Eduardo Kacic – Crítica: Christine (2016)

No dia 15 de julho de 1974, a jornalista norte-americana Christine Chubbuck, de apenas 29 anos de idade, tentou o suicídio com um tiro de pistola na cabeça, enquanto apresentava seu quadro em um jornal local da cidade de Sarasota, no estado da Flórida. A tentativa de suicídio de Christine foi transmitida ao vivo pela emissora, e a apresentadora e repórter morreu horas depois no hospital, por conta do disparo efetuado.

O que pode parecer o maior spoiler possível para este Christine (Reino Unido/EUA, 2016), aqui interpretada de maneira absolutamente fenomenal pela bela Rebecca Hall (Homem de Ferro 3, Atração Perigosa), é na verdade o ponto menos importante da narrativa deste novo filme do diretor Antonio Campos (dos bons suspenses dramáticos Depois da Escola e Simon Assassino). Christine é na realidade, uma produção não sobre o terrível ato cometido por Christine em si, mas sim sobre tudo o que poderia ter levado a ambiciosa jornalista a cometer tamanha atrocidade contra sua própria vida.

O sólido roteiro do estreante em longas Craig Shilowich, procura esmiuçar as circunstâncias em torno da estranha persona de Christine, uma mulher extremamente focada em seu próprio sucesso, e cujo foco aos poucos transforma-se em uma obsessão desmedida, que a isola do contato com seus companheiros de emissora, entre eles seu chefe Michael (Tracy Letts, do recente Imperium), sua câmera e melhor amiga Jean (Maria Dizzia, do drama Martha Marcy May Marlene), e principalmente, o âncora bonitão George (Michael C. Hall, o serial-killer Dexter, do seriado de mesmo nome), por quem Christine nutre uma velada paixão. O filme também aborda a turbulenta relação da protagonista com sua mãe, Peg (J. Smith-Cameron, da boa série de TV Rectify), que remete ao passado de Christine em Boston, onde um colapso nervoso fez com que a apresentadora se mudasse para a cidade de Sarasota.

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O nunca mostrado colapso nervoso de Christine á apenas a porta de entrada para a mente de um indivíduo problemático, cujos visíveis sintomas de depressão, e até de repressão sexual, terminaram por constituir uma persona extremamente confusa e insegura de suas próprias habilidades como profissional e qualidades como mulher. E interpretando esta complicadamente trágica protagonista, brilha a segura presença da sempre competente Rebecca Hall, que ainda compartilha de uma impressionante semelhança física com a verdadeira Christine Chubbuck. Uma das sequências da produção, em que a personagem participa de um jogo de perguntas e respostas à respeito de si mesma, é chocante em retratar as inúmeras incongruências da personagem, e a performance de Hall garante veracidade nua e crua à referida cena.

Mais do que apenas uma cinebiografia sobre uma polêmica figura do jornalismo norte-americano e seu destino trágico, Christine é um honesto e meticuloso estudo de personagem, valorizado por uma Rebecca Hall absolutamente impecável.

Christine ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar diretamente ao mercado de home-video e streaming.

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