Na Idade Média, o conceito de bruxa carregava conotações de medo, perigo e heresia. O termo “bruxa” era usado para rotular mulheres que, de alguma forma, fugiam ao controle da sociedade patriarcal. Bastava uma mulher demonstrar conhecimentos sobre ervas medicinais, defender a liberdade de pensamento, ou simplesmente possuir uma personalidade forte, para que fosse vista como uma ameaça. A bruxaria, para a mentalidade da época, significava o desafio aos papéis tradicionais que eram impostos às mulheres. Ser bruxa, em muitas circunstâncias, representava o poder de escolha, de cura e de conexão com a natureza — características que subvertiam o papel passivo esperado delas.
Essa repressão à figura da bruxa revela o medo das estruturas de poder de que as mulheres pudessem exercer sua própria autoridade e independência. O que poderia ter sido visto como sabedoria foi demonizado; o que era força, rotulado como ameaça. A caça às bruxas tornou-se um meio de controle social, reduzindo a liberdade feminina ao puni-la, caso ela ousasse atravessar os limites que a sociedade estabelecia. Mulheres sábias precisavam ser caladas, anuladas, extintas de uma sociedade que não reconhecia o poder do sagrado feminino que habita em todas nós independente de raça, crença, classe social ou demais rótulos e que, desde a origem dos tempos, nos separa por ” categorias”.
Hoje, ao revisitarmos a figura da bruxa, percebemos nela ( para mim, com certa clareza) uma metáfora do poder feminino, uma lembrança de como a sociedade ao longo dos séculos tentou silenciar as vozes que ecoavam a liberdade de escolha e a sabedoria própria. Mulheres que antes eram temidas e perseguidas por serem bruxas são, atualmente, admiradas por sua força, autonomia e visão.
A ” bruxa ” moderna representa o poder da mulher de traçar seu próprio caminho e de ter a coragem de viver fora das normas impostas.
O paralelo entre o conceito medieval de bruxa e o atual empoderamento feminino é nítido: ambos revelam a importância de uma liberdade que não pode ser aprisionada ou condenada. Em tempos atuais, as mulheres reapropriam-se do símbolo da bruxa como um ícone de resistência, autenticidade e força interior. Ao abraçar essa figura, reivindicam o direito de ser múltiplas, conectadas com sua própria intuição e com a natureza que a Idade Média tanto temeu. Assim, o que um dia foi visto como escuridão se transforma, agora, em uma luz que celebra a liberdade e o poder do feminino em suas diversas formas. E porque não dizer, em sua inteireza e infinitude.