César Romão: A Paciência vai além do tempo

Nos dias atribulados em que vivemos, neste frenesi do “ter que fazer” um das coisas que primeiro esgota-se em relação à pessoa que amamos é a paciência. Nem sempre temos mais aquela disposição para ouvir, opinar ou até mesmo apenas observar. A rotina toma conta e a pressa nos assombra. Nossas respostas já são lacônicas e nossos gestos não tão expressivos ou representativos.

Basta algo fora do lugar e lá se vai nossa metralhadora anti-relacionamento disparar sem razões realmente importantes, uma colher de pau que cai no chão, vira colher de ouro com diamantes que caiu no chão e este é um assunto que não pode ficar sem uma repreensão ou virar uma discussão.

Boa parte das discussões entre casais acontece pelo não exercício da paciência mutua, ela se esgota nos dias de hoje mais rápido que água no deserto.

Onde você queira que haja amor, tem de coexistir a paciência, não hoje ou amanhã, mas a todo o momento em que se fizer necessário. Onde não existe paciência, prevalecem às ofensas e até o desrespeito inconsciente um pelo outro e isto vai virando “pendura de botequim no prego”, coisas pequenas que um dia quando forem jogadas juntas na cara da pessoa, tornam-se tão grandes, que somos incapazes de lhe dar com elas.

A paciência é como a quilha de um veleiro, não importa o quão conturbado o mar esteja, ela mantém o veleiro sendo levado pelo vento. Todo relacionamento tem seus momentos de turbulência, é precisa de uma quilha como a paciência. Ela nos permite aceitar coisas que não estamos preparados para aceitar e abranda qualquer manifestação agressiva que possamos vir a ter. Melhora nossas decisões, nossas palavras e nossas reações, nos dá a sensação de que a esperança está presente, não importa o que aconteça, algo positivo vai brotar daquele momento.

Com ela não existem desperdícios num relacionamento, nem de tempo, nem de sentimentos e tão pouco de energia. Seu convívio pode até ser apressado, desde que você o faça lentamente.

Através dela podemos conseguir com mais brandura aquilo que desejamos da outra pessoa, ela é nossa proteção contra qualquer momento de raiva, e nem preciso mencionar aqui as coisas desagradáveis quando a raiva toma conta de um relacionamento. Necessitamos de tolerância e só o exercício da paciência pode fazer a tolerância atuar.

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O amor possui entre suas características ser paciente, assim não exaltamos tantos na pessoa os pequenos defeitos, e você sabe que quando se resolve criticar os pequenos defeitos eles tornam-se venenosos e mortais. Todo relacionamento precisa de um negociador para esta vida a dois, ele chama-se: paciência. Eis o percussor do tempo a mais que você precisa para resolver as coisas suavizando as farpas, criando em você mais receptividade para tudo a sua volta.

Ela não está relacionada com aquilo que fazemos em nossa relação, mas com aquilo que não fazemos em nossa relação, ela tem a ver com suportar o que parece insuportável e aguardar que algo se realize, mesmo que a barra esteja pesada entre os dois. Isto não quer dizer que você não está fazendo nada, ao contrário, está criando uma ação receptiva de ajuste. Nossa força de vontade nem sempre é tão forte, esperar às vezes nos faz mais fortes do que se quando agimos dentro de nossa certeza.

Nós a aprimoramos quando somos impulsionados a compreender a razão que nos fez perder a calma com nossa cara metade, sempre há mais de um caminho certo.

Uma das pessoas que mais admiro em minha vida é um jovem de 92 anos de idade, um jovem porque com toda esta vivência atua em sua existência com uma energia inigualável. Trabalha todos os dias, dirige uma das mais importantes entidades esotéricas do mundo, dedica-se ao Rotary, faz palestras inesquecíveis, grava mensagens maravilhosas em CDs e sempre tem uma palavra de conforto para todos que buscam seus sábios conselhos, além de escrever livros muitos especiais.

Este jovem tem uma musa, um pouco mais jovem do que ele formam um casal maravilhoso, sempre de mãos dadas, ele sempre pedindo a mão dela em casamento entre outras atitudes românticas já não tão comuns, este casal é um exemplo maravilhoso de um relacionamento feliz.

Sua musa ficou doente, momento difícil na vida de qualquer pessoa, um dos sintomas desta doença, é que ela esquece rapidamente os assuntos em pauta, e os retoma em seguida. Para ele uma característica a mais para exercitar seu amor, para ela uma oportunidade de reviver tudo de maravilhoso que ele pode lhe ofertar.

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Certa vez este especial casal, estava em minha casa e iríamos juntos para o velório de um outro amigo em comum. Na sala de minha casa ele perguntou diversas vezes a ele aonde iríamos e ele com a mesma brandura e ternura respondeu todas as vezes:

Meu amor, nós vamos ao velório do nosso amigo fulano de tal, o qual por muitas vezes estivemos juntos em confraternizações”.

A caminho do velório, ela sentou no banco de traz do carro e durante o percurso ela perguntava a cada momento a ele aonde iríamos. Ele com a mesma brandura e ternura segurando em uma das mãos dela, respondeu todas as vezes:

: “Meu amor, nós vamos ao velório do nosso amigo fulano de tal, o qual por muitas vezes estivemos juntos em confraternizações”.

Talvez naquele dia sua amada tenha lhe feito outras vezes a mesma pergunta, e, com certeza, ele agiu da mesma forma este é um comportamento amoroso dos mais incríveis que já presenciei.

Enquanto estavam comigo, ele não disse:

Outra vez a mesma pergunta Quantas vezes tenho que repetir Não aguento mais você me perguntar as mesmas coisas

Ele simplesmente respondeu a cada pronunciamento da mesma pergunta feita pela sua musa, com o mesmo gesto de amor, como se aquela fosse a primeira vez naquele casal que sua esposa estava lhe perguntando algo.

A vida deste jovem com sua musa tem sido assim, uma batalha do amor versus uma doença que embora preocupante possibilita aos dois a cada momento certificarem-se de que realmente entre eles o amor existe.

Em outros casais de amigos, muito mais jovens e com muito menos tempo de união, quando a esposa pergunta algo uma vez e meia num jantar, o tempo já fecha.

O que o meu jovem amigo de 92 me ensinou naquele dia é que a paciência em qualquer circunstância é um ato de amor.

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