Fábio Muniz: A esperança de um Profeta

Bom dia meus queridos amigos!

Nestes últimos dias eu estive trabalhando em Toronto e Milton, no Canadá; e estive em Minneapolis e North Mankato, na região de Minnesota enquanto a Sophia e a Júlia me esperavam em Chicago.

Elas esperavam, esperavam, e esperavam…

Enquanto elas esperavam por mim, nós conversávamos com quase todos os dias.

Elas diziam que estavam com saudades e fazendo projetos de arte, andando de bicicleta, passeando com a mamãe, enquanto elas esperavam…

No meu último dia, elas me enviaram um quadro onde mostrava o horário do meu vôo de Minneapolis com a minha chegada em Chicago. Elas prepararam uma contagem regressiva, e eu percebi como a esperança das minhas meninas não era uma esperança passiva, mas ativa!

Contagem regressiva e quadro de chegada do meu vôo de Minneapolis para Chicago.
Criação: Júlia e Sophia

Isto posto, a esperança jamais deve ser passiva. Simples assim!

A esperança deve carregar uma ação enquanto se espera.

Ora, assim era a esperança de um profeta!

Conquanto o “ofício” do profeta nos faz viajar para as terras da Mesopotâmia e em direção das civilizações humanas mais antigas, eu quero falar sobre a esperança de um profeta segundo a cultura judaica-cristã na qual estamos mais familiarizados.

E você me pergunta: Porque?

Simplesmente porque somos filhos do Ocidente da Terra. Todos nós conhecemos, ou no mínimo, ouvimos falar dos profetas do Antigo Testamento que se encontram na Bíblia Sagrada.

De modo que Abraham J. Heschel, no seu livro “The Prophet”, nos chama a atenção para o “óbvio”:  Os profetas do Antigo Testamento não estavam lidando com as banalidades do dia a dia, mas com implicações profundas do ponto de vista social, econômico e espiritual. Eles não eram seres facilmente impressionáveis. Eles não se acuavam diante da riquezas e mordomias dos reis. Eles não eram tampouco tentados pelos manjares extravagantes dos ricos.

Veja Também  Fernando Calmon: Nissan Versa evolui a preços competitivos.

Eles eram indivíduos do aqui e agora!

Nós temos a falsa idéia de pensar que o profeta fala do futuro, é um ser “vidente”, entra em êxtase ou transe, é um ser do “além” e “para além” do imediato, mas nós nos equivocamos. Pois não é bem assim!

É verdade. As características descritas acima podem até estar presentes em algum nível e grau na vida do profeta, mas sobretudo, o profeta vê o presente e fala a partir do horizonte imediato.

O profeta vê a injustiça nas ruas. O profeta vê a falência da sociedade nas esferas mais variadas. O profeta fala contra a hipocrisia. O profeta fala da opressão dos ricos e se indigna com a falta de chão e teto dos pobres. O profeta sente o cheiro da corrupção.

O profeta vê o óbvio!

A profecia é a voz que Deus empresta a todo aquele que não tem voz. A profecia é a voz que Deus empresta a todo aquele que possui um silêncio agonizante.

Na realidade, o ouvido do profeta está absolutamente afinado para ouvir o clamor do marginalizado que se tornou imperceptível dentro de uma sociedade hipócrita e desalmada. O profeta não se impressiona com catedrais e edifícios de luxo na cidade, mas ele fala contra a farsa dos sacerdotes religiosos e condena a insensibilidade dos empresários. O profeta não busca “trânsito livre” nos planaltos e palanques políticos, mas ele profetiza contra a mentira feita em nome de “Deus”.

Ele expõe o escândalo dos orgulhosos. Ele condena a opressão do rico sobre o pobre.

O profeta ouve de Deus o óbvio, mas para ele, a sociedade se tornou surda.

A sociedade se tornou surda e não ouve nem mesmo o óbvio!

O profeta experimenta um caminho solitário, pois poucos veem o que ele vê.

O profeta ouve a voz de Deus. O profeta sente o coração de Deus!

O Deus invisível se torna audível na boca do profeta. O verdadeiro profeta vive a sã dicotomia: Na presença de Deus, ele toma partido e está ao lado do povo, pois ele clama por misericórdia e clemência. Na presença do povo, ele toma partido e está ao lado de Deus, pois ele espera que haja arrependimento e mudança de um coração de pedra para um coração de carne.

Veja Também  César Romão: Princípio da esperança.

A esperança do profeta não é que a ruína venha. A esperança do profeta não é que as suas palavras se cumpram e ele diga: “Bem feito, bem que eu disse a vocês o que aconteceria, seus cretinos!”

A esperança do profeta não é que o apocalipse caia na cabeça de tudo e de todos.

A esperança do profeta é por uma ação prática. A esperança do profeta é que os homens e mulheres enxerguem o óbvio no dia chamado hoje, no presente momento e no contexto perverso do horizonte imediato. A esperança do profeta é que haja calor humano nas esquinas das ruas frias da cidade onde a falta de compaixão e a falta de generosidade se multiplicam.

Eu espero de todo o meu coração que a esperança do profeta seja a tua esperança.

Eu espero de todo o meu coração que o olhar do profeta seja o teu olhar enquanto você dirige o teu carro, entra no metrô, conversa com gente nas ruas e no escritório, e perceba a necessidade de uma mudança que começa já.

Uma mudança que começa a partir de você! Uma mudança que começa a partir de mim!

Aliás, não é coincidência que Mahatma Gandhi tenha dito, “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.

Tenha uma boa semana.

Até a próxima!

Fábio Muniz

Chicago

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Loading

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens