A história de um cabeleireiro em Pernambuco viralizou recentemente nas redes sociais, sobre o corte no cabelo de um jovem com síndrome de Down e Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
No vídeo, que tocou o coração de milhares de pessoas, o profissional demonstra toda a paciência e empatia necessárias para realizar algo que parece simples, mas que, para o jovem, era um grande desafio: cortar o cabelo.
Inicialmente, o rapaz sentia muito medo e desconforto reagindo de forma defensiva e se recusando a permitir que o procedimento fosse realizado. Porém, ao longo de três sessões, o cabeleireiro conseguiu estabelecer uma conexão de confiança.
Ele respeitou o tempo e os limites do jovem e permitindo que ele se adaptasse. A cada sessão, foi criando um vínculo de confiança com o jovem, até que, finalmente, conseguiu cortar seu cabelo de forma tranquila, superando as sensibilidades sensoriais.
A história chamou a atenção pela habilidade do profissional em garantir que uma pessoa com autismo se sentisse acolhida e respeitada num mundo que tem pressa e que exige que todos se encaixem num determinado padrão de comportamento.
Mas o comportamento que seria esperado de um rapaz, de sentar e cortar o cabelo tranquilamente, nem sempre é possível para pessoas com autismo devido à sensibilidade sensorial. Mas o que é essa sensibilidade sensorial?
Sensibilidade Sensorial: Compreendendo o Conceito
A sensibilidade sensorial diz respeito à maneira como cada indivíduo processa os estímulos que chegam dos seus sentidos: sons, luzes, toques, aromas e sabores. Em pessoas com TEA, esse processamento pode ser bastante particular, resultando em uma hipo ou hipersensibilidade a certos estímulos. Isso significa que um estímulo pode ser percebido de maneira exagerada ou, por outro lado, quase imperceptível, dependendo da pessoa.
Essas diferenças podem dificultar o filtro e a regulação das informações sensoriais. Isso explica por que situações que parecem simples, como cortar o cabelo, podem desencadear reações de estresse profundo, com respostas de “luta ou fuga”. Nesses momentos, crises de choro, ansiedade e irritação são comuns, principalmente quando a pessoa com TEA não consegue expressar claramente o que está sentindo.
Desafios no Cotidiano: Muito Além do Corte de Cabelo
Cortar o cabelo é apenas um dos muitos desafios que a sensibilidade sensorial pode trazer. Atividades rotineiras de autocuidado, como ir ao dentista, tomar vacinas, lavar o cabelo ou cortar as unhas, podem gerar muito desconforto e se transformar em experiências extremamente desafiadoras. Essas situações muitas vezes exigem paciência e estratégias de adaptação por parte das famílias. Enfrentar cada desafio é um processo de aprendizado para entender quais métodos ajudam a pessoa com autismo a se sentir mais confortável e segura.
Estratégias que Fazem a Diferença
Diante dessas dificuldades, muitas famílias desenvolvem maneiras de tornar o dia a dia mais tranquilo e reduzir os impactos da sensibilidade sensorial. Algumas estratégias incluem:
- Adaptação do Ambiente: Reduzir a intensidade das luzes, eliminar sons altos ou criar espaços de descanso silenciosos são medidas que fazem grande diferença para uma pessoa com autismo.
- Objetos de Conforto: Permitir que a pessoa leve consigo algo que a faça sentir segura, como uma manta, um brinquedo ou um fone de ouvido, pode ajudar muito a diminuir a ansiedade em ambientes desconhecidos ou desafiadores.
- Adaptação Gradual: Em vez de tentar realizar rapidamente a tarefa que causa desconforto, é muito mais eficiente permitir que a pessoa com autismo se acostume ao novo ambiente e aos novos estímulos. Fazer várias visitas ao local e realizar apenas uma parte da atividade de cada vez pode ajudar nessa adaptação.
Minha experiência
Meu filho quando era pequeno sentia muito desconforto ao cortar o cabelo. A solução que encontramos foi trazer uma cabeleireira que vinha até nossa casa. No início, o processo era demorado: ela cortava um pouco, ele se levantava e corria pela casa e, depois, voltava para cortar mais um pouco. Às vezes, o corte se limitava a ajustar a franja para que ele pudesse enxergar melhor.
Essa profissional, que não era especialista em autismo, mas que teve empatia e respeito absoluto pelo meu filho, chegou a cortar o cabelo dele dentro do box do banheiro, com o som do chuveiro ligado.
A empatia dela fez toda a diferença e, aos poucos, ele foi ganhando confiança e, com o passar dos anos, as sessões em casa deram lugar a visitas tranquilas ao salão.
Hoje, ele aceita cortar o cabelo em qualquer salão de cabeleireiro e adora lavar o cabelo no lavatório.
Tenha esperança caso filho ainda tem muita dificuldade sensorial. O caminho para a inclusão começa empatia e respeito.
Procure profissionais que auxiliem você nessa caminhada e lembre-se que aqui você pode se sentir sempre acolhida e à vontade para compartilhar suas dúvidas e desafios. Estou aqui para te apoiar nessa jornada.
Um beijo e até a próxima quarta-feira,
Juçara Baleki
@querotratamento
Fonte: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2024/10/19/em-video-emocionante-cabeleireiro-viraliza-ao-atender-jovem-com-down-e-autismo-apos-tres-sessoes-fui-ganhando-a-confianca-dele.ghtml