Fábio Muniz: Você já parou para pensar no significado das coisas….

Já são 17 anos que não moro no Brasil…

Aliás, há aproximadamente 22 anos tive a minha primeira experiência de amealhar os recursos necessários para poder investir em meus primeiros estudos da língua inglesa e obter uma experiência multicultural.

Ainda me lembro de fazer cálculos e mais cálculos para verificar as possibilidades de ter tal experiência. O meu primeiro sonho era a Escócia. Tudo estava “pronto”. Uma escola de Inglês dentro de um seminário teológico presbiteriano. Conquanto os preços fossem infinitamente menores comparando com qualquer outra opção, os meus recursos não cobririam o mínimo de 3 meses de curso. Ora, as libras inglesas sempre foram muito mais fortes do que qualquer moeda brasileira…

Você me pergunta: “Fábio, e a opção dos Estados Unidos? ”

Não preciso dizer das dificuldades de um visto americano tanto quanto da força do dólar americano, pois era um pouco mais acessível que as libras, porém muito além das minhas economias…

A bola da vez seria Toronto, no Canadá.

Pois bem, foi possível o meu sonho se realizar e permaneci 3 meses em território canadense estudando Inglês com algumas economias, ajuda dos meus pais, e a venda da minha amada Caloi Mobylette CX. Que saudades dela!! 🙂  Alguns deste grupo sabem muito bem do que estou falando. Outros, no entanto, não terão a mínima idéia do que significa ter uma Mobylette…

Posso te contar um segredo?

Vamos lá!

Eu sempre fui bom aluno na escola, não era o melhor, mas sempre estive entre os 5 primeiros alunos da classe, porém existia uma única matéria que não conseguia entender e aprender…

Você me pergunta: “Qual era esta matéria, Fábio?”

Ironicamente, era o Inglês! 🙂

E mais ainda: Eu tinha que colar em todas as provas…

É verdade. Mas isto já confessei para a Johnna, a minha esposa, e as minhas duas filhas…

Espero que nenhuma das minhas professoras de Inglês estejam lendo este texto…..

Eu poderia seguir te contando sobre as minhas dificuldades para aprender o idioma de origem Anglo-Saxão…Mas me parece que superei:-) Se não fosse assim, não teria encontrado a minha esposa Johnna. Aliás, “santa Johnna” que deve ter lido o meu livro Upside Down Evangelism mais de 5 vezes para editar e deixá-lo “americanizado” e formatado de tal modo que qualquer um que leia pense que um nativo o escreveu.

Pois bem, quais são os significados das coisas que você carrega? Quais são as estórias de cada encontro? Quais são as memórias que fazem você entender que a tua jornada foi de coisas boas, e de outras “nem tanto”, mas te levaram a ser quem você é hoje! Quais foram os teus esforços que fizeram você “virar a noite” para conhecer, aprender, decorar e superar na vida, no trabalho, enfrentar os fantasmas da tua alma? Quais…?

Quais são as experiências que te fizeram “mal” no passado, mas te forçaram a crescer e encarar os teus traumas e medos cara a cara? Eu vejo gente que infelizmente vive o sucesso, e o tal “sucesso” fez dele ou dela um ser egocêntrico, narcisista e inegavelmente egoísta. Por outro lado, eu vejo indivíduos que a “falta de sucesso”, dos holofotes e aplausos, a falta dos “likes” Facebookianos, ou visualizações Youtubeanas fizeram dele ou dela um ser mais humano.

Posso te contar uma última estória? Ficaríamos aqui por horas. Aliás, eu gostaria de ouvir também as tuas…

Quem sabe um dia nos encontramos para tomar um café e você conta sobre a tua jornada existencial, as traições que te fizeram entender o significado de amar sem esperar nada em troca, o desemprego que te fez valorizar o “pão nosso de cada dia”, a dor da perda de alguém querido que te fez olhar hoje para a tua filha ou esposa como se fosse a última vez que vocês se abraçariam. Você topa? Qualquer dia destes a gente se vê pessoalmente, e você me conta…

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Olha só. Eu morava em Barcelona há quase 12 anos. Acredito que foi a primeira vez que estava em Paris. Fui até a Torre Eiffel e comprei uma pintura singela. Imediatamente imaginei a tal gravura num quadro na sala, porém na minha sala!

