma ligação dizendo que presidentes não podem chorar pois é uma demonstração de fraqueza e fragilidade em público.
Vivemos numa época em que falamos muito em inteligência emocional, quociente de inteligência, quociente ético, ouvi falar até sobre quociente de decência… será mesmo que devemos transmitir uma imagem fria e calculista, anestesiadas de sentimentos?
Justo agora que as empresas apregoam que os funcionários sejam eles mesmos dentro e fora do trabalho, quando buscamos discutir e criar políticas de inclusão e diversidade, quando dizemos que não basta convidar para a festa mas é preciso convidar para dançar, quando aceitamos falar sobre nossos medos e angústias, quando admitimos que erramos mas queremos corrigir.
Convivo com líderes de diversos tipos e estilos, em alguns percebo uma humildade real, um desejo de aprendizado contínuo, uma capacidade de ouvir o outro e ter empatia, são líderes carismáticos que conquistam com seu sorriso.
Tem aqueles que parecem super heróis com capas esvoaçantes, fazem questão de dizer que são os melhores, os infalíveis, os sabe tudo, estes te olham do alto de um edifício de 50 andares, podem ter 1,50 metros de altura e uma arrogância descomunal. Não aceitam ouvir opiniões pois serão desnecessárias, afinal, estão sempre certos.
Existem os que gostam de trabalhar em conjunto, num organograma quase horizontal, envolvendo equipes e motivando as pessoas.
O ponto em comum de todos os tipos de líderes é que na realidade eles são pessoas, assim como eu e você, tem dias que o chão parece abrir e você desaba, tem outros em que você ganha na loteria e descobre que o prêmio estava acumulado, já vi CEOs de grandes empresas se apresentarem contando suas origens, como que para lembrar não só de onde vieram, mas quem eles realmente são.
Deixo aqui a pergunta e aguardo respostas: Líderes, presidentes e CEOs podem chorar?
“Não posso escolher como me sinto, mas posso escolher o que fazer a respeito.” William Shakespeare