Vivian Soares: Nada é por Acaso leva reencontro de vidas passadas às telas de cinema

No Brasil, filmes religiosos possuem uma tendência muito forte ao sucesso de bilheteria, uma vez que o País tem uma tradição majoritariamente cristã; não é diferente com o subgênero dos filmes espíritas, que na maioria das vezes, encontram seu público com narrativas sobre reencarnação, mediunidade, carma, psicografia, lei de causa e efeito, dentre outros temas relacionados à vivência espiritual nessa doutrina. Não é diferente com Nada é por Acaso, baseado no romance best-seller de Zíbia Gasparetto, uma autora espírita que ficou conhecida por se valer da própria mediunidade para escrever seus livros.

Seguindo de forma parcialmente fiel a história do livro, o filme segue a história de Marina (Giovanna Lancellotti), uma jovem advogada que, mesmo fazendo uma fortuna milionária, sofre por conta de um segredo obscuro que carrega em silêncio. Do outro lado, temos Maria Eugênia (Mika Guluzian), herdeira de uma família rica, feliz, bem casada e mãe de um filho recém-nascido que é o amor de sua vida, contudo, essa felicidade é ameaçada quando um homem de seu passado ressurge para chantageá-la com uma informação que pode destruir sua família. Os caminhos das duas estão destinados a se cruzar, e ainda que não se conheçam, possuem um vínculo inseparável que nem sequer podem imaginar.

Filme ‘Nada é por Acaso’. Foto: Divulgação

Apesar de a narrativa ser repleta de conceitos espíritas, a trama nitidamente não segue um caráter doutrinário, na verdade, parece preocupada apenas em mostrar aspectos da doutrina de maneira que o público compreenda com facilidade e, diga-se de passagem, é algo que ela consegue fazer. O enredo é bastante quadrado, com todos os vértices conectados, o que faz com que não seja difícil entender as situações que cada personagem vive. Há que se fazer um destaque às atuações de cada membro do elenco, que são muito carregadas de emoção e conseguem imergir o espectador nessa atmosfera de culpa, arrependimento, perdão e finalmente, superação que o filme traz.

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Em geral, é fácil identificar que a proposta dessa produção é, além de homenagear o trabalho de Zíbia, falecida em 2018, trazer conceitos do espiritismo às telas de cinema de forma que todos consigam entender, contudo, justamente por essa premissa, falta substância no roteiro em diversos momentos; alguns personagens apresentam mediunidade, por exemplo, mas o filme deixa de explorá-la para focar no arco principal, fora que, alguns possíveis arcos são introduzidos em dado momento, mas completamente postos de lado no restante da história, um claro exemplo disso é a cena em que um dos personagens comenta ser apaixonado pela mãe de Maria Eugênia com seu terapeuta, e isso não volta mais a ser uma questão no filme. Esses aspectos vão incomodar qualquer pessoa que tenha um olhar mais técnico para o âmbito cinematográfico, podendo sim ser considerados erros imperdoáveis da produção. Todavia, é importante reconhecer que, justamente pelo êxito em transformar conceitos do espiritismo em algo facilmente entendível, ele tem uma parcela de mérito, bem como um fim em si mesmo.

Outro ponto que chama atenção é a forma como o sofrimento feminino acaba sendo muito romantizado no filme por conta do viés religioso, sempre com uma justificativa parca de fazer um bem maior a outrem para remediar todas as dores vividas, fora que o conflito principal envolvendo o passado de Marina é extremamente problemático e difícil de engolir, isso causa uma indignação complicada de transpor. Apesar desses defeitos, parece incerto dizer que o filme é ruim, ainda mais trabalhando uma temática que normalmente toca um público tão específico de forma a estendê-la a outras pessoas fora dele. As atuações são boas e o enredo equilibra tensão e drama com muita desenvoltura, sem se tornar maçante de ver.

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Dadas as observações, o filme é bom para quem quer entender como funciona a doutrina espírita sem necessidade de aprofundamento, logrando êxito em fazer com que as questões espirituais internas e externas que revolvem as personagens sejam muito descomplicadas. Ainda que não seja dos mais marcantes nesse subgênero de filmes espíritas e não chegue perto de uma produção como Nosso Lar (2010), por exemplo, consegue encontrar seu valor e pode agradar.

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Imagens: Filme ‘Nada é por Acaso’. Foto: Divulgação

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