Aproveitando a iminente chegada aos cinemas do fantástico thriller Fragmentado (Split), nova produção escrita e dirigida pelo indiano M. Night Shyamalan, e cuja crítica você já pode conferir aqui no Portal do Andreoli, resolvi revisitar este filme que, em minha opinião (e sei que isso vai gerar polêmica), está entre os dez melhores filmes que vi em toda minha vida. Sim, isso mesmo, sei que parece exagero, mas Corpo Fechado (Unbreakable, EUA, 2000), é construído em cima de um conceito tão genialmente oculto, que quando a verdadeira natureza do filme vem à tona, a única reação do público é assistir de boca aberta.
Shyamalan, que no ano anterior já tinha deixado público e crítica estupefatos com seu excelente O Sexto Sentido (The Sixth Sense), suspense que revelou ao mundo o talento do então garotinho Haley Joel Osment (de A.I. Inteligência Artificial) e reativou o sucesso do astro Bruce Willis, Corpo Fechado (esqueçam o medíocre título nacional da produção e se atentem ao original, Unbreakable), foi lançado em cima de um hype muito grande, graças ao sucesso surpresa do filme anterior de seu jovem diretor-revelação. No entanto, o filme foi visivelmente mal-interpretado pela crítica e público na época. Shyamalan construiu um filme vagaroso, que foge do que o público de blockbusters procura. Mas o que o filme poupa no ritmo, transborda em profundidade, significado e textura.
A produção traz Bruce Willis (repetindo a parceria com Shyamalan começada em O Sexto Sentido), no papel de David Dunn, um segurança que milagrosamente sobrevive à um terrível acidente envolvendo o trem em que viajava. Para o assombro de David e sua família, ele é informado que do acidente que matou centenas de pessoas, ele é o ÚNICO sobrevivente, e ainda por cima, que não sofreu nem um arranhão sequer. Perturbado com o que lhe aconteceu, David fica ainda mais intrigado depois que o excêntrico Elijah Price (Samuel L. Jackson, fantástico) um colecionador de revistas em quadrinhos, o procura, e apresenta uma estranha, porém incrível teoria para explicar como David sobreviveu ao acidente.
Trata-se de uma produção notável. Um neo-clássico sem sombra de dúvidas. Um filme que transita entre diferentes gêneros e deixa sua marca em cada um deles, até se consolidar como uma das obras mais significativas de um gênero acostumado à personagens que voam com capas vermelhas ou que usam armaduras metálicas repletas de artifícios.
Cada detalhe do filme é trabalhado com esmero por Shyamalan, desde a fotografia em tons sombrios de Eduardo Serra (Harry Potter e as Relíquias da Morte, Diamante de Sangue), à trilha-sonora à princípio discreta do genial maestro James Newton Howard (A Vila, Conduta de Risco), que assim como o filme, revela-se grandiosa e eloquente quando necessário.
No elenco, Willis cumpre bem seu papel apenas na base do carisma, enquanto que Samuel L. Jackson constrói um dos personagens mais psicologicamente bem trabalhados do cinema. É principalmente graças à seu personagem e suas motivações, que Corpo Fechado funciona tão bem e de maneira tão implacável, revelando-se uma reluzente metáfora sobre o valor de se saber seu lugar, seu propósito no mundo. E quando os personagens de David e Elijah finalmente compreendem seu lugar/propósito, o espectador de Corpo Fechado compreende a complexidade da natureza da produção, que como poucas, faz da psique de seus protagonistas uma inteligente parábola para se falar de heróis e é claro, vilões.
Nota: Conforme comentei lá em cima, a chegada do novo filme de Shyamalan, o thriller Fragmentado, coloca um novo e inesperado holofote sobre este esquecido neo-clássico de Shyamalan. Meu convite à você é, aproveite esta nova luz sobre o filme, e embarque numa jornada cinematograficamente inesquecível.
Corpo Fechado encontra-se disponível no mercado de Home-Video e possivelmente, em Streaming em alguns catálogos.