Filhos do Brasil não fogem à luta, sejam quais forem as dificuldades.
Aos 10 anos ele caiu sobre uma pedra e perdeu um dos rins. Doze anos depois se tornou o primeiro brasileiro a subir no pódio três vezes numa mesma olimpíada.
Em 2013 ele era pedreiro durante a semana. Fazia bicos de garçom nos finais de semana. E lutou muito para transformar o sonho em realidade na Rio 2016.
No dia em que o Rei Pelé disse para todo mundo ouvir, que o garotinho que treinava com ele seria o melhor jogador do mundo, colocou – sem querer – pressão nos ombros do menino que segue caminhando para confirmar a profecia.
Ser herói parece ser o destino dos brasileiros. Mesmo para os milhões que seguem no anonimato. Afinal, não é fácil superar os desafios impostos pelos precários sistemas de educação, saúde, habitação, segurança. Pela miséria, que condena a maioria a privações de toda sorte. Até para comer. E, mesmo assim, preservar a capacidade de sonhar e a força de vontade para buscar transformar os sonhos em realidade.
Em época de olimpíada, essas histórias ganham enorme projeção. O baiano Isaquias Queiroz cresceu em Ubaitaba, cidade de 20 mil habitantes que fica 370 km distante de Salvador. O pai de Isaquias morreu quando ele tinha apenas dois anos, e a mãe, Dilma, cuidava dele e de outros nove irmãos e irmãs. O rim ele perdeu um ano antes de iniciar a prática da canoagem. O baiano, aos 22 anos, e muitas provações depois, se tornou o primeiro brasileiro a subir no pódio em provas de canoagem. Foram três vezes, para receber duas medalhas de prata e uma de bronze. Três numa mesma olimpíada. Feito que nenhum outro brasileiro tinha conseguido.
Em 2013, Maicon Andrade trabalhava como pedreiro de segunda a sexta e fazia bicos como garçom aos finais de semana. Mas jamais abandonou a paixão pelo taekwondo, mesmo treinando só quando dava tempo. A vida dele mudou quando foi descoberto pelo técnico Reginaldo dos Santos, durante os Jogos Abertos do Interior, tradicional competição disputada em São Paulo. Reginaldo o convenceu a largar as outras profissões, deixar a família em Minas Gerais e ir para São Caetano, na região do ABCD paulista. Deu no que deu. Medalha de bronze nos Jogos do Rio, igualando o feito que Natália Falavigna tinha conseguido em 2008, em Pequim.
Muitas vezes, o sucesso também representa dificuldade. O brasileiro persegue o sucesso, mas parece ficar incomodado com quem o conquista. Da infância pobre em Mogi das Cruzes, onde nasceu; Mato Grosso, onde o pai jogou no Operário de Várzea Grande; e em Santos; aos carrões importados, apartamentos luxuosos, festas de arromba, o talento de Neymar conquistou admiradores no mundo todo. Mas no Brasil, ser ídolo, rico, é virar alvo de críticas de toda espécie. Basta ver como os argentinos tratam Maradona e os brasileiros tratam Pelé.
Só que Júnior nunca fugiu da raia. Teve atitudes polêmicas, típicas da juventude, mas nunca se escondeu. Foi criticado por ter sido escolhido como capitão e líder da seleção olímpica que buscava a inédita medalha de ouro. Não jogou bem em nenhuma partida. Mas nos momentos decisivos se fez presente. Marcou um golaço de falta na final contra a Alemanha e, no pênalti decisivo, fez o gol que garantiu o primeiro título de campeão olímpico da seleção brasileira. De quebra, tornou o Brasil o maior medalhista na história do futebol nas olimpíadas, com duas de bronze, três de prata e a de ouro, conquistada pela geração Neymar.
Isaquias, Maicon, Neymar. Exemplos de seres especiais que devem inspirar mudanças nos rumos do esporte brasileiro. Para que as conquistas deixem de ser trabalhos de Hércules, para serem resultado de uma política que ofereça a todos o direito e a oportunidade de mostrarem seu talento e tornarem-se novos heróis do Brasil.