A empatia é (im)possível?

Você já reparou quantas vezes você está passando por uma situação muito difícil, emocionalmente, e parece que ninguém te entende? Já percebeu situações onde seu mundo está desabando e as pessoas continuam vivendo suas vidas normalmente?

Você já se viu num momento muito tranquilo da sua vida e não entender por que aquela outra pessoa está tão desesperada? Já parou para conversar com alguém para contar o maior problema da sua vida e a pessoa dá uma situação rápida e simples, e você sai achando um absurdo, dizendo que ninguém te entende?

Pois bem esse é o caminho que quero conversar com vocês, sobre a impossibilidade desse conceito de EMPATIA que diz que temos que nos colocar no lugar do outro, como?

Vou partir do princípio que é impossível se colocar no lugar do outro, o mais próximo que chegamos é supor o que o outro está sentindo e só por isso já nos afastamos de nos colocar no lugar, porque a suposição parte da nossa forma enviesada de interpretar o mundo, ou seja, supor o que o outro está sentindo é expor a nós mesmo e não o outro.

Por muito tempo estudei e observei o comportamento humano através das premissas da psicanálise e compreendi com a escuto clínica que a cada momento que alguém entra pela porta do consultório você está diante de alguém único, inigualável e incomparável. E tenho mais, inclusive, o mesmo sujeito quando voltava na outra sessão já não era mais o mesmo, olha que loucura. Se cada um que entra é um sujeito único, e que esse mesmo sujeito não é o mesmo em momentos diferentes da vida, como é que eu vou saber me colocar no lugar dele? Se ele é único e eu sou único, não há duplicidade. Ou seja, não há a menor possiblidade de um ser humano saber exatamente como outro ser humano se sente, a não ser pela via equivocada da comparação. Vou dar um exemplo, encontrei um amigo que infelizmente acabou de perder o pai que faleceu, por coincidência de infarto, imediatamente dou um abraço apertado e digo:  “eu sei o que está sentindo meu amigo querido, também perdi meu pai e ele também morreu de infarto”.

Perdoem-me o exemplo fúnebre, mas nesse momento quero exagerar na emoção para que fica claro minha posição. Estou falando aqui exatamente da comparação na tentativa de me aproximar, inutilmente, do que o outro está sentindo, porque nada me garante que o sentimento é mesmo, independente das semelhanças da situação, porque somos únicos e sentimos a perder de outras pessoas que também eram únicas, onde cada um de nós viveu relações únicas e exclusivas com seus respectivos pais, e outro detalhe o meu pai que morreu nem se quer é o mesmo pai dos meus irmãos. Mesmo sendo nosso pai biológico, como cada um de nós se relacionava com ele o transformava em três pais, olha que maluquice, mas é a pura realidade da mente humana.

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O que quero dizer com tudo isso é que a EMPATIA no seu conceito que está posta em nossa sociedade, “se colocar no lugar do outro” não é possível porque nunca saberemos exatamente como o outro está se sentindo naquele momento ou situação, mesmo que ele tente de alguma forma descrever em detalhes, estará atravessado pela nossa interpretação. Não tem outra forma de vermos e convivermos com o mundo que não seja via nossa forma de enxergar as coisas. Logo torna-se uma tarefa impossível ter empatia pelo outro, nesta forma culturalmente estabelecida.

Agora é completamente e necessariamente possível respeitarmos e acolhermos esse outro, compreendendo que ele não vive a vida como nós vivemos, não enxerga e interpreta as situações como nós fazemos e que tem todo direito que sentir e se expressar como for possível ou desejado. E Se tivermos uma presença de espírito e inteligência emocional para apoiá-lo e ajudá-lo de alguma forma, dentro das nossas possibilidades será de grande valia. A EMPATIA para mim é perceber a diferença do outro e mesmo sem concordar ou entender completamente, aceitar e apoiar no que for preciso, com a intensão de contribuir para o bem-estar desse outro que por algum motivo chegou até você.

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