“Porque você está me dizendo na minha sala, Fábio?”

Outro dia eu te contarei a diferença de morar em muitas casas e lugares, cidades e países, mas ainda estar em busca de um lar. É a tal diferença entre “house” e “home” em Inglês. Mas este assunto ficará para uma outra coluna…

Isto posto, eu voltei para Barcelona e pensei: “Esta não é a minha casa, moro com um amigo legal, a casa é bacana, mas não é minha. Apenas tenho um quarto e compartilho todos os outros cômodos com ele…”

Ora, não conhecia a minha esposa ainda. Até que no meu capítulo da minha vida “chamado Barcelona”, eu a conheci em Waterloo, ela deixou a Bélgica onde morava, eu deixei a Espanha, e nos casamos em Chicago. No entanto, nos mudamos para a Flórida….

Quadro de Paris comprado há 12 anos e que finalmente encontrou uma moldura e parede para ficar.

Afinal, parecia ter chegado o momento que a gravura da Torre Eiffel viraria quadro. Um sonho para mim…

No entanto, todavia, porém….

Assim que chegamos da tal lua de mel, a minha esposa se aproximou para uma conversa…

– “Fábio, a organização na qual eu trabalhei no Japão e na Bélgica, está precisando de gente que fala Português, Espanhol, Inglês e um pouco de Japonês, vamos para o Japão?” A Johnna me perguntou enquanto me observava.

– “O que? Você deve estar de brincadeira? Acabo de chegar! Estou viajando o mundo para encontrar estabilidade. Olhe para este lugar maravilhoso. Ir para o Japão? Nem comecei a trabalhar!” Eu lhe respondi com tranquilidade, mas com uma inquietação inexplicável para pensar no assunto.

Pois bem, eu preciso resumir. Eu comecei a trabalhar no banco JP Morgan Chase, depois fui para o Citibank, a minha filha Sophia nasceu, mas aquela conversa ficou dentro de mim de tal modo que jamais eu coloquei a gravura na parede porque pensava que aquela seria uma casa temporária….

E de fato, ela foi…

Vendemos tudo, saímos dos nossos trabalhos e embarcamos no nosso primeiro projeto juntos. Aliás, foi uma experiência inimaginável onde aprendi a viver dentro de uma cultura extraordinariamente disciplinada, uma sociedade absolutamente organizada, mas com um idioma dificílimo para aprender. E você pode imaginar, né?

Inegavelmente uma das culturas mais fascinantes que tenho sido exposto até o momento. Não há um dia que não penso em algum exemplo e atitude que tenham a ver com a sociedade e mentalidade japonesa

“Fábio, e o quadro? E a gravura? Onde está a foto de Paris? Que fim levou?” Você deve estar ansioso para saber…

Calma, eu chego lá. Ainda é segunda-feira. Acabamos de começar a semana…

Na realidade, quando decidimos ir ao Japão naquela altura do campeonato, a foto de Paris, ficou nos Estados Unidos. Eu nem a levei. Afinal o projeto do Japão era de curto prazo, de apenas 2 anos. Eu vivi como um andarilho, como um “hebreu” tendo muitas casas e nenhum lar…

Ah, perdoa-me… este será outro assunto, para uma outra coluna….

Eu já tenho que terminar. Estou concluindo….

Após o Japão, decidimos que a bola da vez seria a Europa pelo fato de ter um desejo de trabalhar com os refugiados e grupos minoritários, mas ainda viajaríamos e viveríamos no “limbo” entre a Ásia e a Europa por um ano e meio entre os Estados Unidos, Canadá e Brasil.

De fato, este tal limbo se resume na minha conversa com a Sophia que aconteceu em um dos belos parques em Saint Petersburg, na Flórida onde ela nasceu.

– “Sophia, hoje o dia está lindo. O papai está feliz de passar esta tarde com você no parque.” Conversávamos sobre um pouco de tudo enquanto a Sophia explorava todos os brinquedinhos.

