Os saudosistas devem se lembrar, dos campos de várzea, da terra batida e vermelha, da terra que impregnada nos pés, na roupa, corava as bochechas dos moleques sem chuteiras.
Meu pai Dulcidio Wanderley Boschilia, era filho único e sabia que os seus belos olhos azuis e seu charme, o permitiam ficar na rua até o final da tarde, na rua sem tanto movimento. Entre os carros de rolimãs, as pipas que cortavam o céu do Ipiranga, a bolinha de gude e o sonho de ser goleiro, ou como se dizia, “guarda metas”.
Minha avó, Dona Nair, que Deus a tenha em bom lugar, não era dada a sorrisos e sempre parecia querer tudo no seu devido lugar…Não possuía a calma necessária nem a paciência sábia, de chamar muitas e muitas e tantas vezes o “wande” na rua, no meio de outros meninos que viviam a sua verdadeira infância.
Quando foi, em que dia, em que hora, o menino de cabelos brancos, de pernas finas e coração repleto de vontades se tornou um homem…E correu para realizar seus desejos?
Quando não mais escutou o bater dos tamancos da Dona Nair, na rua Budapest e a velha senhora italiana, parou de chamar para tomar banho?
Será que as mães sabem?
No mês de Outubro as crianças abrem seus presentes, e as tantas surpresas….
Em Outubro lembramos do Rei Pelé, considerado por muitos, um gênio, muito mais que um Rei, o Menino de Três Corações, em Minas Gerais.
Filho do Seu João Ramos do Nascimento, o Dondinho e da Dona Celeste.
Muito se escreveu e correu a “boca pequena”, uma pequena idéia do que eram as mídias sociais da época, o bom e velho jornal e a prosa da manhã, com os amigos contando os “causos” do futebol, que Ronald Reagan então Presidente dos Estados Unidos teria dito, “Eu sou Ronald Reagan, Presidente dos Estados Unidos da América….Mas você não precisa se apresentar, por que o mundo já sabe quem é Pelé “.
Nelson Rodrigues célebre jornalista e escritor escreveu em uma de muitas de suas crônicas “Pelé é um gênio indubitável” e o comparou a Michelangelo, Homero e Dante Alighieri.
Carlos Drummond de Andrade escreveu “O difícil, o extraordinário não é fazer mil gols, como Pelé, mas o extraordinário é fazer um gol como o Pelé”.
Muito se escreve, mas a marca e a memória estão aí e cabe a cada um de nós preservar e contar as novas gerações a obra, o legado e arte que nos foi presenteada.
Em Outubro também nasceu um gênio e o nome dele, Manoel Francisco dos Santos, conhecido como Garrincha. Nasceu no Rio de Janeiro. Filho do Seu Amaro e da Dona Maria Carolina.
Para muitos um Rei antes do Rei. Um driblador exímio, com inegável domínio da bola, dribles estonteantes, um chute certeiro, finta, desarme e rapidez, que deixava os adversários sem ação.
Garrincha trazia no seu corpo, muitos problemas congênitos, na visão, nos joelhos, na coluna, nas pernas tortas, mas nada disso impediu de ser Garrincha, genial mestre na arte do futebol.
Problemas humanos demais, enormes e pesados para a sua fragilidade fora dos campos de futebol.
Mas dentro das quatro linhas, no gramado, diante da torcida apaixonada era um intelectual, um Rei, um arquiteto nas suas fabulosas jogadas e incomum artista da bola que encantou gerações.