Como Acolher e Incluir uma Família Atípica no Natal

Créditos: Espaço Terapêutico Cinthia França

O Natal tem um encanto especial. É aquele momento em que luzes brilham mais forte, os lares se enchem de abraços e sorrisos e o coração se aquece com a reunião de quem amamos.

Lembro da minha infância. Minha mãe ficava nos preparativos da ceia desde a antevéspera. O pernil fica horas assando por várias horas e o restante da família (todos nós) ajudávamos em algo. A celebração era todo esse ritual de cozinhar, de esperar as visitas e arrumar os presentes.

Natal é época de reunir quem amamos. Mas, para muitas famílias que convivem com o Transtorno do Espectro do Autismo não haverá Natal. Para elas os desafios de lidar com o TEA levaram ao isolamento: Algumas decidem comemorar apenas na própria casa, com uma celebração íntima. Outras, sequer celebram.

Algumas vezes o isolamento é escolhido, como forma de preservação. Outras, se isolaram por não se sentirem incluídas em eventos coletivos.

 

Desafios Ocultos do Natal para Pessoas com TEA

Decorar a árvore ou se sentar à mesa com a família pode parecer simples. Mas para uma pessoa com TEA, esses momentos podem trazer uma avalanche de estímulos. Luzes piscando, música alta, cheiros fortes, mudanças na rotina… Tudo isso pode ser demais.

Diante disto, a pessoa com autismo pode reagir de diferentes modos:

  • Flapping e outros movimentos repetitivos: Você já viu alguém balançar as mãos de forma contínua e se perguntou o porquê? Esse movimento é uma maneira de expressar emoções ou se autorregular. No Natal, com tantas novidades, o flapping pode se intensificar – e tudo bem, faz parte de quem elas são.
  • Ecolalia: Sabe aquela frase que você disse e que, de repente, a criança começa a repetir sem parar? Isso é ecolalia, e é uma forma de comunicação ou processamento. Não é algo para corrigir, mas para compreender.
  • Sensibilidade sensorial: Cheiros, cores, imagens, som, gostos de alimentos podem ser uma avalanche de estímulos que desregulam.
  • Dificuldade com a quebra da rotina: A previsibilidade é muito importante para pacientes com Autismo e as situações inesperadas de eventos coletivos pode causar ansiedade em demasia.
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Esses são apenas alguns exemplos. O ponto é que, diante de tantos desafios, muitas famílias acabam desistindo de participar de celebrações. Não porque querem, mas porque o julgamento das outras pessoas é demais para lidar.

Por não compreenderem os aspectos do Autismo, as pessoas lançam olhares ou criticam a conduta da criança e também da família.

Como Transformar o Natal em um Momento de Inclusão

Por isso, o verdadeiro espírito natalino não está nas luzes ou nos presentes. Ele está em criar espaços onde as famílias atípicas se sintam compreendidas e acolhidas.

Não precisamos de grandes esforços.  Às vezes, o que mais importa é a atitude. Aqui vão algumas sugestões práticas para anfitriões e amigos que desejam incluir pessoas com TEA e suas famílias:

  • Comunique e antecipe: Compartilhe detalhes sobre a festa com antecedência. Uma foto da casa, a lista do que será servido, o horário previsto para cada momento… Esses pequenos gestos ajudam as famílias a se prepararem.
  • Crie um ambiente acolhedor: Um espaço tranquilo, longe da música alta, pode ser o refúgio de que a pessoa com TEA precisa. Um quarto ou canto com mantas ou almofadas podem fazer toda a diferença.
  • Adapte a comida ou sugira ao convidado para trazer o que a criança gosta de comer: Muitas crianças com TEA têm seletividade alimentar. Permita que os pais tragam algo que o filho goste e sirva
  • Conscientize os convidados: Explique com delicadeza que comportamentos como flapping ou ecolalia são naturais e não devem ser encarados com estranhamento. A empatia é a chave para criar um ambiente seguro.

 

O espírito do Natal

Talvez você tenha uma amiga ou familiar que tem um filho/a com Autismo que sempre recusa seus convites. Talvez ache que ela se afastou. Ou que ela esconde o filho. A verdade pode ser outra: Talvez ela esteja apenas exausta, tentando protegê-lo de situações difíceis.

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Se você puder, neste Natal, tente convidá-la outra vez. Ofereça soluções e, acima de tudo, aceite a criança exatamente como ela é.

Se a família não puder ir, ou ficar apenas alguns minutos, entenda que, para ela, isso já é uma conquista enorme. O espírito do Natal não está nos presentes ou nas luzes, mas na capacidade de estar disponível para alguém que precisa de acolhimento e inclusão.

Para finalizar, desejo que você que é mãe atípica receba esse convite e possa comemorar seu Natal cercada de pessoas que amem seu filho/a.

Feliz Natal!

E lembre-se: aqui é um lugar para você se sentir acolhida! Me escreva sobre suas dúvidas ou compartilhe algum desafio se desejar. Será uma honra caminhar com você nessa jornada de acolhimento e amor.

Um beijo e até a próxima quarta-feira,
Juçara Baleki

@querotratamento

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