Sei que o título pode dar a impressão de que esta é uma coluna sobre moda. (Olha a polêmica)
Mas é exatamente o oposto. É sobre o que vai além da aparência, é sobre um pouco do que é essência na gente.
Já faz um tempo que me sinto uma paulistana caipira de sotaque bipolar e comecei a misturar a pronúncia do “erre” (r) em diverrrsas circunstâncias – às vezes, até na mesma frase.
Uma amiga até brincou:
– Meu (todo paulistano fala ‘meu’), até a Angel da novela da Globo, que nasceu em Ribeirão Preto (interiorrr de São Paulo), já aprendeu a falar como uma carioca nata. Você, que nasceu na Avenida Paulista, e até sua filha, a quem você deu à luz praticamente na mesma avenida, não conseguem definir esse ‘r’ nunca.
É verrrdade! Somos duas mulheres nascidas no coração da capital, paulistanas da Bela Vista, de identidade completamente esquizofrênica. Nós nascemos aqui, vivemos há mais de uma década juntas aqui, mas a infância, a adolescência e a convivência de final de semana e férias no interiorrr não deixam barato.
E o preço desse lá e cá é falar coisas que soam estranhas quando a gente não para pra pensar no que vai dizer e como vai dizer.
Por exemplo:
- “Balão” no lugar de “rotatória”;
- “Lanche” no lugar de “sanduíche” (essa vai pro amigo Mentor Neto);
- “Bolacha” no lugar de “biscoito”;
- “Filão” no lugar de “pão francês”;
- “Pingado” no lugar de “média”;
- “Pote” no lugar de “tupperware”;
- “Lugar” no lugar de “ao invés de”;
- e muitos “erres” no lugar de um “erre” só.
No meu meio profissional, já conheci muita gente que corrigiu a postura e a pronúncia. É muito estranho quando alguém não só questiona como você se veste ou se comporta, mas também como se expressa. Uma nuvenzinha começou a me seguir em todo lugar, até nos bate-papos mais informais.
Será que está certo dizer o que é certo dizer e como dizer? Tem algum caipira – do interior ou da cidade grande – aí? Vamos soltar nosso “erre”, meu!
Admito que refleti muito e fiquei bem confusa – como o meu sotaque. Pessoas como nós, parecem estar em extinção ou em stand by o tempo todo, esperando um momento para relaxarrr o verbo. Afinal, o “erre” do interiorrr proporciona as melhores confort words* que alguém pode ousar falar. Pelo menos, em junho, a gente pode ser caipira e estar na moda!
*em português, palavras confortáveis.