Bom dia meus queridos amigos,
Quando não sabemos o que dizer, ficamos em silêncio.
Quando não entendemos o que está acontecendo, ao invés de murmurar, questionar, amaldiçoar a vida e a nossa existência, ficamos em silêncio.
Quando não compreendemos as nossas ambiguidades interiores, ficamos em silêncio.
Quando não encontramos palavras para expressar a nossa frustração, ficamos em silêncio.
Ora, poucos de nós temos o hábito de ficar em silêncio.
Poucos de nós, fomos ensinados um dos princípio que mais apazigua o nosso ser: o silêncio.
Aliás, muitos de nós que vivemos no lado ocidental do planeta, estamos acostumados com o barulho, com os megafones, com as tecnologias e produções religiosas de comunicação de massa e de movimento coletivo, desconhecemos a prece contemplativa, a prece da solitude, a prece que não carrega palavras, mas que estranha e paradoxalmente carrega incontáveis mensagens que tem o poder de nos trazer serenidade e reflexão.
Thomas Merton, um monge terapista, escritor e místico cristão dizia que “O silêncio é a linguagem de Deus, tudo o mais é uma tradução ruim.
Pois bem, as nossas palavras, expressões humanas, construções lógicas têm o poder de expressar através da nossa voz o que habita dentro do nosso ser. No entanto, todas estas construções verbais são simples e meramente uma “tradução ruim”.
Todas elas sempre serão infinitamente mais limitadas e estarão muito abaixo e aquém do que seria a forma mais pura e direta de comunicar-se com o Divino, ou seja, o silêncio.
Ora, é através do silêncio que a gente ouve o sussurrar do vento. É através do silêncio que os nossos sentidos se aguçam. É através do silêncio que somos capazes de sentir a brisa chegando no nosso rosto. É através do silêncio que percebemos o latejar do nosso coração. É através do silêncio que somos capazes de ter uma conexão inexplicável, profunda e genuína com o Divino.
Você já fechou os teus olhos hoje e sentiu o bater do teu coração? Você já teve um momento de silêncio em gratidão? Você já respirou profundamente hoje em quietude?
Ainda que eu e você possamos ter dias complexos e vivermos momentos de profunda confusão, o silêncio nos conduz para uma trilha de esperança e fé.
Meu querido amigo Luciano Manga menciona no seu livro Gotas de Amor que de acordo com Henri Nouwen, o coração da oração é ouvir a voz de Deus, que o chama de amado.
Ora, para que possamos ouvir, somos convidados a ficar em silêncio.
Talvez uma das mais belas expressões do silêncio e mais significativas esteja na natureza que nos ensina este caminho do paradoxo. É no silêncio que encontramos as palavras exatas e mais genuínas para a nossa prece.
Isto posto, eu acho fascinante e extraordinária a forma bela e poética que Eugene Peterson expressa a sua versão do lindo Salmo 19 que é extremamente conhecido na tradição judaica cristã.
Eu deixo com vocês as primeiras linhas deste lindo Salmo na versão de Eugene Peterson. “A glória de Deus viaja pelos céus, as obras de arte de Deus estão expostas no horizonte. A senhora Alvorada ministra aulas todas as manhãs, o professor Anoitecer leciona no curso noturno. Suas palavras não são ouvidas, sua voz não é gravada, mas seu silêncio enche a terra: mesmo calada, é falada em todos os lugares”.
Fábio
Collonge au Mont D’Or
