Jorge Lordello: Correntista virou um terminal bancário ambulante 

Cuidado; novas modalidades de crimes violentos estão sendo criadas e têm algo muito perigoso em comum: a manutenção de pessoas como reféns.

O advento do PIX em 2020 serviu como gatilho para a volta dos crimes de sequestro em todo país. Esse tipo de delito marcou os anos 90, onde vítimas chegavam a ficar meses “encarceradas” nas mãos de quadrilhas especializadas.

O crime de extorsão mediante sequestro tornou-se um problema durante os anos 90 e agora retorna com força, inovação e parece que, desta vez, veio para ficar em razão da chamada “banalização” dos alvos, pois até pessoa de classe média baixa pode se tornar refém.

Agora, se o leitor tem boa situação financeira, linha de crédito ampla ou cargo de gerência ou diretoria de área financeira em empresa, melhor começar a pensar urgentemente em prevenção e proteção.

No dia 19.10.22, sete bandidos invadiram uma agência bancária na Avenida Edu Chaves, na Zona Norte de São Paulo, por volta das 14h. Mantiveram funcionários reféns até por volta das 17h. O mais curioso, é que os marginais não levaram dinheiro em espécie. Acredite se quiser, os criminosos obrigaram os funcionários do banco a realizar transferências bancárias num valor em torno de R$ 4 milhões. Pasmem, é o quarto caso semelhante desde dezembro de 2021. Um desses casos ocorreu em uma agência na Avenida Regente Feijó, no Jardim Anália Franco, zona leste da Capital. Os ladrões dominaram o gerente e o forçaram a usar a senha corporativa para fazer depósitos em diversas contas. O prejuízo não foi divulgado.

 

Há dois meses, outra quadrilha atacou uma agência na capital paulista e os marginais fizeram o gerente transferir, via TED, R$ 7 milhões.

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Portanto, faço um alerta para diretores e gerentes financeiros de empresas, além das famílias endinheiradas, para que reforcem, imediatamente, a segurança pessoal e patrimonial, tanto no local de trabalho como nas residências. Outro ponto de suma importância, é criar estrutura de gerenciamento de crise, caso o pior aconteça.

O leitor deve entender, que os sequestradores têm, inicialmente, 4 vantagens em relação aos reféns, quais sejam: tempo, recurso financeiro, elemento surpresa e despreparo das vítimas quanto a segurança pessoal e familiar.

A prevenção deve ser feita com base em 4 pilares:

1) Conduta do alvo em potencial

2) Conduta dos familiares

3) Conduta dos agentes de segurança

4) Equipamentos.

 

Para finalizar, é importante conhecer as 7 etapas do crime de sequestro clássico:

1) Escolha da próxima vítima

2) Levantamento de Dados e Análise de Risco

3) Atos Preparatórios: recursos humanos e materiais a serem empregados e também retaguarda jurídica, caso o plano não dê certo

4) Execução através de emboscada e retenção da vítima

5) Cativeiro

6) Negociação

7) Recebimento do resgate

8) Libertação do refém.

Nos casos que citamos, em relação a gerentes de bancos, o cativeiro é a própria agência onde o funcionário trabalha; a negociação não existe, pois, o refém, com medo de morrer, faz a transferência bancária exigida e o recebimento do dinheiro é feito de forma eletrônica, dificultando, imensamente, a ação da polícia judiciária.

Na década de 90 a Divisão Antissequestro da Polícia Civil/SP foi exitosa na prisão de praticamente todas as quadrilhas que sequestravam diretores de bancos e donos de grandes empresas.

A chave para localização e prisão dos envolvidos era a negociação demorada com a família do refém quanto ao valor a ser recebido pelos sequestradores. A polícia tinha tempo suficiente para encontrar pistas deixadas pelos negociadores.

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Mas, temos que levar em consideração que naquela época não existia o mundo digital. O meio de comunicação usado pelos marginais eram os antigos telefones públicos, os chamados “orelhões”, que não existem mais. O momento crucial para prisão de parte da quadrilha era a hora do recebimento do resgate, pois o numerário tinha que entregue em algum lugar estipulado pelos marginais.

Agora tudo mudou. A dinâmica é completamente diferente!

Nos tempos atuais, a negociação praticamente não existe mais pois a transferência do dinheiro é feita de forma digital, em segundos. Essa rapidez diminui o tempo para a investigação trabalhar. Logo em seguida à transferência do valor do resgate via PIX, os criminosos enviam o dinheiro para outras contas bancárias digitais e em poucos segundos o dinheiro desaparece como fumaça, sendo retirado em caixas 24h em qualquer lugar do Brasil.

Enquanto os sequestradores agilizaram o processo via tecnologia, a polícia judiciária, atendendo a legislação em vigor, depende de autorização judicial para fazer a rastreabilidade do dinheiro. É tempo mais que suficiente para os marginais terem a dinheirama em mãos e iniciar novo sequestro.

Muita gente ainda não se deu conta que o correntista, de posse de seu smartphone, se tornou um terminal bancário ambulante, mas sem porta giratória blindada, sem vigilantes armados ao seu lado e ausência de botão de pânico.

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Imagem 01 e 03: Canva

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