Ela estava sentada bem ao meu lado e não a percebi.

Passei pelo maremoto desafiador daquele instante com a couraça da guerreira, da mulher que não se abala, que suporta e supera e segue a vida, independente dos destroços.

A mulher ativa por natureza, forte e inquebrantável por defesa, não parou para escutá-la. Virou a chave, encerrou o capítulo do livro e se desvencilhou do embate, peito em riste, mesmo que olhos tristes, finalizando a tarefa.

Não havia tempo para distrair-se. Em 15 minutos o assunto já seria outro, a demanda nova e ela precisava estar pronta. Mais uma vez…como fazemos todos, imersos e concentrados em construir caminhos sólidos, relações estáveis e metas ambiciosas.

O dia passa, as estações mudam, os filhos crescem…

Nos separamos, mudamos de carreira, de rumo, de prosa, de preocupações…Mudamos de cidade, de roupa, de canção preferida e tantas vezes a cor dos cabelos…e a criança interior que nos habita permanece ali. Paciente e silenciosa, sentada à beira de nossos precipícios…testemunha viva de vitórias e derrotas, como também detentora dos medos e receios que adquirimos ao longo dos anos e simplesmente guardamos no baú.

Ainda atribuímos fragilidade à criança interior e a abafamos. Julgamos desconfortável olhar para elas, lhes dar escuta.

Quanta inocência a nossa! Que pretensiosa é essa tal de maturidade…

É na vulnerabilidade que reside nossa verdadeira força. Como marinheiros em um mar agitado, navegamos pelas águas turbulentas da vida moderna sem percebermos a pequena embarcação da nossa infância que ainda reside em nós.

Se não aprendemos a cuidar de nossas crianças, se não reconhecemos o seu valor, corremos o risco diário de perdemos a conexão com a parte mais autêntica de nós mesmos. É a partir desta essência que emergem nossas paixões, os sonhos mais profundos e a capacidade de ver o mundo com olhos de maravilha e admiração. É nossa criança que mesmo ferida ama, que mesmo cansada sorri, que mesmo quando é noite amanhece! Que se sensibiliza com o outro, que tem fome de vida!

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E se a gente pudesse convidá-las para nos dar as mãos e sair com a gente quando a gente sai de casa para ladear o caminho?

E se a gente pudesse, por um instante, perguntar a elas o que elas desejam de nós?

Dia destes falhei com a minha mas retornei ao banco de onde ela me olhava para reparar o erro…Dar a ela a voz, da qual me apropriei e que não era minha.

Que felicidade!

Como é bom quando a gente se permite voltar um passo atrás e buscar a parte de ns que estava solta no caminho.

Experimente!

PS* Este texto não é sobre “maturidade emocional”…

Besos, meus amores!

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Arquivo pessoal da colunista

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