Homens são de Marte, mulheres são de Vênus é o nome de um livro, mas também define algumas situações que vivemos.
A história é real e aconteceu de verdade, recebi um convite para ser homenageada, e como de costume, li e reli o e-mail diversas vezes para certificar que era endereçado para mim, afinal não conhecia a idealizadora do evento e queria entender como é que me encontraram.
Quando vi a lista de homenageados, frio na barriga e borboletas no estomago, levei um susto com a lista dos premiados: pessoas públicas, políticos, empresários, todos muito renomados e conhecidos… 16 pessoas no total, sendo 14 homens e 2 mulheres.
Respirei aliviada quando vi que conhecia a outra mulher, uma advogada especialista em direito constitucional, políticas públicas e gestão governamental.
No dia marcado, lá fomos nós duas de vestido preto, arrumadas para a solenidade e aqui faço uma pausa, já ouviu falar sobre a tripla jornada da mulher? É que além do trabalho, dos cuidados com a família e tarefas domésticas, ainda temos a terceira jornada que ocorre em situações como essa.
Vamos falar a verdade, quantas de nós se preocupa com o que vestir, levar na mala de viagem, quantas de nós vai fazer as unhas antes de um evento? Aparentemente uma bobagem, futilidade pura, mas foi num congresso internacional que uma integrante da ONU Mulheres apareceu com esse discurso, uma provocação que caiu como luva nas nossas cabeças.
Ela perguntou quanto tempo gastamos com os preparativos de um congresso ou evento em que somos palestrantes.
Já viram homens preparando a mala para um congresso? Pode ser que ele use o mesmo terno, gravata e sapatos todos os dias e ninguém vai perceber…
Sou vista como uma alienígena por viajar com uma malinha de mão até quando cruzo oceanos, o normal são mulheres e suas grandes malas lotadas de roupas, sapatos e kits de beleza.
Foco!! Vamos voltar na solenidade, cada um que recebia o prêmio tinha o direito de falar e agradecer, e assim foi, um desfilar de autopromoção, cada um contando seus feitos e conquistas até que chegou nossa vez, a primeira a falar começou com o discurso “Quem sou eu na fila do pão?” Apesar de sua brilhante trajetória política ela dizia que não sabia o que estava fazendo ali, como foi que a escolheram no meio de tantas personalidades, mas então contou um pouco da sua história inspiradora e todos entenderam a sua grandeza.
E lá fui eu na sequência, confessando que em situações como essa sou acometida pela famosa síndrome da impostora e me pergunto como vim parar aqui, eu também não sabia o que estava fazendo no meio de pessoas tão importantes, olhei para a plateia e recebi de volta olhares empáticos das mulheres, elas entenderam e questionavam “cadê as outras mulheres que também deveriam estar aqui?”
O incrível foi o que ocorreu depois, os discursos mudaram de tom e todos os homens passaram a falar das mulheres, o diretor do Instituto Maurício de Souza contou que os primeiros personagens foram o Horácio e o Bidu mas quando a Mônica apareceu, ela se transformou na Dona da Rua, outro contou que chegou atrasado pois estava num evento que homenageou 40 mulheres delegadas de polícia, teve homem que falou da esposa e da filha, teve outro que com bom humor e elevada autoestima admitiu que diferente de nós ele sabia exatamente porque estava ganhando um prêmio.
O bom é que do nosso jeito conseguimos causar um incômodo, instigamos pensamentos, provocamos reflexões sobre nossa postura inquisidora e humilde, sobre a questão da equidade de gênero, sobre ocupar espaços predominantemente masculinos.
No final, constatamos que homens e mulheres são diferentes e que não há nenhum problema nisso, afinal, a questão nunca foi de homens ou mulheres, mas sim, homens e mulheres juntos para a construção de um mundo melhor, mais justo, digno e próspero.
“Talvez nós estejamos com medo de sermos tão vulneráveis. Talvez tenhamos crescido aprendendo a esconder essas emoções e permanecer quietas. Ou talvez nós não queiramos acreditar que ainda existem pessoas que pensem tão pequeno a respeito de nós mulheres. Não há limite para o que nós, como mulheres, podemos realizar.” Michelle Obama
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