Fui comprar uma agenda nova e descobri que não tenho maturidade suficiente para lidar com tantas opções coloridas, e, no auge da maturidade, aos 64 anos de idade, escolhi uma agenda de urso panda com seus amigos flamingos e lhamas.
Para quem não me conhece pessoalmente, tenho mania de abraçar as pessoas, mas não é um abraçinho, dizem que pareço um urso panda abraçando apertado e demoradamente, toda feliz…na verdade, penso que me imaginam rolando encosta abaixo, brincando com todos, com uma aparência risonha, divertida e pacífica, além, claro, do fato de eu ser redonda como uma panda.
Neste início de ano é preciso manter o humor, perder o medo do ridículo, se aventurar a fazer algo que deseja, mesmo que digam que não é adequado.
Tenho amigas setentonas que não se privam de colocar uma roupa de ballet e calçar sapatilhas para se apresentar num palco no meio de mulheres de todas as idades, também tem aquelas que me contam histórias hilárias que passam com os namorados, sim, o amor não tem idade e é lindo ver como elas continuam iguais à época em que eram adolescentes.
A diferença é que no lugar de dúvidas e angústias, tem realidade nua e crua, um jeito de viver sem lentes cor de rosa, com mais pé no chão, deve ser por isso que tem gente que acha que nos tornamos rabugentas com a idade, o que acontece é que deixamos de fingir que está tudo bem e resolvemos falar o que pensamos, às vezes sem censura, numa espécie de sincericídio.
Lembro do choque que levei no dia em que propus ao meu pai a compra de um lote para investimento, era um condomínio que tinha uma nova proposta de moradia, uma novidade. Ele me olhou bem firme e respondeu que àquela altura ele não queria mais assumir nenhum compromisso a longo prazo, ele era um médico que sabia a perspectiva real de uma sobrevida.
Fiquei triste, pensando na finitude da vida, pensando que ele também estava triste, mas não, ele começou a contar as alegrias das grandes e pequenas conquistas, a felicidade encontrada em coisas simples como um agradecimento sincero, explicou que apesar de não planejar mais a longo prazo, planejava cada dia ao acordar, cada semana que iniciava, cada ano que começava.
E assim estamos nós, começando tudo de novo, comprando agenda nova com esperança de anotar novos compromissos, novos projetos, novos sonhos.
Já contei que capricho na letra da primeira página? De vez em quando arrisco um rabisco, um esboço, um desenho para deixar a agenda ainda mais bonita.
É como quando éramos crianças no primeiro dia de aula. Tudo novidade…a professora, o caderno, o livro, as colegas da classe, era um tal de se apresentar, encontrar alguém para tomar o lanche com você.
Ano novo, páginas em branco para iniciar as escolhas, lembrar que toda decisão engloba uma consequência, então, bora pensar direitinho antes de decidir, pesar os prós e os contras, avaliar qual caminho escolher.
Começar de novo… tinha até uma música escrita pelo Ivan Lins que a Elis Regina cantava e dizia assim:
“Começar de novo e contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Ter me rebelado, ter me debatido
Ter me machucado, ter sobrevivido
Ter virado a mesa, ter me conhecido
Ter virado o barco, ter me socorrido”
É isso que desejo a cada uma de nós neste novo ano: coragem para recomeçar, fé para acreditar, resiliência para se reerguer, se reinventar, se sustentar, força para não desistir, determinação para prosseguir, esperança por dias melhores.
Que 2023 seja um ano próspero, justo, ético e sustentável! Que você seja muito feliz!
E na virada do ano, se despeça assim:
“Querido passado, obrigado por tudo que me ensinou… Querido futuro, pode vir!” Autoria desconhecida.
Eu estou pronta, e você(s) ?
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