A falta de uma coordenação eficaz no controle da pandemia do País resulta em número cada vez maior de doentes e mortos, sem que sequer tenhamos perspectivas de quando vamos atingir o pico para então iniciar uma curva de declínio da doença. O domingo fecha com mais de 867 mil casos e mais de 43 mil mortes por aqui.
Os efeitos são arrasadores também na economia, na vida financeira de cada um dos brasileiros, com perda de emprego, queda da renda, falência de muitos negócios. E a situação tende a piorar com queda do Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de produtos e serviços gerados no País, em torno de 7% este ano.
É verdade que por onde passou, a epidemia provocou esse mesmo tipo de prejuízo. No entanto, aqui, mais do que refletir os resultados decorrentes da própria doença, esse caos escancara erros e desmandos dos governantes.
A lição de casa não foi feita como em muitos outros países, que também sofreram igualmente as consequências, mas depois de 70 ou 90 dias já estão saindo dela, com capacidade de se reorganizar e tentar voltar ao normal.
Desde o início, a doença foi menosprezada aqui pelo próprio presidente da República, que assumiu também uma postura permanente de boicote ao isolamento social e uso de máscaras. As principais armas para a contenção da pandemia, reconhecidamente pelas autoridades científicas e a Organização Mundial da Saúde.
Houve um desmonte no Ministério da Saúde que deveria estar à frente do enfrentamento da situação, regendo os Estados com orientações e recomendações sobre as técnicas bem-sucedidas e usadas lá fora e recomendadas pelos organismos internacionais. Em vez disso, tivemos a saída de dois ministros, a sonegação de dados sobre a evolução da doença, e omissão da equipe atual no direcionamento das políticas de combate à doença.
Perdemos o tempo certo, o timing, para se fazer tudo isso, já estamos em quarentena há mais de 90 dias. A população está cansada de ficar em casa observando os números de infectados e óbitos subirem a cada dia. Muitos não podem ficar em casa, precisam defender o pão e o leite de cada dia. A pressão cresceu para a reabertura das atividades econômicas e isso está sendo feito por todo o País, quando ainda sequer atingimos o nível mais alto da doença, o que vai contribuir para uma propagação ainda maior do vírus.
Mais de 100 entidades lançaram um manifesto, entre elas o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) em que responsabilizam as autoridades que tomam decisões e colocam em risco a vida da população pelo desastre que vem acontecendo no País. O documento alerta que muitas mortes poderiam ter sido evitadas se recomendações e consensos científicos fossem seguidos, e classifica como genocídio, o total de óbitos contabilizado no País.
“É muito importante que a sociedade civil seja ouvida neste momento. A população está em risco e as políticas adotadas têm se mostrado ineficazes no combate à pandemia”, alerta a diretora executiva do Idec, Teresa Liporace. “São as ações, ou a falta delas, que serão diretamente responsáveis pela vida ou morte de milhares de brasileiros. Vamos seguir cobrando”, defende Teresa Liporace, diretora executiva do Idec.
Embasado em artigos da Constituição, como o 1º, 19º e 37º, o manifesto destaca que “contrariar consensos científicos em detrimento da vida de milhares de pessoas não pode ficar à margem da ordem jurídica”. E esclarece que “entidades científicas e de defesa de direitos estão reunindo provas para a demonstração das consequências dessas irresponsabilidades, visando subsidiar iniciativas aptas a exigir a apuração de atos e improbidade e a reparação do dano coletivo”. O documento está no portal do Instituto e pode ser assinado por qualquer pessoa: www.idec.org.br.