Tenho certeza que desta vez vou causar polêmica, mas não posso me calar, já imagino as expressões de espanto e de nariz torcido com o que vou contar.
Tudo começou com um comentário bem banal, alguém elogiou minha aparência…uma amiga disse que eu estava bonita.
Como você costuma reagir ao ouvir isso? Conheço gente que revira os olhos de puro prazer, tem aquelas que te olham com cara de não gostei e tem as que fingem que não ouviram…
Faço parte do último grupo mas descobri que não estou sozinha, tem muitas mulheres que não sabem lidar com elogios, ficam sem graça, sem ter como responder.
Invariavelmente respondo com um elogio ainda maior, enaltecendo as qualidades da interlocutora.
Faço parte de um grupo de mulheres asiáticas que se reunem para intercâmbio cultural, fazer novas amigas e principalmente para degustar deliciosos pratos exóticos de países distantes.
Na última vez, o passeio incluiu uma visita a um supermercado típico com direito a ser ciceroneada por uma coreana legítima que pacientemente me explicava tudo e até mostrou uma embalagem de alimento com a foto de uma famosa banda musical.
Comentei com ela que o K-Pop trouxe um novo senso estético ao mundo ocidental, de repente fomos invadidos pela música, pelas séries no Netflix com seus romances açucarados e personagens orientais.
Agora, tem gente que encontra beleza nos olhos amendoados, nos cabelos escorridos e narizes minúsculos… mas nem sempre foi assim.
Quando era criança e alguém me chamava de japonesa, o que não deveria ser uma ofensa pois meu pai era mesmo japonês, eu ficava triste, se alguém puxasse os olhos para me imitar eu me escondia num canto, se diziam “abre o olho japonesa” tinha vontade de me submeter a uma cirurgia plástica que aumentasse meus olhos.
Voltava para casa e perguntava aos meus pais se não havia uma maneira de mudar, sonhava em ser igual a todo mundo, sem chamar a atenção por ser “esquisita”.
Sabia que nunca iria me encaixar naquele padrão estético de loira, olhos azuis, alta e magra e cheguei a duvidar se alguém gostaria de mim.
Mas do alto da sabedoria, meus pais diziam para eu me preocupar com a inteligência, que eu devia focar para ser uma excelente aluna, que a beleza é efêmera, mas o conhecimento adquirido não poderia ser usurpado. Eles enfatizavam que ser bonita não era importante e foi assim que cresci, sem me importar muito com a aparência.
Na verdade, se me dissessem que era linda, imaginava que a pessoa não tinha o que falar e vinha com esse elogio automático.
Aos 12 anos de idade fiquei impactada com um livro chamado A Metamorfose, de Franz Kafka, virei a menina que dizia que o importante era a essência da pessoa, que aquele exterior repugnante da barata gigante fez com que o personagem que antes era amado pela família passasse a ser odiado.
Pronto, foi assim que cresci, feliz por enxergar as pessoas pelo que elas eram e não pela embalagem.
Agora vou voltar ao assunto do dia.…a boca fala do que o que o coração está cheio, então, ao elogiar alguém a primeira coisa que vem à mente é o reflexo dos seus próprios valores.
Então tem gente que prioriza elogios sobre o talento, a generosidade, a inteligência, a humildade, a cultura ou a espontaneidade, pode ser que sua marca registrada seja sua risada, seu abraço de urso, seu jeito de deixar todo mundo à vontade ou pode ser que para você a principal qualidade de uma pessoa seja o fato de ser linda.
Está tudo bem!
O importante é você se olhar de verdade, conhecer seus pontos fortes e fracos, aprender a se amar do jeito que você é, com autenticidade e muito amor.
É preciso entender o que te incomoda, o que é fundamental na sua vida, sem ligar para os padrões, sem querer ser outra pessoa.
Como estou hoje? Se me dizem que sou linda, eu sorrio e agradeço.
Aprendi que o que vale mesmo é ser um agente transformador, fui buscar a definição e encontrei: agentes transformadores são solucionadores criativos que podem organizar uma campanha, liderar uma causa, criar organizações que sirvam à comunidade e ser capaz de melhorar a vida de muitas pessoas. Isso sim é de uma belezura sem tamanho!
“Se quer viver uma vida feliz, amarre-se a uma meta, não às pessoas nem às coisas.
Lilian Schiavo
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Imagem: Jornal Zona Sul
Uma resposta
A borboleta é o símbolo desse agente transformador…