A fria análise matemática pode indicar fracasso brasileiro na Rio 2016. Os investimentos foram enormes e o desempenho ficou aquém do esperado. Felizmente somos um povo latino. E para os latinos não existe balanço que não leve em conta a emoção. E aí, não há dúvida. Foi uma baita Olimpíada essa do Brasil.
O objetivo do Brasil na Rio 2016 era terminar a competição entre os 10 primeiros, conquistando entre 23 e 27 medalhas. Para atingir a meta, o país investiu mais de três bilhões de reais, cerca de 50% a mais do que feito para os Jogos de 2012, mas só ganhou duas medalhas a mais que em Londres e ficou fora do top 10 dos Jogos de 2016. Só que é preciso levar em conta que as 19 medalhas conquistadas pelos atletas brasileiros estabeleceram a melhor participação do Brasil na história das Olimpíadas.
A campanha brasileira começou com tiro certeiro de Felipe Wu para conquistar nossa primeira medalha na Rio 2016: de prata. E terminou com emocionante ouro do time masculino de vôlei, acabando com a sina de quase campeão, cultivada com as medalhas de prata em Pequim 2008 e Londres 2012.
A Seleção Brasileira de futebol também acabou com uma espécie de maldição ao ganhar o único título que faltava: o ouro olímpico. Com muito sofrimento. Tipicamente brasileiro. Sentimento compartilhado pela dupla do vôlei de praia, Alison e Bruno; pelas parceiras Martine Grael e Kahena Kunze, no iatismo; Thiago Braz, que garantiu a participação do atletismo entre os brasileiros de ouro; e os lutadores Robson Conceição, do boxe e Rafaela Silva, do Judô.
Não foi menos difícil, sofrida e emocionante as conquistas das medalhas de prata por Arthur Zaneti, nas argolas; Diego Hypólito, na prova de solo da ginástica artística; Aghata e Bárbara no vôlei de praia; e as duas do canoísta baiano Izaquias Queiroz, que também faturou um bronze e tornou-se o brasileiro mais medalhado numa única edição dos Jogos Olímpicos.
Os judocas Rafael Silva e Mayra Aguiar, o ginasta Arthur Nory; a nadadora Poliana Okimoto, na maratona aquática; e Maicon Siqueira, do Taekwondo também foram bronze e completam a lista das 19 medalhas conquistadas pelo Brasil.
O Brasil também pôde acompanhar o espetacular desempenho do fenômeno Michael Phelps, que ganhou cinco ouros e uma prata nas piscinas olímpicas brasileiras, encerrando uma carreira espetacular com 26 medalhas conquistadas, 23 de ouro. E o surgimento da provável Phelps feminina, Katie Ledecky, que ganhou ouro em todas as provas individuais que disputou nos Jogos e estabeleceu dois novos recordes mundiais nas provas dos 400 e 800 metros livre.
Outro que deu adeus aos Jogos, aclamado como o homem mais rápido do planeta, foi o jamaicano Usain Bolt. Ele levou o Estádio Olímpico ao delírio nos 100 metros rasos, 200 e revezamento 4×100, sagrando-se tricampeão olímpico nas três provas.
Também vimos o choro de dois dos maiores nomes do tênis mundial: o britânico Andy Murray, comemorando a conquista do bicampeonato olímpico, após vencer batalha épica contra o argentino Juan Martin Del Potro, que também chorou. Não por ter sido derrotado, mas pela conquista da medalha de prata que significou a recuperação total dele, que quase encerrou a carreira por causa de seguidas cirurgias no pulso.
Vimos uma torcida vibrante, às vezes mal educada, mas normalmente receptiva e divertida. Até juiz foi ovacionado pela torcida. Numa luta de boxe, Jones Kennedy era o único brasileiro no ringue, palmas para ele.
Vimos o menino Neymar assumir sua posição de líder da Seleção Brasileira e o veterano Serginho consagrar-se como líder da meninada do vôlei, no encerramento de ouro da carreira.
Apesar dos pesares, temos muito o que comemorar. Especialmente o fato do Comitê Olímpico Internacional – a partir das dificuldades encontradas no Brasil – ter entendido que os Jogos devem respeitar a realidade de cada país. Por tudo isso, a Rio 2016, a primeira Olimpíada na América do Sul, será inesquecível.