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– “Papai eu gosto de brincar na balança e gosto de ver o mar.” A Sophia me respondeu muito feliz ao observar o encanto da natureza ao seu redor.

– “Filha, vamos?”

– “Para o aeroporto, papai?!” Neste momento, o meu coração quase “saltou da boca” com a consciência de que a vida de “hebreu” deveria chegar ao fim em algum momento.

– “Não filhinha! Não… Não será para o aeroporto.Vamos para “casa””. Eu lhe respondi, sabendo que a “casa” era pra lá de temporária e ficaríamos naquele aconchegante lugar que apelidamos de “casa amarela” por apenas 3 meses.

A tal ”casa amarela” como a Johnna e a Sophia apelidaram fica em Saint Petersburg, Florida. “Vivemos” lá por 3 meses enquanto estávamos no limbo entre Ásia e Europa.

Bem, chegamos em Lyon. E não preciso te dizer que a tal gravura virou quadro e está pendurada na parede de casa.

Talvez você me pergunte: “Fábio, e o que isto tem a ver com a tua coluna e o significado da vida, das coisas, das pessoas, da trajetória humana debaixo do Sol?

Pois bem, tem a ver com o fato que a grande ironia do meu quadro da Torre Eiffel deveria ser um “souvenir”. No entanto, acabou sendo pendurado justamente no solo francês! O tal quadro deveria ter sido uma lembrança da França e não para a França!! No entanto, eu jamais imaginei e pensei que viveria na França e ao “lado” de Paris…

De modo que não é a toa que as pessoas entram em casa, olham para a parede, olham para o quadro, olham para a foto e não entendem nada. Afinal, porque a foto de Paris está exposta como se fosse algo tão longe e distante?!

Mal eles sabem quantas malas esta foto já entrou, quantos check-ins ela já visitou, e porque ela esperou 12 anos tentando encontrar um lugar de repouso, até que ela encontrou…

A tua jornada é tua. A minha jornada é minha. E apenas cada um de nós conhece a trilha do significado daquilo que está intrinsicamente conectado com o ser que sou eu, e o ser que é você. Seres irrepetíveis. Seres que carregam impressões digitais únicas e singulares. Seres que não são clones uns dos outros. Seres de trajetórias diversas e que paradoxalmente misturam o chão comum da lágrima e do riso, da esperança e da dor. Seres que são humanos. Seres que tem a oportunidade de crescer diante de cada significado que a vida pede permissão para trazer. Seres humanos criados a imagem e semelhança de Deus.

Capa do Meu Livro Upside Down Evangelism

Upside Down Evangelism: How Not to Manipulate People in a Post-Modern, Post-Christian, Spiritually Alive Globalized World foi escrito em 6 meses durante o meu período de 2 anos no Japão. É uma crítica ao movimento religioso conhecido na história como Cristianismo. Apresento o Cristianismo sendo um fenômeno político, econômico e social tendo como premissa a ação Constantiniana do século IV fazendo do movimento singelo cristão, o início de uma religião que acabaria se tornando a religião oficial do Império Romano.

A minha experiência em solo canadense não só me ajudou a dar um salto quântico no Inglês, mas me fez conhecer o significado de viver com a sensação de uma temperatura de aproximadamente MENOS 40 graus!? ?

Depois que nos conhecemos, eu e a Johnna provavelmente trocamos mais ou menos 2000 e-mails por quase 2 anos, muitos cafés da manhã via Skype e viagens entre a Espanha e a Bélgica Eu me lembro que uma destas viagens paguei 5 dolares para ir e voltar com a Ryanair. 🙂 ✈️

 

Um beijão e até a próxima!

Fábio Muniz

Lyon, França

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem 01: Freepik

Demais imagens: arquivo pessoal do Colunista

 

 

 

 

 

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Uma resposta

  1. Q bonito Fabio!Queria poder um dia escrever como vc,kkkkk! Estou fazendo uma pesquisa sobre multiculturalismo para escola,e bem sobre o Canada! Dai leio sua materia, imagino as experiencias que ja viveu nessas idas e vindas!

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