Seu destino não está escrito em lugar algum.
Nosso Universo, na figura de seu Onipotente, deve ter tido um trabalho fenomenal e desgastante para criar e desenvolver o homem. Com certeza, não iria, depois disso, passar o resto da eternidade escrevendo o destino de cada ser humano, inclusive o seu.
O ato de atribuir acontecimentos e fatos da vida e do mundo a preceitos dogmáticos, místicos ou religiosos, rotulando-os como vontade de um Ser Superior é uma grande comodidade dourada, pois sempre que transferimos a culpa, julgamos disfarçadamente estar de consciência tranqüila. Esta é uma hábil maneira de alimentar um disfarce emocional que tem causado o total sepultamento da verdadeira identidade de muitas pessoas, afastando-as da real conduta de sua existência.
Ao longo das civilizações, devido à dificuldade para se organizar uma sociedade de convivência comum, estratagemas foram utilizados a fim de fazer as pessoas cumprirem regras e satisfazerem interesses. Colocá-las em escravidão; ameaçá-las com espada; queimá-las em fogueiras; submetê-las aos horrores da guerra; fazê-las viver sob o jugo da tirania; afastá-las da riqueza, apregoando que ser rico é ruim; ou ainda, fazê-las crer no Ser Superior que já escreveu seu destino. Um Ser que pune e se vinga, deixando-as sem saída, pois se Ele não pegá-las nesta vida corporal, da vida espiritual não escaparão… Ah!
Dividir o compromisso da existência com um céu e um inferno; um paraíso e um purgatório; ser infeliz neste mundo para garantir a felicidade num outro; entregar tudo nas mãos do Ser Supremo e cruzar os braços, pois a justiça do céu é maior que a da terra…
Meu Deus! Isso só tem afastado as pessoas, cada vez mais, da possibilidade de desfrutarem de tudo que viver realmente representa.
Não existe nada mais delicioso que um bom culpado para assumir nossa incapacidade de gerenciar a própria vida.
Raramente se ouve de uma pessoa que ela está passando por momentos difíceis por falta de responsabilidade e compromisso com seu ato de viver, mas é comum sempre ouvir que alguém é culpado por tal fato.
Muitos filhos respondem aos seus pais: “Não tenho culpa de ter nascido”. Nas separações de casais é sempre o outro que sufoca.
Na perda do emprego, o chefe ou a empresa não souberam reconhecer seu trabalho.
Na doença, Deus assim desejou.
Fatalidades espalhadas pelo mundo são profecias que estão sendo cumpridas.
Catástrofes são a mão do Senhor fazendo justiça.
A pessoa é infeliz e nada consegue na vida, porque todos querem prejudicá-la…
Quando transferimos e socializamos a culpa, deixamos de fazer justiça punindo o verdadeiro culpado, deixando-o livre e de consciência tranqüila para continuar agindo.
Esse culpado é você mesmo!
Tudo começa por você e termina em você, procure as razões de culpa em si mesmo e verá quantas mudanças podem ocorrer em seu destino.
Numa análise mais profunda de fatos ocorridos no mundo que foram enquadrados como responsabilidade do destino, catástrofe ou até mesmo à vontade de Deus, pode-se notar, hoje, que não passaram de “incompetência implementada na direção correta”, o que resultou em algum grave acidente no percurso de vida de alguém.
Esses acontecimentos nasceram com um objetivo nobre e futurista, mas foram implantados com meios incompatíveis para realizá-los.
Nas pesquisas sobre o navio Titanic, descoberto pelo explorador Robert Ballard, ficou claro, através de estudos do casco, que o choque com o iceberg não era suficiente para afundá-lo. O navio afundou por um problema na confecção da liga da chapa de aço do casco que, ao navegar por águas geladas, perdeu suas características de resistência. Com o impacto da colisão, vários buracos se abriram na extensão do casco, por onde logo a água inundou o navio. Tragédia? Sim, pelos danos causados aos passageiros, mas não por destino.
Projetar um lindo edifício, gastar milhões num projeto e no acabamento, tornando-o maravilhoso, não garante que ele ficará em pé, principalmente se o ferro deveria ter uma polegada e foi usada apenas meia.
Nos bastidores das tragédias, existe um local onde é cravada a incompetência humana e não uma vontade divina.
Quando um peixe é fisgado, o pescador é esperto ou o peixe é burro? Naturalmente, se perguntar ao pescador, ele dirá que é muito esperto.
Mas, se perguntar ao peixe ele dirá que estava com fome e nem podia imaginar o que lhe esperava, tampouco acreditar que havia um lugar no mundo que não tivesse água.
Outros podem pensar que é a lei da sobrevivência, mas, na verdade, é a lei da informação. Os pescadores sabem muito mais sobre peixes que os peixes sobre pescadores.
Enquanto pensar que o Universo sabe muito mais a seu respeito do que você a respeito dele, será sempre uma presa fácil de ser fisgada pelos anzóis nos mares da vida.
Viver um destino não significa procurar onde ele foi escrito para torná-lo realidade.
Viver um destino é você mesmo explorar sua existência, usar de todas as dádivas que o Universo lhe concedeu.
Viver um destino é lembrar que Deus deixou você fazer parte do Universo e tem um DNA maravilhoso correndo em seu corpo.
Somente se vive um destino quando nós mesmos o escrevemos em algum lugar, com nossa própria maneira de existir, sendo aquilo que somos e não aquilo que alguém disse que deveríamos ser.
Ao nascer, recebemos inspiração, talento, um pincel, tinta, uma tela e uma benção.
A pintura que faremos, nós é que decidimos como será.
César Romão
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