O valor do sofrimento

Por que sofremos tanto? Será que a vida é isso? Quando paro para pensar e tento chegar num cálculo de tempo destinados à momentos de sofrimento e momentos de alegria, fica sempre decepcionado com o volume de tempo que passo sofrendo, ou seja, sofro de novo.

Sei que parece dramático o começo dessa história, mas não sofra antecipadamente, nem tudo é ruim no texto de hoje, até porque eu vejo muitos aprendizados e ganhos a partir do sofrimento. Claro que no momento que estamos sofrendo nada parece bom, porém muitas vezes eu encontro valor do meu sofrimento.

Certa vez, assistindo uma palestra de Mario Sergio Cortella, falando sobre felicidade ele mostra o quanto a felicidade só é percebida em nossa vida porque ela não é constante, ou seja, só nos percebemos felizes porque não somos felizes o tempo todo.

Claro que não estar feliz pode não significar imediatamente estar em sofrimento, mas a linha é tênue e o caminho fica curto para se chegar ao sofrimento. Partindo desse princípio já começo a encontrar pequenos indícios importantes do sofrimento, mesmo como antagonista da felicidade, ele acaba sendo fundamental para a percepção da mesma.

Outro ponto fundamental de reflexão sobre o sofrimento é a temporalidade, estou sofrendo no momento certo, é justo o tempo que está durando esse sofrimento? Quando penso no momento estou falando diretamente sobre a antecipação de algo que nem mesmo aconteceu, seja por ansiedade, medo ou precaução, muitas vezes antecipamos algo que talvez nem aconteça. Existem pesquisas que dizes que mais de 90% dos problemas que ocupam a nossa cabeça, nem mesmo irão acontecer. Olha que loucura o quanto criamos sofrimentos que se quer aconteceriam, mas isso fala muito sobre a realidade humana e do poder da nossa mente em criar coisas incríveis e monstros impressionantes.

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A outra questão do tempo, quando falo do tempo que o sofrimento dura, claro que estou falando de sofrimentos corriqueiros e cotidianos, nem preciso necessariamente excluir dessa perspectiva os enlutados, casos graves de saúdes terminais e tudo aquilo que infelizmente foge a ordem natural da vida e não está sob nosso controle.

Digo isso porque nem tudo passa, muitas coisas podem até amenizar (ou não) a sensação. A partir dessa perspectiva os demais sofrimentos do dia a dia devem ter uma perspectiva de tempo de duração. Vejo que ainda arrastamos por muito tempo o sofrimento, gerando desperdício de tempo e energia, além de nos distrair e roubar de coisas que realmente são importantes. É preciso definir um prazo de sofrimento para que ele acabe, de forma proposital.

Então, o que quero trazer aqui como ponto fundamental de reflexão é forma como nos relacionamos com o sofrimento, afinal, sofrer é humano e ele existe por algum motivo. O que podemos fazer é rever o seu significado e como podemos aproveitá-lo.

Claro que ninguém quer sofrer, alguns sofrem mais e outros menos. Sofremos por motivos diferentes e tem horas que nem mesmo entendemos por que estamos sofrendo. O sofrimento é uma estratégia humana de resguardo e atenção, porém muitos de nós escolhem a fuga desse sofrimento, buscando não entrar em contato, seja qual for a estratégia. O problema dessa fuga é que ela não resolve o problema e pior a intensidade da emoção vai se acumulando e em algum momento ela estoura, no momento e na forma errada.

Quando entendemos que sofrer faz parte da vida e que é importantíssimo dedicarmos um tempo para entender o que estamos sentindo e porque estamos sentindo.

Quando aceitamos o sofrer como um sentimento natural e que ele cumpre um papel em nossa vida, estabelecemos uma relação de aprendizado, respeitamos nossos ambientes e momentos e por incrível que pareça saímos dele de forma ainda mais rápida.

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Imagem: Freepik

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