Roberta de Moraes: Cidade luz

Meu olhar se concentra no concreto das ruas.

Construções balzaquianas enrugadas e enfeitadas pelo tempo.

Elas carregam em si o dialeto de todas as raças.

Patriotas e estrangeiros.

O chão está recoberto por folhas maduras. Sazonais.

Também as arvores reconhecem seu tempo de transmutar.

Às margens do rio, o burburinho dos passantes.

Bicicletas viajam livres entre carros. Apressam-se as pessoas que submergem das grutas dos trens em um frenético vai e vem.

Estou em casa.

Pequenas crianças arriscam canções. A inocência dos infantis é de doçura ímpar e me remete ao gosto bom das docerias que habitam cada esquina.

Não há pressa em mim.

Percorro com fascínio quilômetros de história, cultura e afeto.

Faz frio. O vento é dominante e assovia.

Minha alma sinestésica reconhece cada passo.

O cheiro de diesel dos carros, as vestes elegantes dos bairros privilegiados por beleza e requinte, o aroma dos pães, dos queijos, dos vinhos!

Uma grande casa a céu aberto. Refugio dos poetas das artes.

A história que conhecemos nos livros desfila em cada monumento.

Construções arquitetônicas de afagar a alma… Onde quer que eu pise um registro de conhecimento.

É impossível não maravilhar-se. Olhos vidrados na tarde alaranjada percorro a velha senhora tão bem adornada por luzes e encantamento.

Na ponte dos enamorados os cadeados sibilam com o vento.

Promessas de amor infinitas! Todas as cores, povos, histórias… todas as dores e segredos.

Paris me desliza nas veias.

Aqui, onde as arvores se despem para vestir as ruas sinto-me inteira! Plural, amplificada.

Quase sem querer me vejo refletida no espelho que pende a minha frente e sinto-me mais bonita.

Felicidade é o nome que dou a isso.

Mesmo às margens do abismo ou aos pés do desconhecido tudo está calmo.

Estou exatamente onde queria e precisava estar e este endereço eu Reconheço.

Porque ainda que haja breu nas alamedas o dia está aceso e há sol em mim.

 

 

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Imagens: Arquivo pessoal da colunista

 

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