Essa é a palavra que me ocorreu no momento em que quebro o silêncio, oito dias após a maior tragédia da aviação relacionada ao futebol.
É impressionante como as necessidades financeiras podem acabar superando o valor da vida. Até da própria vida.
Diante dos fatos apresentados até aqui, me parece ser esta a única explicação possível para o boliviano Miguel Quiroga, dono e piloto do avião da empresa LaMia, ter colocado – deliberadamente – a vida dele e de outras 77 pessoas em risco, ao não respeitar a mais elementar regra de segurança da aviação: ter combustível suficiente para realizar a viagem.
Fato repetido em outras oportunidades e que, por sorte, não resultou em tragédia. Mas, infelizmente, a sorte – um dia – acaba.
É impressionante como a Colômbia se revelou pós era do terror implantada pelo narcotraficante Pablo Escobar, durante duas décadas, até 1993, quando ele foi morto.
Um país solidário, que não mediu esforços para levar conforto a todos os que – neste acidente – cruzaram o caminho da morte de maneira tão prematura.
Um país recuperado, que mostrou competência para resgatar e cuidar dos sobreviventes; recuperar, identificar e realizar todos os procedimentos necessários para devolver, em tempo recorde, 71 corpos aos familiares.
Impressionante a comoção mundial gerada. As demonstrações apoio, irmandade, desprendimento que brotaram de todos os continentes.
Homenagens que – inclusive – tiveram o poder de transformar a Chapecoense em campeã da Copa Sul-Americana, através da campanha iniciada pelo Atlético Nacional da Colômbia, que seria adversário da Chape, na decisão.
Impressionante a sabedoria e a serenidade de dona Alaíde, mãe do goleiro Danilo, um dos heróis da Chape, que morreu no trágico acidente aéreo.
Passou pela angústia de ver o nome do filho entre os sobreviventes. E, depois, ter que conviver com a confirmação da morte do filho.
Mesmo assim encontrou força para confortar corações que também sofriam por outros filhos, parentes, amigos.
Levou às lágrimas jornalistas do SporTV, a mim e a muitos que a viram oferecer um abraço apertado no repórter Guido Nunes, do Sportv, que a entrevistava, mas – igualmente – lamentava a perda de companheiros de profissão que estavam no vôo da Chape.
Impressionante ainda o desperdício da oportunidade de ficar calado.
Dirigentes e jogadores do Internacional de Porto Alegre, poderiam ter ficado de boca fechada. Mas resolveram tentar embarcar de carona na tragédia, para driblar o iminente rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Atitude que não há palavras capazes de justificar.
Melhor seria o silêncio para, no mínimo, respeitar a dor e o luto das centenas de vítimas da tragédia que jamais poderão ver de novo seus maridos, filhos, parentes, brilhar num campo de futebol.